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VI Domingo da Páscoa

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A MESA DA PALAVRA

VI Domingo da Páscoa
Itumbiara, 25 de maio de 2025

 

“O Espírito Santo vos recordará tudo o que Eu vos disse” (Jo 14,26)

Caríssimos irmãos,

 

  1. “Deus todo-poderoso, concedei-nos viver com ardor estes dias de júbilo em honra do Senhor ressuscitado, para que sempre manifestemos com nossas obras o mistério que celebramos.”

 

Profundamente ancorada na tradição litúrgica da Igreja, é esta preciosa coleta que a nossa Mãe Igreja põe nos lábios dos sacerdotes neste VI Domingo da Páscoa. Ela recolhe elementos dos Sacramentários Leoniano (nn. 229 e 1282) e Gelasiano (n. 504), combinando-os numa belíssima e sintética súplica de sabor romano tradicional, respeitosa da clássica retórica eclesiástica. Por meio dela, a Igreja eleva a Deus fervorosa súplica, para que os fiéis presentes, tocados pelo júbilo pascal do Ressuscitado, “sempre manifestem com suas obras o mistério que celebram”.

O objeto final da súplica ganha força no alegre memorial da Ressurreição do Senhor, que, com ardor e solenidade, celebramos na Eucaristia, suplicando a Deus que as nossas obras reflitam o que cremos e celebramos. A precisão doutrinal, o zelo litúrgico e a retidão moral encontram-se na vida do discípulo que se deixa tocar pelas moções do Espírito Santo, que nosso Senhor promete enviar após Sua gloriosa Ascensão aos céus, mistério que celebraremos em poucos dias.

São Gregório Magno chama o Espírito Santo de Artista:

“De fato, [este Artista] enche um menino que tocava lira e o faz tornar-se salmista (1Sm 16,18); enche um pastor de gado que descascava figos silvestres e o faz profeta (Am 7,14); enche uma criança devotada à abstinência e faz dela juiz de anciãos; enche um pescador e o faz pregador (Mt 4,19); enche um perseguidor e o faz Doutor dos Gentios (cf. At 9,1ss); enche um cobrador de impostos e o torna evangelista (Lc 5,27-28). Que artista é esse Espírito! Tudo quanto quer, realiza sem demora. Assim que toca a mente, já instrui, e seu mero toque é já ensino. Ao mesmo tempo em que ilumina a alma humana, transforma-a; imediatamente a faz renegar o que era e ser o que não era” (Hom. 30,8).

Antes de partir para o Pai, Jesus promete aos discípulos que lhes enviará o Espírito Santo, o Espírito da Verdade. A ação de Jesus, limitada aos discípulos durante Sua vida terrena, alargar-se-á agora a dimensões universais, abrindo-se, mediante o Espírito, a toda a Igreja. É o tempo de preparação para Pentecostes: unidos a Maria Santíssima, rogamos que o Espírito Santo venha em nosso auxílio, para conhecer e amar Jesus Cristo e viver em harmonia com a vontade de Deus.

Deixemo-nos forjar pelo divino Artista também nesta santa liturgia.

 

  1. Os Apóstolos e os anciãos, irmãos vossos, saúdam os irmãos de origem pagã” (At 15,23)

 

Após a missão de Paulo e Barnabé, muitos pagãos abraçaram a fé em Jesus. Mas alguns cristãos da Judeia dirigiram-se a Antioquia e começaram a pregar que os cristãos de origem pagã, para se salvarem, deveriam antes tornar-se judeus mediante a circuncisão e, por conseguinte, cumprir todas as normas da Lei de Moisés.

Paulo e Barnabé defenderam sua obra evangelizadora, rejeitando a interferência dos judaizantes, o que causou grande agitação na Igreja de Antioquia. Decidiu-se, então, que Paulo, Barnabé e outros discípulos subissem a Jerusalém para tratarem da questão com os Apóstolos e os Anciãos. O delicado problema pastoral mereceu a atenção dos Apóstolos, os quais, após tomarem conhecimento dos fatos e orarem ao Espírito Santo, decidiram enviar emissários para comunicar, por escrito, uma resposta admirável por sua sabedoria:

O Espírito Santo e nós decidimos não vos impor mais nenhuma obrigação, além destas que são indispensáveis: abster-vos da carne imolada aos ídolos, do sangue, das carnes sufocadas e das relações imorais” (At 15,28-29).

A universalidade da salvação, já suspirada pelos antigos, inclusive pelos judeus, agora se realiza, não sem os obstáculos nascidos do preconceito. Resolvida a questão no Concílio de Jerusalém, cristãos provenientes do judaísmo e da gentilidade podem juntos louvar ao Senhor:

“Que as nações vos glorifiquem, ó Senhor, que todas as nações vos glorifiquem” (Sl 66,6).

 

III. “Um anjo mostrou-me a cidade santa descendo do céu, de junto de Deus” (Ap 21,10)

 

O livro do Apocalipse, lido durante o Tempo Pascal, conclui-se como havia iniciado: com a apresentação solene que o próprio Senhor faz de Si: Ele é o Princípio e o Fim, que veio ao mundo feito Filho de Davi, mortal, Homem entre os homens, para conduzi-los à luz do dia eterno.

Domingo passado, São João nos relatava sua mística visão do plano de Deus para a história. Hoje, o autor sagrado, mediante um impressionante caleidoscópio de imagens simbólicas, descreve-nos a preciosidade da cidade construída por Deus, cuja realização plena contemplaremos no fim dos tempos.

João narra que um anjo lhe mostrou a cidade santa descendo do céu, de junto de Deus (cf. Ap 21,10). É o cortejo nupcial da nova e eterna Aliança; é como que um regresso ao Paraíso — agora na realidade celeste — para celebrar o banquete nupcial com o fruto da Árvore da Vida.

No último capítulo do Apocalipse aparece a oração da Esposa, que suspira pelo tálamo das místicas núpcias e clama, com o Espírito Santo: “Vem”. E nós, povo da esperança, membros da Esposa, clamamos: “Amém! Vem, Senhor Jesus!”

 

  1. Se alguém me ama, guardará a minha palavra…” (Jo 14,23)

 

Tirado do capítulo 14 de São João, o Evangelho deste domingo oferece-nos um retrato espiritual implícito da Virgem Maria, quando Jesus declara: “Se alguém me ama, guardará a minha Palavra; meu Pai o amará, viremos a ele e nele faremos morada” (Jo 14,23). “Estas expressões” – dizia o Papa Bento XVI – “podem ser aplicadas ao máximo grau precisamente àquela que é a primeira e mais perfeita discípula de Jesus” (Regina Coeli, 9-V-2010).

Efetivamente, irmãos, Maria foi a primeira a observar plenamente a Palavra de seu Filho. Demonstrava, assim, que não o amava apenas pelo vínculo de sangue, mas, sobretudo, na qualidade de serva humilde, obediente e dócil ao Espírito Santo, que nela operou as maravilhas da graça e da Encarnação. Eis por que o Pai a amou, e a Trindade Beatíssima fez nela a sua morada.

Não se trata, pois, de pertencer a uma linhagem carnal, mas de guardar a Palavra do Senhor, amá-lo, ser amado pelo Pai e tornar-se morada do Deus Uno e Trino. Só o Espírito Santo revela plenamente a verdade já ensinada por Jesus. Cheios do Espírito, nosso coração dilatar-se-á até os confins da terra, para amar sempre os irmãos e proporcionar-lhes o tesouro do Reino dos Céus: a Palavra que salva, a plenitude dos dons de Deus, a paz.

Além disso, Jesus promete aos discípulos que lhes enviará o Espírito Santo, o qual os assistirá. O Espírito de Sabedoria nos ajuda, a nós discípulos, a recordar interiormente as palavras ouvidas da pregação de Jesus, mediante o Seu corpo que é a Igreja. Ele nos fará compreendê-las em profundidade (cf. Jo 14,26). Maria Santíssima, em seu coração — templo do Espírito Santo —, meditava e interpretava fielmente tudo quanto seu Filho dizia e fazia (cf. Bento XVI, ibid.).

Por isso, já antes, mas sobretudo após a Páscoa, a Mãe de Jesus tornou-se Mãe e modelo da Igreja. Esta, ao longo dos séculos, com a assistência do Espírito Santo ao seu Magistério, será sempre garantia de fidelidade ao ensinamento confiado por Jesus aos Apóstolos.

Essa assistência do Espírito Santo se dá, de modo particular, ao Bispo de Roma e àqueles que com ele estão em comunhão. Por isso, não deixaremos de oferecer ao Santo Padre nossa oração filial, para que seja fiel ao mandato de Cristo: Pasce oves meas, até que Ele venha.

E Pedro, com os demais Apóstolos, na pessoa de seus sucessores, apascentará a grei de Cristo até que as portas da Jerusalém celeste se abram para o festim do Cordeiro.

 

Ó Senhor, a paz nos deixais na hora de partir, e a vossa paz dar-nos-eis quando voltardes no fim dos tempos. A paz nos deixais neste mundo, e nos dareis a vossa paz no século futuro. A vossa paz nos deixais agora, a fim de que, nela permanecendo, possamos vencer o inimigo; dar-nos-eis a vossa paz depois, quando reinarmos sem temor de inimigos. A paz nos deixais a fim de que possamos amar-nos mutuamente; dar-nos-eis a vossa paz no céu, onde já não poderá haver contrariedades” (Agostinho, Com. in Joan., 77,3).

 

Diocese de Itumbiara
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A Diocese de Itumbiara foi criada no dia 11 de outubro de 1966, pelo Papa Paulo VI, desmembrada da Arquidiocese de Goiânia; seu território é de 21.208,9 km², população de 286.148 habitantes (IBGE 2010). A diocese conta 26 paróquias, com sede episcopal na cidade de Itumbiara-GO.

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