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A Mesa da Palavra – Missa do Crisma

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A MESA DA PALAVRA
Dom José Aparecido Gonçalves de Almeida
Missa do Crisma
Quinta-feira Santa, 28 de março de 2024

“Os Padres: fiéis ministros de Cristo Sumo Sacerdote”

Caríssimos irmãos,

I. “Jesus (…) fez de nós um reino, sacerdotes para seu Deus e Pai…” (Ap. 1,6)

Nesta querida Igreja Catedral, mãe de todas as igrejas da diocese, comemoramos o dia natalício do nosso sacerdócio ministerial. O nosso pensamento volta àquele momento em que o Bispo nos integrou no sacerdócio de Jesus Cristo, para sermos “consagrados na verdade” (Jo 17,19). Ele nos consagrou para sempre ao Senhor e, em força desta consagração, nos tornou aptos para servir os homens a partir de Deus e em vista dEle.

No prefácio da missa de hoje, a Igreja louva o seu Senhor pela missão daqueles que Ele chama ao sacerdócio ministerial. Por admirável desígnio celeste, aprouve a nosso Senhor Jesus Cristo enriquecer a Igreja com um sacerdócio régio, do qual nos tornamos todos partícipes pelo Batismo. Com superna bondade, o mesmo Senhor escolhe homens que passam a participar do seu ministério sagrado. Os Bispos e os Presbíteros, sacerdotes da nova Aliança, não substituem a Cristo, mas renovam o sacrifício redentor, preparam a mesa do Banquete Pascal, repartem o entre os fiéis o pão da Palavra e lhes oferecem a graça salutar dos sacramentos (cf M.R., Prefácio da Missa do Crisma).

Hoje, diante do Bispo e da sinaxe reunida pela força da Palavra proclamada, os Presbíteros renovam os compromissos da sua ordenação de modo a serem “fiéis ministros de Cristo, sumo sacerdote”.

Nesta Liturgia tão especial, serão abençoados os santos óleos e será consagrado o Santo Crisma. Com o Óleo dos Catecúmenos são ungidos na fortaleza os que serão batizados. Com o Óleo dos Enfermos são ungidos os doentes, para lhes dar a consolação de Deus e a esperança da vida eterna. O Santo Crisma, perfumado com o bom perfume de Cristo, é empregado no Batismo, na Crisma, nas Ordenações presbiteral e episcopal, bem como na Dedicação dos altares e das igrejas.

Caros irmãos, nos muitos sacerdotes santos da história da Igreja, também no nosso Brasil, na nossa história pessoal, vemos algumas características comuns que nos inspiram e nos impelem ao desejo de emulá-los. No Cura de Ars, patrono dos párocos, a Igreja nos apresenta um sacerdote exemplar pelo zelo pastoral, pela oblação de si, pelo amor aos pobres, pela sua comunhão com Deus em favor das ovelhas do pusillus grex de Cristo a ele confiado. Nos sacerdotes que se entregam completamente ao Senhor, a unção sacerdotal age soberana e arrasta multidões a seguir a Cristo de perto em todos os estados de vida.

Na liturgia de hoje, irmãos, tudo fala de unção. Mas em que consiste esta unção? Seria o tom afetado de algumas pregações pretensamente inspiradas?

Não! Em primeiro lugar, unção significa abundância dos dons divinos, efusão do Espirito Santo, consagração, lenimento. Estes são os efeitos espirituais dos sacramentos que empregam os santos óleos. Da oração coleta às leituras, da bênção dos óleos ao prefácio do dia, tudo evoca o tema da unção. Da unção messiânica de Jesus às sucessivas unções sacramentais que recebemos ao longo da nossa vida cristã, tudo fala daquela salvação que a generosidade dos sacerdotes não cessa de distribuir in nomine et in persona Christi.

II. “O Espírito do Senhor está sobre mim…” (Is 61,1)

Aqui, repito irmãos, tudo fala de unção, tudo fala de consagração.
Iniciamos com uma súplica ardente na coleta de nova redação: “Ó Deus, que ungistes o vosso Filho com o Espírito Santo e o constituístes Cristo e Senhor, concedei que, participando da sua consagração, sejamos no mundo testemunhas da redenção que ele nos trouxe”. O Pai ungiu o Verbo de Deus humanado com o Espírito Santo (cf At 2,33-36). Em virtude da nossa participação nessa unção, pedimos ao Pai que nos torne cristos no Cristo, ungidos no Ungido, testemunhas credíveis da redenção.

Na primeira leitura o hagiógrafo, não sem inspiração profética, nos diz: “O Espirito do Senhor Deus está sobre mim, porque o Senhor me ungiu”. Sim! Ungiu. Ungiu e enviou para a grande missão que Jesus vai proclamar como sendo Sua na sinagoga de Nazaré, conforme lemos no Evangelho desta Santa Missa. Para inaugurar a Sua missão pública, Jesus proclama a profecia que enumera sinais da missão messiânica de libertação do povo. Ao fechar o livro, sentou-se e disse: “Hoje se cumpriu esta passagem da Escritura que acabastes de ouvir”. Assim também nós padres poderíamos dizer em cada missa, logo após a proclamação do Evangelho: “Irmãos, hoje, aqui, nesta comunidade, nesta mesa sagrada se cumpre esta passagem da Escritura”.

A profecia de Isaías diz ainda que esta unção é dada para “reservar e dar aos que sofrem em Sião uma coroa em vez de cinza, o óleo da alegria em vez de aflição”. E prossegue proclamando aos que sofrem em Sião: “Vós sois os sacerdotes do Senhor, chamados ministros de nosso Deus”. Proclama a unção do povo sacerdotal do primeiro Israel, que se cumprirá plenamente no novo Israel mediante a redenção operada por Jesus no mistério pascal.

Caros irmãos padres: também aqui, a Palavra de Deus e os textos Eucológicos, tudo nos fala daquela unção que nos configura a Cristo, o Ungido por antonomásia. Com a unção do Espirito Santo, o Pai constituiu Cristo, Seu Filho, Pontífice da nova Aliança e quis que o único sacerdócio de Cristo fosse perpetuado na Igreja, no sacerdócio comum dos fiéis e no sacerdócio ministerial dos sagrados pastores.

Antes do Batismo, fomos ungidos com o Óleo dos Catecúmenos, de modo que, recebendo a sabedoria e as virtudes divinas, compreendêssemos mais profundamente o Evangelho e nos tornássemos dignos da adoção filial, preparando-nos de perto para a regeneração no seio da Santa Igreja. Logo após o lavacro de regeneração, fomos ungidos com o Santo Crisma, consagrados como membros de um sacerdócio régio e de uma nação santa. Ainda na iniciação cristã, na Confirmação fomos assinalados na fronte com o Santo Crisma; fomos configurados mais perfeitamente a Cristo com os dons derramados pelo Espírito Santo no início da pregação apostólica.

Mas naquele dia inesquecível da nossa ordenação presbiteral, logo após a imposição das mãos do nosso Bispo e a invocação do Espírito Santo, fomos paramentados e tivemos nossas pobres mãos ungidas. Ungidas para oferecer o Santo Sacrifício do altar, ungidas para perdoar os pecados, ungidas para abençoar e consagrar as pessoas e os instrumentos da nossa comum vocação à santidade e ao apostolado. Mãos ungidas, mãos consagradas!

O sacerdote fiel unge então a vida dos irmãos com o óleo da alegria. Se dos irmãos recebe o cheiro das ovelhas, ele, por sua vez, deixa na vida das ovelhas o suave e bom odor de Cristo, significado no bálsamo do santo Myrón. Com as mãos ungidas e bem unidos ao próprio Bispo, os Presbíteros renovam o Santo Sacrifício, preparam a mesa pascal para os irmãos e os servem com a riqueza da Palavra e a santidade dos Sacramentos. Ungidos com este óleo de alegria, os padres são chamados por Deus a se conformar à imagem do Bom Pastor, a ser na comunidade o pai dos pobres e generoso despenseiro dos dons celestes ao povo de Deus.

Meus diletos irmãos padres, permitam-me dizer algo sobre uma unção que me toca de perto e cujos frutos os senhores saboreiam pela comunhão comigo, seu Bispo. No dia memorável da ordenação episcopal, após a imposição das mãos pelos bispos ordenantes e a oração consecratória com o Evangeliário aberto sobre a cabeça, fui de novo ungido com o Santo Crisma, mas agora sobre a cabeça. Com esta unção senti que os meus pensamentos ficavam consagrados ao único bem necessário no meu novo ministério: a missão de sucessor dos apóstolos, missão de paternidade espiritual, de unidade, de testemunho.

Mas esta unção não cancela as anteriores. Os bispos, da vocação presbiteral conservamos as mãos ungidas que abençoam e perdoam. Da originária vocação diaconal, conservamos unção espiritual que abre o nosso coração e as nossas mãos para o serviço dos pobres. E com o povo santo de Deus, compartilhamos a força das unções da iniciação cristã que nos tornaram membros de um povo sacerdotal. Antes mesmo de sermos pastores, somos filhos da Igreja. Nessas sucessivas unções há motivos de sobra para nos desdobrarmos na luta para sermos santos e apóstolos, para sermos discípulos missionários até o fim da nossa vida terrena.

E quando, caros irmãos sacerdotes, se aproximar o dia da nossa passagem para a casa do Pai, haverá uma última unção. Serão a Unção dos Enfermos e o Santo Viático a abrir para nós as portas da Jerusalém celeste, lá onde somos esperados pelo Sumo e Eterno Sacerdote, nosso Senhor e Irmão Jesus Cristo.

III. “Quereis viver mais intimamente unidos a Cristo?”

Nesta celebração, diletos irmãos, temos a ocasião de abençoar e consagrar os óleos com os quais o nosso ministério derrama alegria e consolação sobre todo o povo de Deus. Mas temos também a singular oportunidade de renovar o perfume, o bom odor de Cristo que nos foi comunicado em cada unção de nossa vida. Aqui renovamos diante do povo de Deus e do Altar as promessas feitas no dia feliz de nossa entrega a Deus. Nessa renovação voltamos à fonte, bebemos da cisterna de águas cristalinas com que nos saciamos.

Daqui a pouco os sacerdotes serão interrogados: «Quereis viver mais intimamente unidos a Cristo e configurar-vos com Ele, renunciando a vós mesmos e permanecendo fiéis aos compromissos que, por amor de Cristo e da sua Igreja, aceitastes alegremente no dia da vossa Ordenação Sacerdotal?». Esta pergunta, logo após a homilia, será dirigida singularmente a cada um de vós e a mim mesmo. E aqui, no segredo do nosso coração, podemos e devemos nos perguntar como a nossa unção sacerdotal atua na realidade da nossa vida? Somos realmente homens que atuam a partir de Deus e em comunhão com Jesus Cristo? Que posso eu doar ao Senhor e, por Ele, aos outros? Ou mais concretamente ainda: Como se deve realizar a minha configuração a Cristo, que não domina mas serve, que nada toma mas dá tudo?

Movidos por estas reflexões que surgem espontâneas, elevemos preces sinceras pela nossa conversão amorosa ao Bom Pastor. Roguemos ao Senhor que nos dê a coragem necessária para celebrar santamente os santos mistérios, que sejamos fiéis dispensadores da graça de Deus, sem caprichos pessoais ou criatividades desvairadas. Peçamos ao Senhor a graça de cuidar da santidade do culto que a fidelidade aos tesouros da Igreja exige. Supliquemos a Deus a graça de viver pobremente, de ser enriquecidos pela alegria de não precisar de tantas coisas supérfluas e de rejeitar tudo o que nos distrai de Deus. Peçamos a graça da liberdade interior, a graça de saber usar os bens que passam de tal modo que alcancemos os que não passam. Peçamos a conscienciosa transparência e retidão na gestão dos bens da comunidade eclesial: são dons vinculados à sacralidade do altar.

IV. “Cristo fez-se obediente até à morte e morte de Cruz …”

Nesta celebração, renovemos o sincero propósito de obediência. Cristo fez-se obediente até à morte e morte de Cruz … A salvação foi e continua a ser operada pela obediência de Cristo, obediência que o Padre e o Bispo assumem em primeira pessoa, na pessoa de Cristo. Nós sabemos bem que a força da nossa unção apostólica e santificadora atinge sua plena eficácia no seio da comunhão eclesial, na obediência comum que todos devemos a Cristo no seio da Igreja. Por isso, irmãos, é preciso nos perguntarmos, diante do Senhor e com toda a honestidade, se é possível considerar a eventual desobediência como um caminho pastoral autêntico. Por ventura há nela algum sinal daquela configuração a Cristo que é o pressuposto para toda a verdadeira renovação da Igreja? Ou, pelo contrário, não seria apenas expressão do desejo de ganhar alguma efêmera relevância nas redes sociais? Ou ainda quem sabe fruto da pretensão de construir uma igreja segundo os projetos pessoais ou de grupos ideológicos?

Queridos irmãos padres, a nossa obediência é profunda e radicalmente libertadora. Ela nos liberta de vontades e caprichos incompatíveis com a nossa condição. Ela nos liberta dos gostos pessoais que se tornam obstáculo para a agilidade requerida pela nossa missão pastoral.

Mas acima de tudo, irmãos, cuidemos de viver na unidade.

Como é bem sabido por todos, este ano é ano de eleições municipais. E, neste contexto, gostaria de lhes pedir a máxima atenção no sentido de sermos aquilo que somos: fautores de unidade e embaixadores da paz de Cristo. Não pregamos a nós memos. Pregamos a Cristo, e Cristo crucificado. Os nossos pareceres pessoais sobre matérias opináveis, devemos reservá-los à nossa reflexão e prudente atuação no campo das escolhas políticas e sociais. No nosso ministério, especialmente no munus docendi, na pregação, teremos o cuidado de haurir os conteúdos da Palavra de Deus retamente interpretada pelo Magistério eclesial, em particular na Doutrina social da Igreja.

Lembremo-nos das palavras do Senhor: “Omne regnum divisum contra se desolabitur, et omnis civitas vel domus divisa contra se non stabit” – “Todo reino internamente dividido ficará em ruínas, e toda cidade ou casa internamente dividida não se manterá [de pé]” (Mt 12,25). Cuidemos com zelo do precioso tesouro da unidade. A história da Igreja é repleta de sofrimentos por causa das rupturas da unidade. Não nos deixemos dividir por querelas ideológicas, por visões de mundo contrárias ao Depósito da Fé. Nossa vocação de pastores exige o abandono de todo clericalismo que nos faz abusar da autoridade sacerdotal para apoiar projetos temporais. É próprio da vocação dos fiéis leigos assumir legitimamente funções e posturas políticas para santificar a partir de dentro as realidades temporais, a ágora da cidade dos homens. Quanto a nós, se formos sacerdotes ungidos com o óleo da alegria, se formos fiéis às exigências do nosso múnus pastoral, somente assim serviremos melhor a sociedade em que vivemos e a Igreja de Cristo.

Aos irmãos e irmãs no batismo que acorreram a esta celebração e aos que nos acompanham de longe, peço que não deixem de rezar por mim e pelos padres, pastores da comunidade diocesana de Itumbiara.

Da minha parte, queridos irmãos, desde o dia 2 de setembro, quando vim morar em Itumbiara, mas sobretudo após a tomada de posse, minha oração pessoal se tornou oração pela nossa família diocesana. Se é grande a responsabilidade de governar uma comunidade diocesana como a de Itumbiara, não é menor a serenidade e a paz que experimento cada dia por contar com um presbitério unido, generoso, e tão entregue à missão. Tenham a certeza de que cada um dos senhores padres e diáconos está diariamente na minha oração, juntamente com o povo que juntos pastoreamos em nome de Cristo.

Peço-lhes aos senhores padres e diáconos, aos fiéis desta querida porção do povo de Deus, que não se esqueçam de rezar por mim, de perdoar as falhas de minha fragilidade e de se unirem a mim na oferta dos sacrifícios quotidianos que apresentamos no nosso altar.

*  *  *
E a vós, Senhor da messe e pastor do Rebanho, rogo que acendais nos corações dos jovens aquele ardor que os torna capazes de responder com prontidão à vossa chamada.

Conservai, Senhor, o brilho jubiloso nos olhos dos sacerdotes e diáconos, ministros do altar, para se consumarem no serviço do vosso povo fiel. Conservai nos sacerdotes mais jovens a alegria da entrega e o ardor do primeiro amor. Dai-lhes também a canície espiritual e a graça de buscar na oração, na contemplação a maturidade do serviço ministerial.
Confirmai, Senhor Jesus, a alegria sacerdotal dos padres que se encontram no pleno vigor da maturidade ministerial. Concedei-lhes, Senhor, a profundidade e a sabedoria espiritual que os anos da nossa entrega sugerem. Saibam orar sempre como Neemias: a alegria do Senhor é a minha força (cf. Ne 8, 10).

Lembrai-vos também, Senhor Jesus, dos sacerdotes de veneranda idade, que têm consumado sua vida a serviço da nossa Igreja. Fazei brilhar a paz no rosto marcado pelo tempo dos queridos sacerdotes idosos. Quer estejam em plena saúde ou debilitados pela enfermidade, sintam eles a alegria e a confiança nas Vossas promessas, confiança naquela esperança que não decepciona. Saibam-se amados pela Igreja e benquistos pelo seu Bispo.
Acolhei o nosso querido irmão, Dom Antônio Fernando Brochini na Liturgia celeste. Acolhei, enfim, ó Bom Pastor de nossas almas, a oração desta Igreja de Itumbiara, vosso pusillus grex, pelo descanso eterno dos diáconos, padres e bispos que partiram desta vida depois de terem servido com grande ardor missionário esta nossa Igreja particular.

E vós, Virgem Mãe de Deus e da Igreja, guardai sob a vossa proteção a nós ministros sagrados e a todo o povo fiel destas amáveis terras do sul goiano, que a vós se consagram.

Louvado seja nosso Senhor Jesus Cristo.

Diocese de Itumbiara
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A Diocese de Itumbiara foi criada no dia 11 de outubro de 1966, pelo Papa Paulo VI, desmembrada da Arquidiocese de Goiânia; seu território é de 21.208,9 km², população de 286.148 habitantes (IBGE 2010). A diocese conta 26 paróquias, com sede episcopal na cidade de Itumbiara-GO.

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