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IV Domingo da Páscoa

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A MESA DA PALAVRA

IV Domingo da Páscoa
Itumbiara, 11 de maio de 2025

Domingo do Bom Pastor

Apascenta as minhas ovelhas” (Jo 20,17)

Caríssimos irmãos,

  1. “Pedro, tu me amas mais do que estes?”

11            Nestes últimos dias aconteceram muitas coisas que nos tomaram de surpresa, proporcionando primeiro um tempo de luto e agora um momento de profunda alegria. Por alguns dias nos sentimos órfãos. Com a ausência do pai da família, veio o encontro de irmãos – alguns irmãos nossos que têm a especial missão de aconselhar o Papa e eleger um novo Papa quando a Sé de Roma se torna vacante.

Reunidos em congregação geral, os senhores cardeais estavam em Roma, rezando pela Igreja. Os senhores cardeais rezaram pela Igreja, ouviram meditações sobre a retidão de intenção com que se escuta a voz do Espírito que fala à Igreja: «Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas» (Ap 2,7). E, por fim, já em reunidos em conclave, procederam rapidamente à eleição de um novo Papa para a Igreja Católica.

E nós, ao olharmos com simpatia para aquele homem que apareceu na janela da Basílica de São Pedro, percebemos com quanta doçura ele disse suas primeiras palavras de romano pontífice. E logo vieram as primeiras perguntas: “O Papa é americano? O Papa é latino-americano? O Papa é progressista? O Papa é conservador?”. Não sei classificar assim o Santo Padre. Sei dizer apenas que o Papa é Pedro, e é chamado a amar o Senhor e a apascentar o Seu rebanho. Ele recebeu de Jesus a missão de transmitir o depósito da fé às gerações seguintes, juntamente com os outros membros do Colégio Apostólico. Eles ouviram por primeiro o mandato missionário: «Ide, pois, e ensinai a todas as nações» (Mt 28,19) e depois transmitiram a mesma missão ao Colégio Episcopal, cuja cabeça visível é o bispo de Roma, o Bispo daquela Igreja que – no dizer de Santo Inácio de Antioquia – preside as demais na caridade.

Assim, nós Igreja Católica nos sentimos novamente felizes por saber que temos, apesar de muitos problemas e preocupações, a casa completa. Para quem, como eu, ao celebrar a missa todos os dias, era doloroso rezar sem dizer o nome do Papa. Só pedia que a Igreja permanecesse em comunhão “comigo, vosso indigno servo”. É doloroso porque nós, bispos, sabemos que, sem o Papa, sem o pastoreio do Pastor universal, não podemos ficar por muito tempo.

E o que a Palavra de Deus de hoje nos ajuda a perceber? Antes de passarmos refletir sobre a Palavra de Deus, é importante lembrar que estamos vivendo um motivo a mais de profunda alegria nestes dias. E aqui, na Igreja de Itumbiara, essa alegria é redobrada, pois iniciamos o novenário da festa de Santa Rita de Cássia, nossa gloriosa padroeira, grande santa que morreu num convento agostiniano, da mesma família religiosa do Santo Padre. A família dos frades da Ordem de Santo Agostinho custodia o corpo incorrupto de Santa Rita de Cássia, nossa santa padroeira. Temos, portanto, essa razão especial de ligação com o Papa.

 

  1. “Eu sou o bom pastor” (Jo 10,11

 

Além dos festejos em honra de Santa Rita, caros irmãos, temos também a alegria de dedicar o Domingo de hoje à oração pelas vocações. Hoje, a Igreja é iluminada pela belíssima figura do Senhor Jesus que diz «Eu sou o bom pastor. O bom pastor dá a sua vida pelas ovelhas» (Jo 10,11). E como é bom saber que Deus não abandona a sua Igreja, que continua a enviar pastores. Envia continuamente anunciadores intrépidos do Evangelho, não apenas a própria comunidade. Nós não falamos apenas para dentro. A nossa vocação é o anúncio do Evangelho para todos: «Ide por todo o mundo, pregai o Evangelho a toda criatura» (Mc 16,15). Hoje não deixaremos de rezar por uma vocação singular: a de Pedro, a de Leão XIV.

A vocação dos sagrados pastores, juntamente com a dos batizados, é acolher, ouvir a Palavra de Deus e anunciar o nome de Jesus a todos os homens e mulheres que nos cercam neste mundo. Por quê? Porque cremos firmemente que Jesus é o nosso Bom Pastor e nos empenhamos para que «toda língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para glória de Deus Pai» (Fp 2,11). Nós o acolhemos como nosso Deus e Rei verdadeiro, porque Ele, Jesus, Deus e homem verdadeiro, é a nossa salvação e a salvação de toda a humanidade. Assim de fato diz a Escritura: «Em nenhum outro há salvação, pois não existe debaixo do céu outro nome dado aos homens, pelo qual devamos ser salvos» (At 4,12). Não haverá paz no mundo sem que se reconheça que somente Cristo é a nossa paz (cf Ef 2,14).

 

III. “… reuniu-se quase toda a cidade para ouvir a palavra do Senhor” (At 13,44)

 

Na primeira leitura, dos Atos dos Apóstolos, vemos uma guinada na primeira evangelização da Igreja. Primeiramente, Paulo e Barnabé vão para a região da Antioquia da Pisídia e ali entram numa sinagoga para, como de costume, fazer a oração do sábado com os irmãos judeus (cf At 13,14). Uma semana depois, muitos convertidos à nova religião — chamada Caminho ou Cristianismo — começam a frequentar a sinagoga junto com os cristãos.

Aqui, o evangelista Lucas nos diz que os judeus, movidos pelo ciúme, começaram a blasfemar contra Deus e tentaram matar Paulo e Barnabé (cf. At 13,45). E de que precisamos nos apropriar? De duas frases que, embora não sejam as centrais deste texto, nos ajudam muito. Em primeiro lugar: «Entrando na sinagoga em dia de sábado, sentaram-se. »E depois: «No sábado seguinte, quase toda a cidade se reuniu para ouvir a Palavra de Deus» (At 13,44).

Às vezes, quando falamos da Palavra de Deus, muitos irmãos pensam diretamente num livro — na Bíblia. Mas Jesus, ao enviar os apóstolos em missão, não disse: “Ide pelo mundo inteiro e distribuí Bíblias”. Ele disse: «Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a toda criatura» (Mc 16,15). Anunciai a Boa Nova, anunciai o meu Nome, anunciai a salvação que vem em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. E depois batizai: «Ide, pois, e ensinai a todas as nações… batizando-as em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo» (Mt 28,19).

Assim, para nós, católicos, a Palavra de Deus é mais do que aquilo que está consignado no precioso livro da Sagrada Escritura. A Palavra é, sobretudo, a segunda Pessoa Divina da Trindade Beatíssima, Nosso Senhor Jesus Cristo, o Verbo de Deus feito homem. Ele é o Verbo (cf Jo 1,14), Ele é a Palavra ativa e criadora. Por meio do Verbo Deus criou todas as coisas.: «Tudo foi feito por meio dele, e sem ele nada foi feito de tudo o que existe» (Jo 1,3).

Quando se sentaram para ouvir a Palavra de Deus, quando se reuniram para escutar, ainda não existia o Novo Testamento escrito. Eles escutavam o testemunho dos Apóstolos que haviam presenciado as aparições do Senhor ressuscitado, pois «Deus o ressuscitou dos mortos, e por muitos dias ele apareceu aos que tinham subido com ele da Galileia a Jerusalém» (At 13,30-31) e que agora saíam pelo mundo inteiro, apaixonados por Jesus, anunciando a todas as pessoas que Jesus é o Senhor e que não há outro Nome fora o de Jesus no qual possamos encontrar salvação (cf At 4,11-12).

Essa paixão dos Apóstolos, o brilho no olhar, mais do que muitas palavras de sabedoria, convencia as pessoas a se entregarem ao Senhor. E o testemunho da vida nova configurada a Cristo dava nova força às palavras: «Nós não podemos calar o que vimos e ouvimos» (At 4,20).

Então, essa primeira palavra é muito importante. O que a Igreja quer fazer hoje — e bem lembrou o Santo Padre em sua primeira aparição — é apresentar Jesus Cristo, uma pessoa viva, o Filho de Deus morto por nós (cf 1Cor 15,3). Ele está conosco. Ele permanece conosco. Permanece, sobretudo, na Eucaristia e na assembleia reunida para escutar a pregação da Palavra: «Onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles» (Mt 18,20).

A segunda palavra, neste trecho dos Atos dos Apóstolos, é que Paulo, aqui acompanhado de Barnabé, vendo a rejeição dos irmãos judeus — por quem ele gostaria de dar a vida «Eu desejaria ser eu mesmo anátema, separado de Cristo, por amor de meus irmãos» (Rm 9,3) —, vendo a rejeição da mensagem de Cristo justamente por aqueles a quem ela era primeiramente destinada, agora se volta para anunciar o Evangelho a todos os povos, a todos os pagãos. Assim ele testemunha a necessidade de se dirigir primeiro aos irmãos judeus: «Era necessário anunciar-vos primeiro a Palavra de Deus. Mas, visto que a rejeitais… voltamo-nos para os pagãos» (At 13,46).

A partir de então, irmãos, já não há distinção entre as pessoas: não há judeu, nem grego; não há homem, nem mulher. Somos uma só coisa em Cristo (cf Gl 3,28).

É muito bonito ver que isso deu um novo rumo à Igreja. Se a Igreja tivesse ficado apenas na pregação a um grupo de judeus frequentadores da sinagoga e de poucos prosélitos, ela teria se tornado uma pequena seita e talvez desaparecido com o tempo. Uma pequena seita entre os israelitas, como tantas outras que existiam na época. Mas não! A Igreja é a assembleia dos filhos de Deus espalhados pelo mundo inteiro e reunidos em cada Eucaristia. Na vida da Igreja se cumpre a promessa: «Reunirá os filhos de Deus que estavam dispersos» (Jo 11,52).

Na missa, todo o povo de Deus resgatado pelo sangue de Cristo (cf 1Pd 1,18-19) se reúne para o banquete da vida eterna. Essa liturgia que celebramos em nossas igrejas é descrita de modo sublime no livro do Apocalipse: «Felizes os convidados para o banquete das núpcias do Cordeiro» (Ap 19,9).

E aqui vemos que essa guinada do apóstolo Paulo, ocorrida nos primeiros decênios da era cristã, fez com que a Igreja se autocompreendesse de um novo modo.

 

  1. “Eu, João, vi uma multidão imensa, que ninguém podia contar…” (Ap 7,9).

 

Exilado na ilha de Patmos por causa do nome de Jesus, João recebe uma revelação dos céus — daí o nome Apocalipse, que significa “revelação” —, e nessa revelação ele vê a liturgia celeste, a liturgia da Jerusalém Celeste (cf Ap 1,1). Ele vê uma multidão imensa de gente, de todas as nações, tribos, povos e línguas, que ninguém podia contar (cf Ap 7,9). Esses estavam de pé diante do trono e do Cordeiro. Trajavam vestes brancas — a veste do batismo «Lavaram e alvejaram as suas vestes no sangue do Cordeiro» (Ap 7,14) — e traziam palmas nas mãos — as palmas do martírio. Então, um dos anciãos me disse: “Esses são os que vieram da grande tribulação.”

Mas então como é que logo depois reduzirá a multidão incontável ao número de cento e quarenta e quatro mil? O número cento e quarenta e quatro mil, essa grande multidão celeste, significa que estão reunidos homens e mulheres da Antiga e da Nova Aliança na confissão do nome de Jesus: doze tribos de Israel, vezes doze apóstolos — 144 —, vezes a multidão dos convertidos — mil. Portanto, cento e quarenta e quatro mil é um número simbólico, incontável e abrangente de todos os povos. Não é um número exato, natural, como diriam os matemáticos.

E ali, essa multidão cantava os hinos e louvores celestes porque havia sido lavada no sangue do Cordeiro (cf Ap 14,3-4). Por isso, estão diante do trono de Deus e lhe prestam culto dia e noite no seu templo. «E Aquele que está sentado no trono estenderá sobre eles sua tenda» (Ap 7,15).

Na Jerusalém Celeste, não haverá fome, não haverá sede, nem os molestará o sol, nem qualquer calor ardente, porque o Cordeiro está no meio do trono. O Cordeiro é Cristo. Ele é o Cordeiro oferecido em sacrifício, é o Cordeiro que se entrega silencioso como ovelha ao matadouro (cf Is 53,7), mas cujo sacrifício resgata o mundo inteiro (cf Jo 1,29).

O Apocalipse, diletos irmãos, não é um livro de ameaças, é antes o livro da absoluta confiança em Deus, do Deus que é nossa esperança. Ainda que sejamos perseguidos, ainda que sejamos maltratados em nossa história, ainda que sejamos caluniados, que tenhamos o nosso nome conspurcado, ainda que a nossa fragilidade se evidencie diante de nós, ainda que o pecado pareça o maior em nossa vida — é preciso não ter medo. «Ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte, não temerei mal algum, porque estás comigo» (Sl 23,4).

O Senhor está continuamente nos lavando com o sangue preciosíssimo do Cordeiro imolado na Cruz. Ele nos conduz às fontes da água da vida e enxuga as lágrimas dos nossos olhos. A Jerusalém Celeste é festa. E quem é esse Cordeiro? É o próprio Jesus, o Bom Pastor que conhece as suas ovelhas e é por elas conhecido (cf. Jo 10,14).

 

  1. «Rogai, pois, ao Senhor da messe que envie operários para a sua messe»(Mt9,38)

 

Instigada pelo Senhor, a Igreja hoje não se cansa de rezar. Ela dedica o quarto domingo da Páscoa à oração pelas vocações sacerdotais, ouvindo o mandato do Senhor. Claro, queremos que todas as vocações — os 144 mil membros da Igreja, incontáveis — cheguem ao caminho da santidade. Esta é a vocação universal de todos os cristãos, a vocação universal de todos os batizados (cf. 1Ts 4,3; 1Pd 1,16).

Mas, sobretudo, queremos, neste tempo, o que tanto faz falta em nossa diocese: mais padres, mais pastores, mais pessoas que entreguem a própria vida ao serviço do Evangelho. Vocações numerosas e santas.

E no dia de hoje rezamos também pelas mães. Mas eu os convido a rezar de modo especial, por aquelas que são ou serão mães de sacerdotes.

Um antigo superior em Roma, homem de grande coração e santidade de vida, dizia: “As mães dos padres vão para o céu sem passar pelo purgatório”. Certamente não é dogma de fé. Mas é uma convicção verossímil, fruto de um sincero amor filial. Estou certo de que se atentarmos bem para esta especial confiança no amor de Deus, muitas mulheres aqui poderão pleitear o céu sem purgatório. Por isso, deixo este carinhoso desafio às mães: não tenham medo de educar os filhos para uma vocação de generosa dedicação ao Evangelho.

Que Deus seja louvado e que, no dia de hoje, nossas queridas mães aqui presentes se sintam amadas pela Igreja. E que aquelas mães que já partiram desta vida e estão na presença de Deus se sintam amadas e acolhidas por nossos frágeis corações.

            Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo.

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A Diocese de Itumbiara foi criada no dia 11 de outubro de 1966, pelo Papa Paulo VI, desmembrada da Arquidiocese de Goiânia; seu território é de 21.208,9 km², população de 286.148 habitantes (IBGE 2010). A diocese conta 26 paróquias, com sede episcopal na cidade de Itumbiara-GO.

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