quinta-feira, 21 novembro de 2024 ás 3:33 PM
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Homilia: Missa por ocasião do início do ministério pastoral em Itumbiara

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Caros amigos,

Assim gosto de começar, reconhecendo os amigos que já estão há muito em minha vida pessoal e sacerdotal. Assim me dirijo também àqueles que o Senhor da Messe e Pastor do Rebanho confia à minha solicitude e que passam a ser minha mais próxima família espiritual. Por esta razão, houvemos por bem empregar hoje os textos da nova tradução do Missal, rezando a Missa pela Igreja local, com as leituras do dia Pentecostes.

Prezados irmãos, a primeira saudação litúrgica do Bispo celebrante, ao iniciar a Santa Sinaxe, é: “A paz esteja convosco!”. Cristo é a nossa Paz! É Ele o Príncipe da Paz, o Senhor da Igreja. Por Sua entrega nos encontramos aqui, unidos numa só família.

Aqui, nesta nossa Jerusalém, neste nosso tão especial Pentecostes, como outrora (cf. At 2, 1ss.), somos muitos irmãos, provenientes de vários lugares, de origens tão distintas. Aqui viemos para escutarmos o anúncio das maravilhas do Senhor, cada qual na própria língua.

O renovado milagre de Pentecostes nos dá o sublime dom das línguas, dom místico que consente a comunhão na unidade da Trindade, pela comunicação da “doutrina dos apóstolos”. Somos família, somos casa de Deus, somos a Igreja convocada pelo Espírito Santo. constituímos um só corpo e um só espírito quando nos reunimos para a “fração do Pão” e a “oração”. E da abundância da graça que nos move os corações, podemos olhar com amor pelos pobres de dentro e de fora das nossas comunidades. Que Deus seja louvado hoje e sempre. Que Seu nome seja glorificado pelo Batismo que nos tornou participantes da Sua natureza.

Queridos amigos, hoje rezo suplicando ao Senhor: “concedei benigno à vossa família permanecer unida ao seu pastor…” (Coleta). E, ainda mais, concedei-me, Senhor, nesse novo serviço eclesial, ser instrumento e sinal visível de unidade. Pela ação do Espírito Santo, nos tornaremos cada vez mais instrumentos da presença de Cristo (cf. Coleta).

Alguns sinais desta celebração carregam – como deve ser – o seu significado e nos mostram como o Senhor costuma atuar.

I. Ao entrar nesta Catedral, beijando a Cruz e aspergindo o povo com a água benta, descobrimos a fonte de todas as graças. Lembro-me de um canto litúrgico que assim diz: “Jorra uma fonte de graças do teu sacrifício na Cruz, ó Senhor”. Sim. É lá na Cruz gloriosa que buscamos a fonte de todas as graças. E encontramos.

Mas onde a encontramos a santa Cruz?

O Senhor não se esconde. Às vezes, a nossa visão espiritual fica obscurecida pelas trevas do nosso pecado ou por graça do bom Deus, para que O invoquemos com perseverança. Mas encontramos a Santa Cruz onde quer que haja um sofrimento, uma dor, uma urgência, de caráter pessoal ou social. Lembremo-nos das palavras duras de Jesus a Pedro, quando o Apóstolo quis afastar Jesus da Cruz: “Afasta-te de mim, satanás, (…) porque não pensas como Deus mas como os homens” (Mt 16. 23). É passando pela Cruz que encontramos o Ressuscitado e podemos tocar as suas chagas que nos curam das mais profundas feridas.
A bondade do Senhor nos propicia encontros de salvação sempre que lho suplicamos.

Na pia batismal recebemos a copiosa redenção; somos lavados com o lavacro redentor; somos regenerados e inseridos no corpo de Cristo, tornamo-nos feitos membros da Igreja peregrina nesta terra; Igreja peregrina que necessita quotidia-namente do Pão dos Anjos, do Pão vivo descido dos Céus (cf Jo 6, 51).

Contudo, se nos sobrevier a fragilidade, o pecado, a Igreja nos proporciona a renovada redenção pela Reconciliação, sacramento da alegria pascal como vemos no Evangelho há pouco proclamado. O envio dos discípulos em missão é acompanhado de um sinal muito significativo: “Soprou sobre eles e disse: ‘Recebei o Espirito Santo. A quem perdoardes os pecados, eles lhes serão perdoados, a quem não os perdoardes, eles lhes serão retidos” (Jo 20, 22-23).

Não nos esqueçamos, porém, do Sacramento do Altar.

Em cada Eucaristia se rompe a barreira do tempo e nos tornamos contemporâneos da Cruz, da Ceia. Continuava o mencionado canto litúrgico falando do sacrifício da Cruz: “Que é renovado na missa, Lembrança perpétua da morte de um Deus salvador”.
Na Eucaristia, mais que lembrança, celebramos o memorial perpétuo de um Deus salvador, de um Deus que não resistiu a morar no ventre puríssimo de uma criatura sublime (cf. Te Deum). Nem se aborrece de estar no meio de nós, dentro de nós, para nos fazer novas criaturas.

Na Mesa Sagrada o Senhor Jesus Cristo está presente, se oferece e se recebe (cf CIC can. 897 e fontes) . Pela Santíssima Eucaristia a Igreja continuamente vive e cresce. Sem a Eucaristia quotidianamente celebrada “digne, attente ac devote”, a Igreja fenece, morre por dentro. O Corpo de Cristo se converte numa estrutura social sem vida, sem alma. Uma igreja assim não reconhece as vocações que Deus não se cansa de mandar. Não frutifica em santidade de vida, em apostolado, em vida missionária.

Não sem razão a Igreja ainda nos ensina que “o Sacrifício Eucarístico, memorial da morte e ressurreição do Senhor, em que se perpetua através dos séculos o Sacrifício da Cruz, é o cume e a fonte de todo o culto e da vida cristã”. O Concílio Vaticano II nos ensina ainda que é pela mesma Eucaristia “se significa e se realiza a unidade do povo de Deus e se completa a edificação do Corpo de Cristo”.

Aqui me dirijo aos irmãos sacerdotes, rogando-lhes não poupem esforços para oferecer aos fieis o sustento quotidiano da mesa eucarística. Está em nossas mãos, mas não é propriedade nossa. É bem comum de todo o povo de Deus. Na Eucaristia se sustenta a vocação comum de todos os fiéis a serem santos e apóstolos nas mais variadas realidades e circunstâncias da nossa vida.

Este primeiro sinal significado na Statio, meus irmãos, é uma convocação a entrar com solene adoração no santo dos santos, na vida eucarística, que forja a Igreja, que nos congrega na unidade. Aqui se entende a razão pela qual o ensinamento do Concílio Vaticano II recolhido no Catecismo da Igreja Católica:

“A Igreja é sacramento de salvação porque “Cristo está sempre presente em sua Igreja, sobretudo nas ações litúrgicas. Presente está no sacrifício da missa, tanto na pessoa do ministro, pois ‘aquele que agora oferece pelo ministério dos sacerdotes é o mesmo que outrora se ofereceu na cruz’, quanto sobretudo sob as espécies eucarísticas. Presente está por sua força nos sacramentos, a tal ponto que, quando alguém batiza, é Cristo mesmo que batiza” (CEC, 1088).

II. “E Jesus … depois de se ter sentado … tomando a palavra os ensinava” (Mt 5, 1-2)
O segundo sinal que desejo ressaltar, irmãos caríssimos, pode ter quase passado despercebido.

Ao chegar ao Presbitério, o novo Bispo apresenta ao clero e ao povo de Deus as letras pontifícias e se assenta na Cátedra. Este é o sinal do início do seu ministério, a ocupação da Cátedra, a partir da qual exerce especialmente do ministério da Palavra. Da Cátedra o Pastor vai nutrir a grei de Cristo com os tesouros da Palavra. Não ensina nada de seu. Está unido ao Santo Padre e a “todos os que guardam a fé recebida dos Apóstolos” (Cânon Romano) para transmitir aquilo que recebeu (cf. I Cor 11,23). Ensinamentos que nos fazem caminhar em novidade de vida.

Vejamos como este gesto litúrgico de sentar-se na Cátedra recorda uma belíssima página do Evangelho segundo Mateus: “E Jesus, vendo a multidão, subiu a um monte e depois de se ter sentado, aproximaram-se dele os seus discípulos. E tomando a palavra os ensinava dizendo: Bem-aventurados…” (Mt, 5, 1ss).

Como Jesus, o Bispo deve ter o olhar sempre voltado para a multidão, ver a multidão. O profeta Amós dizia: “Eis que virão dias, – oráculo do Senhor DEUS –, em que enviarei fome à terra. Não fome de pão nem sede de água, mas de ouvir as palavras (ou “a palavra”) do SENHOR. Caminharão vacilantes de mar a mar, do norte até ao leste caminharão, buscando a palavra do SENHOR, mas não a encontrarão” (Am 8, 1ss). Há uma multidão sequiosa como terra deserta e sem água. E não nos é consentido ignorar tão profunda sede e fome. Somos anunciadores.

Mas é preciso “subir a um monte”. Vista a multidão, o Senhor sobe a um monte. É o lugar do encontro com o Pai, Não é suficiente ver a multidão. É preciso buscar o rosto do Pai. “Vultum tuum, Domine, requiram” (Sl 26, 8). O Papa Francisco, nos disse aos bispos do Centro-Oeste em 2020: “A tarefa mais importante do Bispo é a oração”. De fato precisamos nos encontrar com o Senhor no monte para ficarmos cheios do Espírito Santo e da Palavra que salva.

Na ordenação diaconal o Evangelho foi entregue em nossas mãos. Na ordenação episcopal, foi aberto sobre as nossas cabeças, enquanto se rezava a oração consecratória. A evangelização eficaz é fruto da vida de oração do Bispo, dos padres e diáconos, enfim de todos os batizados.

E tomando a palavra os ensinava dizendo: Bem-aventurados…

A propósito da desejada alegria, permitam-me dizer em voz alta, em confidência, o que costumo dizer à minha alma. “Você deve abrir as Escrituras e levar aos irmãos o Evangelho com toda a simplicidade. É importante que não anuncie uma teoria sobre a Sagrada Escritura, mas que sempre a deixe falar: assim como ela é, assim como nos foi dada pela Igreja pelo poder do Espirito Santo.

Irmãos, sei que desta cátedra devo anunciar Aquele que encontramos sempre lá no tabernáculo e nas Escrituras: aquele Jesus inteiro, vivo, autêntico. Nunca uma caricatura dEle. E peço a graça de ser fiel a este anúncio, mesmo quando for árduo e exigir fortaleza. E o fruto da fidelidade à Palavra é a Alegria do Evangelho, a Bem-Aventurança.

III. Governar a Igreja na comunhão. O uso litúrgico do báculo pastoral é sinal que remete à missão de pastorear. Se com ele se mantêm unidas as ovelhas para que não se dispersem, é preciso que o amor do bom pastor se manifeste com dois tesouros inseparáveis da fé católica: a verdade e a caridade. A simples unidade não é suficiente. Um rebanho unido que caminhasse sem a Verdade e a Caridade, caminharia para a perdição. Na Eucaristia haurimos a força do amor do Senhor, na mesa da Palavra a força da Verdade.

É importante ressaltar, irmãos, que o governo pastoral de uma Igreja não pode nascer de voluntarismos pelagianos nem de ideologias gnósticas. Deve brotar da experiência profunda das mesas da Palavra e da Eucaristia. A fidelidade a estas duas mesas é a única garantia de que a guia pastoral será feita sob a ação do Espirito Santo. Por isso, o discernimento pastoral será sempre verificado à luz da Palavra de Deus e da graça da Eucaristia.

Sim, instrumentos importantes de governo pastoral como o são os planos pastorais, a organização administrativa, a organização de eventos e atividades evangelizadoras só têm eficácia pastoral se discernidas em comunhão.

Não tenho projetos pessoais para a nossa Igreja peregrina em Itumbiara. Vim para perscrutar a Palavra, ouvir a comunidade fiel e discernir em comunhão. Sim, a responsabilidade pastoral, em última análise, fica sempre nas mãos do Pastor da diocese, mas nunca sem antes ouvir atentamente o que o “Espírito fala à Igreja”.

Irmãos caríssimos, uma última coisa suplico a Deus e aos corações generosos desta Igreja: não nos esqueçamos dos prediletos de Jesus: os pobres e sofredores, das periferias geográficas e existenciais. No ocaso da vida seremos julgados quanto ao amor pelos pobres e sofredores (Mt 25,31-46).

Santa Rita de Cássia há de nos socorrer com sua poderosa intercessão. Ela mesma que se valeu da consoladora presença de Nossa Senhora. Que a Senhora dos mil títulos nos acompanhe e ajude nesse trecho de caminho que o Senhor nos consentir percorrer juntos.
Louvado seja nosso Senhor Jesus Cristo!

 

 

Diocese de Itumbiara
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A Diocese de Itumbiara foi criada no dia 11 de outubro de 1966, pelo Papa Paulo VI, desmembrada da Arquidiocese de Goiânia; seu território é de 21.208,9 km², população de 286.148 habitantes (IBGE 2010). A diocese conta 26 paróquias, com sede episcopal na cidade de Itumbiara-GO.

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