A MESA DA PALAVRA
V Domingo da Páscoa
Itumbiara, 18 de maio de 2025
“Nisto saberão todos que sois meus discípulos” (Jo 13,35).
Caros amigos,
Os dias de alegria pascal se multiplicam e enriquecem para nós. Estamos no ciclo das festas da nossa padroeira, Santa Rita. Em Roma, que também é nossa casa, o Papa continua a mostrar os sinais do seu amor de supremo pastor visível da Igreja Católica.
- “Amor e unidade: essas são as duas dimensões da missão que Jesus confiou a Pedro” (Leão XIV).
Hoje de manhã o Santo Padre, ao celebrar o solene início do seu Pontificado, fez notar que Deus confiou a Pedro uma missão que diz respeito à Igreja de Roma, mas também à Igreja presente no mundo inteiro. A missão do Papa diz respeito também a nós, católicos de Itumbiara. Em primeiro lugar, me empenha a mim pessoalmente como membro do Colégio episcopal que só pode exercer o ministério pastoral se estiver em efetiva comunhão com o Santo Padre e os demais bispos. Mas nos compromete a todos a rezar pelo Papa e a acolher o seu Magistério que nos garante a fidelidade ao depósito da fé.
Ele dizia: “Amor e unidade: estas são as duas dimensões da missão que Jesus confiou a Pedro” (Homilia, 18-V-2025).
Em seguida o Santo Padre, pensando em Pedro, mas também em sua nova missão, se pergunta: “Como pode Pedro levar adiante essa tarefa?”. Refletindo sobre o Evangelho lá proclamado ele tecia a seguinte consideração: “o Evangelho nos diz que isso só é possível porque ele experimentou na própria vida o amor infinito e incondicional de Deus, mesmo na hora do fracasso e da negação. Por isso, quando Jesus se dirige a Pedro, o Evangelho usa o verbo grego ἀgaπάω, que se refere ao amor que Deus tem por nós, à sua entrega sem reservas nem cálculos, diferente do usado na resposta de Pedro (φιλέω), que descreve o amor de amizade que cultivamos entre nós.
“Quando Jesus pergunta a Pedro – «Simão, filho de João, tu me amas?» (Jo 21, 16) – refere-se ao amor do Pai. É como se Jesus lhe dissesse: só se tiveres conhecido e experimentado este amor de Deus, que nunca falha, poderás apascentar as minhas ovelhas; só no amor de Deus Pai poderás amar os teus irmãos com «algo mais», isto é, oferecendo a vida por eles”.
A este ponto Papa Leão alarga o horizonte da missão do Príncipe dos Apóstolos: a Pedro é confiada a tarefa “de «amar mais» e dar a sua vida pelo rebanho”. E o Papa prossegue: “O ministério de Pedro é marcado precisamente por este amor oblativo, porque a Igreja de Roma preside na caridade e a sua verdadeira autoridade é a caridade de Cristo. Não se trata nunca de capturar os outros com a prepotência, com a propaganda religiosa ou com os meios do poder, mas trata-se sempre e apenas de amar como o fez Jesus”.
No dizer do próprio apóstolo Pedro, Cristo é «a pedra que vós, os construtores, desprezastes e que se transformou em pedra angular» (At 4, 11). “E se a pedra é Cristo, Pedro deve apascentar o rebanho sem nunca ceder à tentação de ser um líder solitário ou um chefe colocado acima dos outros, tornando-se dominador das pessoas que lhe foram confiadas (cf. 1 Pe 5, 3); pelo contrário, é-lhe pedido que sirva a fé dos irmãos, caminhando com eles: todos nós, com efeito, somos «pedras vivas» (1 Pe 2, 5), chamados pelo nosso Batismo a construir o edifício de Deus na comunhão fraterna, na harmonia do Espírito, na convivência das diversidades”. Aqui o Santo Padre oferece a referência a uma importante afirmação de Santo Agostinho: «A Igreja é constituída por todos aqueles que mantêm a concórdia com os irmãos e que amam o próximo» (Sermão 359, 9).
Com esta frase de Santo Agostinho abre-se-nos o horizonte para entendemos o alcance do Evangelho desta nossa liturgia. Comecemos pela primeira leitura, que fala da comunhão e da necessária unidade, que confere credibilidade ao apostolado.
- “Contaram à Igreja tudo o que Deus fizera com eles” (cf. At 14,27).
Na perícope dos Atos hoje proclamada, pudemos ouvir um relato bastante significativo do ponto de vista da compreensão da comunhão na Igreja nascente. Enviados em missão evangelizadora pela comunidade de Antioquia da Síria, Paulo e Barnabé realizaram uma grande viagem com o objetivo de anunciar a Boa-Nova e implantar novas igrejas. No relato de Lucas, acompanhamos a conclusão da primeira viagem missionária e o regresso de Paulo e Barnabé à igreja de Antioquia. Ao chegar a Antioquia, relataram o que haviam feito e o que o Senhor realizou por meio deles. Não nos esqueçamos de que Pedro, antes de ir para Roma, ocupou como primeiro pastor, a Sé de Antioquia, referência para o apostolado de Paulo e Barnabé. Na viagem de regresso, eles não deixaram de evangelizar. Visitaram comunidades anteriormente fundadas e organizaram nelas a vida da Igreja nascente.
Na pregação dos Apóstolos é fácil ver que as estruturas humanas precárias, mínimas, são, contudo, necessárias e vão servindo de suporte à extraordinária ação do Espírito Santo. Assim também nós devemos hoje usar os recursos humanos necessários, mas confiando que a eficácia da obra evangelizadora depende da ação fecunda do Espírito Santo. Por isso a prestação de contas sobre a evangelização é também um ato de reconhecimento do amor de Deus e um hino de louvor ao Espírito Santo, alma da Igreja.
O costume de apresentar relatórios à comunidade a quo permanece na Igreja atual como um sinal de comunhão no serviço missionário: nós bispos fazemos cada cinco anos a visita ad limina Apostolorum, precedida de relatórios anuais sobre “o estado das almas”. Assim a Sé de Roma pode orientar-nos e o Santo Padre pode rezar por nós conhecendo pouco a pouco nossas alegrias e esperanças, como também as nossas preocupações pastorais mais urgentes. As tribulações, como nos lembra a Palavra, são inevitáveis.
Para nós hoje, sempre que possível, é importante videre Petrum, ir a Roma ver a Pedro, que hoje se chama Leão. Pedro hoje fala pela boca de Leão XIV. É bom alimentarmos a nossa fé e olharmos com amor para o ministério petrino confiando na presença atuante do Espírito Santo na Santa Igreja. Aqui em nossas terras, é bom sinalizar para os que não podem viajar tão longe, é sempre bom sinalizar que quem permanecer unido a esta Cátedra de Itumbiara, permanecerá fiel à Cátedra de Pedro. A Sé de Itumbiara estará sempre unida à de Pedro.
III. “Deus enxugará todas as lagrimas dos seus olhos” (Apc 21,4)
A nossa experiência de comunhão na Igreja peregrina é muito favorecida pela contemplação do mistério da Igreja celeste, tal como no-la revela o Apocalipse. A liturgia celeste alimenta a esperança da Igreja peregrina e a sustenta no caminho. A leitura muito resumida deste livro, como o Lecionário aqui se vê obrigado a apresentá-la, faz que tenhamos de saltar hoje quase para o fim do mesmo livro.
Depois de ter falado do livro dos sete selos, onde se encontra escrito o projeto de Deus para a história, São João descreve o quebrar progressivo dos selos por Jesus-Cordeiro e a consequente possibilidade de descobrir esse plano divino. Hoje, ele nos apresenta a visão do que acontecerá no final dos tempos, no fim do curso histórico da Igreja peregrina. Para podermos entender o que nos diz, é preciso ter presente que o mar é símbolo da residência das forças do mal e que a terra representa tudo aquilo que constitui a vida humana, com as suas vicissitudes.
A passagem que hoje ouvimos descreve a vida da Igreja na glória celeste, depois da dolorosa experiência da vida na terra. A Igreja resplandecerá como mundo novo, aquele que Jesus inaugurou já na Ressurreição, e só então será de maneira definitiva a nova Jerusalém. “Ecclesia semper fluctibus agitata, et semper victrix”, escrevia Santo Afonso debaixo do desenho de uma nau atormentada pelas fortes vagas. A nau é a Igreja sempre atribulada na história, e sempre vencedora. “Em Cristo somos mais que vencedores” (Rm 8,37).
Finalmente, no termo da história, quando vier em glória, o Senhor enxugará nossas lágrimas e renovará todas as coisas. Haverá então novos céus e nova terra.
- “Nisto saberão todos que sois meus discípulos: se vos amardes uns aos outros” (Jo 13,35).
Voltemos às palavras do Santo Padre, sobre unidade e amor na missão de Pedro, e na nossa vida eclesial. É preciso acolher o mandamento novo deixado por Jesus como sinal distintivo de que somos seus discípulos. Pedro deve amar a sua Igreja de Roma, mas também a Igreja católica presente no mundo inteiro. E o faz ocupando-se da unidade de todas as igrejas, de todas as dioceses e eparquias, mas também da unidade dos cristãos que não estão em plena comunhão com o Papa.
As palavras de Jesus que ouvimos são ditas durante a última ceia, depois do significativo gesto do lava-pés e do anúncio da traição de Judas. Elas têm um claro sabor de “testamento”, de manifestação da última vontade. O Senhor nos apresenta portanto o fundamental da nossa fé e da nossa relação com Ele, da nossa vida nova….
A vida nova, que é a do povo de Deus nascido da Páscoa do Senhor, tem também uma lei nova, que é a lei do amor. Se todo o mistério pascal de Jesus, nosso Salvador, é fruto do amor de Deus para com os homens, e não há maior prova de amor do que dar a vida por quem se ama, é bem normal que a Igreja, nascida da Cruz do Senhor tenha como lei suprema a lei do amor. Todos os demais preceitos e ensinamentos não podem ser senão expressão concretizada dessa lei.
E a medida do amor é a dimensão do amor de Cristo, não a nossa. O Papa lembrava os dois verbos: ἀgaπάω e φιλέω, referentes respectivamente ao amor sobrenatural e amor de amizade. A Pedro Deus pede não apenas a amizade, mas também a caritas. A nós aqui diante do altar, o Senhor Jesus nos pede um amor apaixonado por Ele e pelos irmãos.
Por isso hoje vamos guardar uma frase de Santo Agostinho citada esta manhã pelo Vigário de Cristo na Basílica de São Pedro: «A Igreja é constituída por todos aqueles que mantêm a concórdia com os irmãos e que amam o próximo» (Sermão 359, 9).
Não nos esqueçamos disso, poia “no ocaso da vida seremos julgados quanto ao amor” (São João da Cruz).
A Virgem Mãe nos acompanhe no nosso caminho e nos auxilie para sermos fieis.
Louvado seja nosso Senhor Jesus Cristo!