A MESA DA PALAVRA
Missa de Clausura da Solenidade de Santa Rita de Cássia
Padroeira da Catedral, da Cidade e da Diocese de Itumbiara
Itumbiara, 22 de maio de 2025
“Santa Rita: as exigências de clareza, de testemunho e de coragem de sua vocação”
Caríssimos irmãos devotos de Santa Rita,
- “Concedei-nos, Senhor, a Sabedoria da Cruz e a fortaleza de ânimo… de Santa Rita” (Coleta).
Ao iniciarmos esta Santa Missa, por meio da oração coleta, nós pedimos ao Bom Deus, que nos concedesse a “sabedoria da Cruz e a fortaleza de ânimo”.
Esta sabedoria pedida a Deus foi concedida, juntamente com o sinal do espinho, à Santa que desde a infância sempre quis ser entregue à vontade de Deus. A fortaleza de ânimo se mostrou também na coragem com que superou obstáculos no matrimônio e na vida conventual. Do bom perfume de Cristo – que foi obediente até à morte e morte de Cruz – Deus quis enriquecer a Santa mediante a mística experiência do espinho. Assim, passando pela paixão do Senhor, Santa Rita se uniu mais intimamente ao Senhor no banquete pascal do Cordeiro.
A sabedoria pedida e obtida se expressa na prática da prudência. A primeira leitura nos ensina a importância das virtudes que Santa Rita procurou ensinar aos filhos, que depois foram levados por Deus antes que caíssem no pecado da vingança. Eis o que nos diz a Palavra: “O conselho te guardará e a prudência te preservará, para que sejas livre do mau caminho e da pessoa que diz perversidades” (Prov 2,11-12).
É a mesma palavra de Deus que nos ensina a suplicar o dom da sabedoria e a ver os seus frutos: Deus sempre atende, sempre concede o que lhe pedimos em conformidade com a sua Santíssima vontade: “se suplicares a inteligência e pedires em voz alta a prudência (…) então compreenderás o temor do Senhor, e alcançarás o conhecimento de Deus” (Prov 2, 3.5).
No caminho que percorremos para alcançar esta sabedoria há exigências ascéticas indeclináveis. A busca deve ser feita com o mesmo esforço e avidez com que os gananciosos se empenham em amealhar bens materiais. Só o alcançarás, diz a palavra de Deus, “se andares à sua procura como ao dinheiro, e te lançares ao seu encalço como a um tesouro” (Prov 2,4).
Ponhamo-nos no encalço da sabedoria, que é dom do Espírito Santo e que reflete a luz do próprio Verbo de Deus feito homem. A sabedoria desejada pelos cristãos é a que se chama sapientia crucis.
- “Eu sou a videira verdadeira e vós sois os ramos” (Jo 15,8).
Neste Santo Evangelho, o Senhor nos convoca a amar como ele mesmo nos amou. “Como meu Pai me amou, assim também eu vos amei. Permanecei no meu amor” (Jo 15,9).
Santa Rita uniu-se ao Senhor como um ramo à videira, impregnou-se do Seu amor redentor até ao ponto de rogar a graça de participar na sua sagrada Paixão, para corredimir com ele. Ela se fez oblação viva. Ela sempre desejou permanecer nEle e, pela sua obediência ao Senhor, por sua docilidade à vontade de Deus, inclusive através da submissão à vontade paterna, ela foi sendo forjada pelo Senhor no caminho da sabedoria da Cruz.
Já no casamento acolhido por obediência ao pai, ela conseguiu de Deus a conversão do marido. Paulo Ferdinando era um homem violento, infiel e cheio de vícios, que se envolveu com facções políticas de sua época, trazendo muito sofrimento para o lar de Rita. Ela, movida por seu amor e confiança em Deus, não deixou de ter esperança na conversão do marido e, por isso, rezou instantemente e deu exemplo de verdadeira santidade.
Foram a mansidão e perseverança de Santa Rita que alcançaram de Deus a transformação de Paulo. Graças à oração da esposa, ele foi convertido, tornando-se um homem mais dócil e um bom esposo. No entanto, as atitudes passadas de Paulo haviam deixado rixas com alguns grupos da cidade, o que culminou em seu assassinato. Pouco depois morreram os filhos que teriam desejado vingar o pai.
Muitas foram as tribulações. Foi tomada por louca. Suas irmãs de hábito chamavam-na “Rita, a imunda”, pelo odor exalado pela chaga do espinho. Foi incompreendida por muitos, mas “conquistou” o favor do Senhor, a sua graça, encontrando nEle o verdadeiro Esposo. E permaneceu com Ele no conúbio espiritual que levou Rita a ser reconhecida santa pela Igreja e a ser amada pelos fiéis do mundo inteiro bem antes de ser canonizada por Leão XIII.
Após o trânsito para o céu, sua fama se espalhou; sua reputação de santa dos impossíveis foi decantada pelo povo de Deus, que logo passou a recorrer à sua intercessão. E as graças e milagres concedidos em profusão pelo céu confirmaram cada vez mais a sua fama.
III. Os símbolos de Santa Rita.
- Todas as pessoas que procuram a intercessão da Santa de Cássia, ao participarem das novenas e celebrações em sua honra, contam com o belíssimo sinal das rosas de Santa Rita. A Rosa é o símbolo por excelência de Santa Rita. Quando estava já agonizante, a uma prima que tinha vindo de Roccaporena para visitá-la, Santa Rita pediu que lhe trouxesse dois figos e uma rosa do jardim da casa paterna. Era inverno e a prima, inicialmente, não levou a sério o pedido, considerando-o fruto de delírio febril da enferma. Porém. de volta a Rocaporena a prima de Rita encontra na neve uma rosa e dois figos. Cheia de admiração, recolhe os figos e a rosa e retorna imediatamente a Cássia para levá-los a Rita.
Como a rosa, Santa Rita exala na Igreja e nas almas o bom perfume de Cristo. Com a sua caridade ardente, ela continua a aquecer o gélido inverno que assola os corações de muitos. O milagre visível da rosa, testemunha o milagre invisível da graça no coração.
- Outro símbolo característico de Santa Rita são as abelhas. Cinco dias após seu nascimento, enquanto a pequena Rita descansava num berço, no jardim da casa da família, algumas abelhas começaram a entrar e sair de sua boca, sem picá-la. Um agricultor que estava trabalhando na colheita em um campo próximo, faz um corte profundo na mão com uma foice. Perdendo muito sangue, ele saiu apressadamente do trabalho para procurar ajuda. Ao passar pela pequena Rita, ele percebeu as abelhas zumbindo ao redor do rosto dela e as mandou embora, abanando a mão ferida. Ao afastar a mão, ele percebe admirado que está curada.
A Igreja sempre viu nas abelhas como símbolo de operosidade e de eficiência social. Assim as obras sociais das Agostinianas ficam receberam o nome de “Alveário de Santa Rita”.
- A videira. No convento que guarda o corpo incorrupto de nossa Santa, há ainda uma videira que remete o nosso olhar para o Evangelho de hoje e para a íntima união de nossa Santa à vontade de Deus.
No casamento e na vida consagrada, Santa Rita encontrou e superou muitos obstáculos, inclusive a rejeição das próprias irmãs. Mas as irmãs, reconhecendo os sinais de Deus, acabaram por acolher Santa Rita, ainda que com a desconfiança de algumas.
Reza a tradição que, quando Rita era noviça, a superiora lhe pediu que regasse uma planta seca no jardim, por obediência. Rita fez isso humildemente, dia após dia, tirando água do poço que existe até hoje ao lado da videira. Assim a planta ganhou nova vida e passou a ser admirada dentro do mosteiro.
- O espinho é o sinal mais místico e interior da santidade de Rita. Após o doloroso luto pela morte do marido e dos filhos, já dentro dos muros do Mosteiro, Rita eleva a sua dor aos sofrimentos de Cristo pela humanidade: pede ao Senhor e obtém, como penhor de amor, tornar-se ainda mais participante do Seu sofrimento. Não é possível saber o que aconteceu naquele momento: uma luz, um clarão, um espinho desprendendo-se do Crucifixo se cravou para sempre em sua testa e em sua alma. O espinho provocou-lhe um estigma fétido e doloroso.
Os estigmas são o sinal de um amor verdadeiro que dá a vida livremente até ao fim pelos amigos e inimigos, pelos próximos e pelos distantes. O espinho aparece, portanto, como um sinal do amor sacrificial, que ela viveu e que a fez pedir para participar mais intimamente da Paixão do Senhor para corredimir o mundo com ele.
Os devotos de Santa Rita, podem, pela sua mortificação interior e exterior, imitá-la e, como ela, unir-se cada vez mais ao Senhor e à Sua Cruz para participar mais ativamente da redenção da humanidade e pelo restabelecimento da paz no mundo.
- A aliança e o rosário constituem outro símbolo importante da fidelidade ao amor para com Deus. São sinais de docilidade à vontade do pai, para cumprir a vontade do Pai do céu, tanto no casamento como depois na vida religiosa.
Dentro da cela de Rita, no quarto em que acolheram a nossa Santa no antigo Mosteiro, ainda hoje se podem ver a aliança de casamento e o rosário de por ela usados. O rosário é muito semelhante em número de contas ao que vemos pintado nas mãos da Santa na iconografia mais antiga.
A coroa – assim chamavam o rosário com suas contas – enfatiza seu amor filial à Mãe de Deus e a sua luta por imitar as virtudes da Santa Mãe de Deus. Chama a atenção para a vida de oração da nossa Santa Padroeira, que devemos imitar com afinco e dedicação generosa ao cumprimento da vontade de Deus.
- “Assim brilhe a vossa luz diante dos homens” (Mt5, 16).
Caros irmãos, ao encerrarmos os festejos de nossa amada padroeira, rogo a Deus que abençoe profusamente esta querida cidade de Itumbiara, que ainda é em nossos corações de Santa Rita do Paranaíba. Rogo que abençoe a nossa paroquia da Catedral e a nossa Diocese, todas as paróquias e comunidades consagradas a Santa Rita. A todos os devotos de Santa Rita, aos itumbiarenses, especialmente às mulheres desta terra tão querida, deixo como mensagem final as palavras de São João Paulo II escritas sobre ela em 1982:
“A lição da Santa — convém precisar — concentra-se nestes elementos típicos de espiritualidade: a oferta do perdão e a aceitação do sofrimento, não já por uma forma de passiva resignação ou como fruto de feminina fragilidade, mas em virtude daquele amor por Cristo, que precisamente no recordado episódio da coroação sofreu, com as outras humilhações, uma atroz paródia da sua realeza. (…)
“Realmente Rita é ao mesmo tempo a “mulher forte” e “a virgem prudente”, de que nos fala a Sagrada Escritura (Prov 31,10 ss.; Mt 25,1 ss.), que em todos os estados de vida indica, e não já por palavras, qual seja a via autêntica para a santidade como fiel seguimento de Cristo até à cruz. Por isto a todos os seus devotos, espalhados por todas as partes do mundo, desejei repropor a sua meiga e sofredora figura com os votos de que, nela inspirando-se, queiram corresponder — cada um no estado de vida que lhe é próprio — à vocação cristã nas suas exigências de clareza, de testemunho e de coragem: sic luceat lux vestra coram hominibus – Assim brilhe a vossa luz diante dos homens (Mt 5, 16)” (Mensagem de 1982).
Louvado seja nosso Senhor Jesus Cristo.