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VI Domingo do Tempo Comum

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A MESA DA PALAVRA

VI Domingo do Tempo Comum – C
Itumbiara, 16 de fevereiro de 2025

Bem-aventurados vós, os pobres!

 

Caros amigos,

Ouçamos de novo a oração inicial da missa:

I.Ó Deus, que prometestes permanecer nos corações retos e sinceros, concedei-nos por vossa graça viver de tal maneira que possais habitar em nós” (Coleta)

Esta oração extraída do Sacramentário Gelasiano (n.587) expressa bem o que a palavra de Deus hoje proclamada nas três leituras suscita no coração do fiel. O Deus que declara (em latim, na segunda pessoa, asseris), não apenas promete, permanecer nos corações sinceros e retos, pode dar-nos muito mais. Ele pode nos conceder a sua graça, isto é, um auxílio celeste superior às nossas pobres forças humanas. Este auxílio, acessível ao homem se aprouver a Deus, torna possível viver de tal modo que ele possa habitar em nós. Ele passa em nossa vida e se interessa por nós, Ele bate à porta do nosso coração e bate: «Eis que estou à porta e bato: se alguém ouvir a minha voz e me abrir a porta, entrarei em sua casa e cearemos, eu com ele e ele comigo » (Ap 3,20).

Irmãos, Cristo passou em nosso caminho, bateu à porta. Abrindo a porta da nossa vida para Ele, decidimos vir aqui atraídos por Ele. Ele desce das moradas celestes até nossa mesa, entra na nossa casa e se faz Pão vivo para nos alimentar. Ele entra e ceia conosco na dupla mesa da Palavra e do Pão. E só conseguimos assim fazer contrastando e rejeitando outras promessas de alegria diferentes das bem-aventuranças hoje proclamadas.

Recolhamo-nos por um momento ao redor da mesa da Palavra antes de receber o Pão vivo descido do Céu.

II.Maldito o homem que confia no homem!” (Jr 17,5)

Jeremias transmite o que escutou do Senhor, com tons dramáticos próprios de seu estilo profético sapiencial: “Maldito o homem que confia no homem e faz consistir sua força na carne humana, enquanto seu coração se afasta do Senhor”. Este conceito, segundo o paradigma da poesia gnômica é reiterado duas vezes. Uma de modo negativo, como soa nos versos 5 e 6, e outra, de modo mais positivo, tal como se apresenta nos versículos seguintes.

Esta primeira apresentação, feita em forma de maldição, é um alerta que procura dissuadir o destinatário da profecia de levar uma vida distante de Deus, portanto, na desgraça. Basta pensar no que aconteceu com o filho pródigo ao se despedir do pai e se desfazer dos bens herdados do pai.

Mas logo a seguir, o profeta exprime o mesmo conceito de modo bem positivo: “Bendito o homem que confia no Senhor, cuja ESPERANÇA é o Senhor, é como a árvore plantada junto às águas, que estende as raízes em busca de umidade … nunca deixa de encontrar frutos” (vv. 7-8).

Como não lembrar os dois caminhos de que fala o salmista: o caminho da vida e o caminho da morte, o caminho da bênção e o caminho da maldição? Tertium non datur. Não há meio termo. No campo do amor a Deus não existe uma terceira via. Diante do amor do Senhor a opção é a entrega total. E o caminho da bênção é uma via de paradoxo – o paradoxo da cruz –, que nos leva para as moradas celestes, é caminho que transcende nossos anelos terrenais.

Aqui deparamos com a dureza da nossa fragilidade. Para escolher o caminho da vida e perseverar nele é necessário o auxílio da graça do bom Deus. Sem a graça nossos esforços são fadados ao insucesso.

 III.Se Cristo não ressuscitou, a vossa fé é vã!” (I Cor 15,17

A ressurreição de Cristo é que nos sustenta a esperança da nossa ressurreição. “Morre-se uma só vez e depois vem o juízo” (Hb 9,27). É na força do mistério pascal que recuperamos o acesso ao caminho da Bênção e da Vida que não tem fim. Somente percorrendo o caminho da confiança na misericórdia do Deus indulgente e compassivo no curso desta vida e sendo julgados pelo Deus sumamente justo, é que experimentamos a força da ressurreição de Jesus em nós. “Por sua morte a morte viu o fim, no sangue derramado a vida renasceu”, nos ensina a liturgia pascal.

O percurso do caminho da Vida e da Bênção nesta terra precisa da força daquelas palavras do Ressuscitado: “A Paz esteja convosco!”. A certeza da fé nos ensina que Cristo Ressuscitou e que o Ressuscitado comunicou à Igreja a força do perdão. “Recebei o Espírito Santo… aqueles a quem perdoardes os pecados serão perdoados….”. O perdão é ressurreição que nos liberta da morte em que jazemos pelo pecado. É o Ressuscitado quem nos comunica a força renovadora da Páscoa que nos faz trilhar os caminhos para novos céus e nova terra.

Aqui começa a economia da graça, da força celeste comunicada aos peregrinos. Por meio da Palavra e dos Sacramentos, recebemos a graça que nos converte naqueles discípulos que o Senhor chama bem-aventurados.

IV.Bem-aventurados os pobres. Ai de vós, ricos!” (Lc 6,17.24)

Reflitamos um momento com o Papa Francisco sobre a riqueza deste Evangelho. Diante de uma multidão presente na Praça de São Pedro, dia 13 de fevereiro de 2022, ele propunha a seguinte reflexão:

« No centro do Evangelho da Liturgia de hoje estão as Bem-aventuranças (cf. Lc 6, 20-23). É interessante notar que Jesus, apesar de estar rodeado por uma grande multidão, proclama-as dirigindo-se “aos seus discípulos” (v. 20). Usa a segunda pessoa do plural, dirigindo-se diretamente aos discípulos. Com efeito, as Bem-aventuranças definem a identidade do discípulo de Jesus. Podem parecer estranhas, paradoxais, quase incompreensíveis para aqueles que não são discípulos, mas se nos perguntarmos como é um discípulo de Jesus, a resposta está precisamente nas Bem-aventuranças. Vejamos a primeira, que é a base de todas as outras: “Bem-aventurados vós que sois pobres, porque vosso é o Reino de Deus!” (v. 20). “Bem-aventurados vós, pobres”. Jesus diz duas coisas sobre os seus: que são bem-aventurados e que são pobres; aliás, que são bem-aventurados justamente porque são pobres.

» Em que sentido? No sentido em que o discípulo de Jesus não encontra a sua alegria no dinheiro, no poder nem sequer noutros bens materiais, mas nos dons que recebe todos os dias de Deus: vida, criação, irmãos e irmãs, e assim por diante. São dádivas da vida. Também os bens que possui, é feliz de os partilhar, porque vive na lógica de Deus. E qual é a lógica de Deus? A gratuidade. O discípulo aprendeu a viver na gratuidade. O discípulo de Jesus, dado que assume esta atitude, é uma pessoa humilde, aberta, livre de todos os preconceitos e da rigidez de julgamentos.

» Houve um belo exemplo no Evangelho do domingo passado: Simão Pedro, pescador experiente, aceita o convite de Jesus para lançar as suas redes a uma hora insólita; e depois, cheio de admiração com a pesca prodigiosa, deixa o barco e todos os seus bens para seguir o Senhor. Pedro revela-se dócil ao desapegar-se das suas certezas, das suas ideias, deixando tudo e tornando-se assim um discípulo. Por outro lado, aqueles que estão demasiado apegados às próprias ideias e certezas, quase nunca seguem realmente Jesus. Eles seguem-no um pouco, apenas naquilo em que “concordam com Ele é que Ele concorda comigo”, mas depois, quanto ao resto, não está bem. Este não é um discípulo.

» Por outras palavras, o discípulo aceita o paradoxo das Bem-aventuranças: elas declaram são que bem-aventurados, isto é, felizes, aqueles que são pobres, que carecem de muitas coisas e reconhecem-no. Humanamente, somos levados a pensar de outra forma: é feliz quem é rico, quem está cheio de bens, quem recebe aplausos e é invejado por muitos, aquele que tem toda a segurança. Mas isto é pensamento mundano, não é o pensamento das Bem-aventuranças! Jesus, pelo contrário, declara o sucesso mundano como um fracasso, porque se baseia num egoísmo que enche e depois deixa o coração vazio. Confrontado com o paradoxo das Bem-aventuranças, o discípulo deixa-se desafiar, consciente de que não é Deus que deve entrar na nossa lógica, mas nós na Sua. Isto requer um caminho, por vezes cansativo, mas sempre acompanhado de alegria. Porque o discípulo de Jesus é alegre com a alegria que lhe vem de Jesus. Pois, lembremo-nos, a primeira palavra que Jesus diz é: bem-aventurados; isto origem às Bem-aventuranças. Este é o sinônimo de ser um discípulo de Jesus. O Senhor, ao libertar-nos da escravidão do egocentrismo, liberta os nossos fechamentos, dissolve a nossa dureza, e abre-nos à verdadeira felicidade, que muitas vezes se encontra onde não pensamos. É Ele quem guia as nossas vidas, não nós, com os nossos preconceitos ou as nossas necessidades. Por fim, o discípulo é aquele que se deixa guiar por Jesus, que abre o coração a Jesus, que o ouve e segue o seu caminho.

» Podemos então perguntar-nos: eu – cada um de nós – tenho a disponibilidade do discípulo? Ou comporto-me com a rigidez de alguém que se sente no lugar certo, que se sente bem, que sente que já alcançou o que queria? Será que me deixo “escavar dentro” pelo paradoxo das Bem-aventuranças, ou permaneço no perímetro das minhas ideias? E então, com a lógica das Bem-aventuranças, para além dos trabalhos e dificuldades, será que sinto a alegria de seguir Jesus? Esta é a caraterística saliente do discípulo: a alegria do coração. Não esqueçamos: a alegria do coração. Esta é a referência para saber se uma pessoa é discípula: tem alegria no coração? Tenho alegria no coração? Este é o ponto ».

 

Caros irmãos e irmãs,

Com os olhos fitos na Cruz Jubilar, unamo-nos à oração da Igreja pela saúde do Santo Padre e pelas suas intenções apostólicas e pessoais. Supliquemos aos céus uma chuva da graça das vocações sacerdotais necessárias para a nossa Igreja. Coloquemo-nos sob a poderosa proteção da Santíssima Virgem Maria e de nossa venerada Padroeira, Santa Rita de Cássia.

Louvado seja nosso Senhor Jesus Cristo.

 

Diocese de Itumbiara
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A Diocese de Itumbiara foi criada no dia 11 de outubro de 1966, pelo Papa Paulo VI, desmembrada da Arquidiocese de Goiânia; seu território é de 21.208,9 km², população de 286.148 habitantes (IBGE 2010). A diocese conta 26 paróquias, com sede episcopal na cidade de Itumbiara-GO.

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