A MESA DA PALAVRA
Dom José Aparecido Gonçalves de Almeida
II Domingo do Advento – B
10 de dezembro de 2023
PREPARAI OS CAMINHOS DO SENHOR!
Caros amigos,
“A vinda do Filho de Deus à terra é um acontecimento tão grandioso, que Deus quis prepará-lo durante séculos. Ritos e sacrifícios, figuras e símbolos da «primeira Aliança» (cf. Heb 9, 15), tudo Deus faz convergir para Cristo. Anuncia-O pela boca dos profetas que se sucedem em Israel” (Catecismo, 522). São promessas de um Deus que não se engana nem engana. Ele cumpre sempre suas promessas.
Ao celebrar em cada ano a Liturgia do Advento, a Igreja atualiza a expectativa do Messias, preanunciada logo após a queda dos primeiros pais (cf. Gen 3,15). Comungando na longa preparação da primeira vinda do Salvador na humildade da nossa carne humana, nós renovamos o ardente desejo da sua segunda vinda, cercado de majestade e esplendor (cf. Ap 22, 17). Em cada missa, logo após a consagração, dizemos Maranathá! Vem, Senhor Jesus!
A Liturgia do Domingo passado, já nos convidava a uma solerte vigilância. De fato, na sua ascensão ao céu, o Senhor nos confiou a sua Casa – a sua Igreja com os seus bens espirituais – e no seu Advento glorioso, ele nos pedirá contas da missão confiada a cada um no seio da comunidade cristã e nas realidades temporais em que vivemos com homens e mulheres de todas as condições.
Neste segundo Domingo do Advento, a mesa da Palavra continua a nos alimenta com a esperança do pleno cumprimento das profecias messiânicas. Exorta-nos, ao mesmo tempo, a preparar os caminhos do Senhor que vem, incitando-nos a reconhecer nas demoras de Deus a manifestação paterna de Sua paciente misericórdia. Ele nos dá tempo, para que alcancemos a eternidade feliz. Tempo é misericórdia com a qual podemos contar, mas da qual não nos cabe abusar.
A Primeira Leitura (Is 40,1-5.9-11), tomada do chamado “Segundo Isaías”, dá à Palavra de Deus uma tonalidade comovedora ao anunciar aos Israelitas provados por décadas de amargo exílio na Babilônia que finalmente chegou o tempo da libertação: “Consolai o meu povo, consolai-o – diz o vosso Deus –. Falai ao coração de Jerusalém e dizei em alta voz que sua servidão acabou e a expiação das culpas foi cumprida” (40,1-2). É isto que o Senhor quer também para nós neste tempo do Advento: falar ao coração do Seu Povo e, por seu intermédio, animar a humanidade inteira (cf. Bento XVI, Angelus, 7-XII-2008). A Sua Igreja, a nossa Igreja hoje também eleva a voz clamando: “Preparai no deserto o caminho do Senhor, aplainai na solidão a estrada de nosso Deus” (Is 40,3). Ele vem como pastor que apascenta o seu rebanho, com seu braço reúne os cordeirinhos e guia cuidadosamente as ovelhas que amamentam (cf. Is 40,10-11).
Na sequência destas profecias, Marcos abre o seu Evangelho indicando em João Batista aquele que cumpre esta promessa de aplainar os caminhos do Senhor e endireitar no deserto as suas veredas, “pregando o batismo de conversão para o perdão dos pecados” (Mc 1,4). João prepara os caminhos da missão messiânica de Jesus, que batiza com o Espirito Santo e, “como um pastor, apascenta o rebanho, reúne com a força dos braços, os cordeiros e carrega-os ao colo” (Is 40,11). Se por Isaías Deus promete a volta à terra prometida onde Ele mesmo apascenta o Seu povo, no Evangelho, Jesus inaugura uma nova humanidade, que faz elevar os olhos para a Jerusalém do alto, onde ele foi preparar-nos uma morada definitiva.
Nesse meio tempo a Igreja nos ensina a olhar para a imensa multidão de homens e nações que estão oprimidas pela fome e pela miséria, pelas incontáveis vítimas de sistemáticas violações dos próprios direitos. “A Igreja se coloca como sentinela sobre o monte elevado da fé e anuncia: «Aqui está o vosso Deus! O Senhor Deus vem com fortaleza» (Is 40,9-10)” (Bento XVI, Ibid.). É Jesus, o Deus Salvador, Aquele que vem! E vem dizendo: “levantai os vossos olhos e vede os campos, porque já estão brancos para a ceifa. O que ceifa recebe o salário e ajunta fruto para a vida eterna; assim o semeador e o ceifador juntamente se regozijarão” (Jo 4,35).
Na segunda leitura (2 Pd 3,8-14), São Pedro procura consolar os cristãos que não viam chegar aquele Senhor a quem suplicavam “Maranatá – Vem, Senhor Jesus!”. Passavam os dias, vinham as perseguições, o Senhor parecia tardar para retornar em glória (cf At 1,11). Parecia que as promessas não se cumpririam. São Pedro, porém, os conforta asseverando que “o Senhor não retarda a cumprir a promessa, ainda que alguns a considerem lenta, mas é paciente convosco, pois não quer que ninguém se perca” (2 Pd 3,9).
Neste domingo ao Igreja ainda nos exorta com as palavras de Pedro: “O que nós esperamos, de acordo com a sua promessa, são novos céus e nova terra, onde habitará a justiça. Vivendo nessa esperança, esforçai-vos para que ele vos encontre numa vida pura e sem mancha, e em paz” (1 Pd 3,13-14).
Todas as profecias referentes ao Advento do Senhor nos revelam ainda que nos «últimos tempos» o Espírito do Senhor será derramado para renovar o coração dos homens, imprimindo-lhes uma lei nova; reunirá e reconciliará numa só família os povos dispersos e divididos pelo pecado. A primeira criação, ferida pela falta dos primeiros pais, será transformada no mistério pascal do Senhor e o próprio Deus habitará com os homens, na paz.
Confiemos à intercessão da Virgem Maria a nossa esperança de paz e de salvação e digamos com fervor: Vem, Senhor Jesus! Maranatha!