A MESA DA PALAVRA
Dom José Aparecido Gonçalves de Almeida
III Domingo do Advento – B
17 de dezembro de 2023
GAUDETE: ALEGRAI-VOS … O SENHOR ESTÁ PERTO!
Caros amigos,
Aproxima-se o Natal e nós continuamos, na Liturgia e na vida, a clamar “Maranatá! Vem senhor Jesus!”. Este clamor tem sua raiz em um mandato e promessa do Senhor. O mandato “Alegrai-vos” dá o nome e uma cor litúrgica especial a este terceiro Domingo do Advento. A liturgia começa com a antífona de introito Gaudete e os sacerdotes se aproximam do altar com paramentos róseos. A alegria ainda não é plena porque o Senhor ainda não chegou. Mas é verdadeira, porque já vemos os sinais de sua iminente chegada
A alegria do Natal que se aproxima inspira muitas expressões de reverência ao mistério da Encarnação do Verbo. O Verbo de Deus se faz homem no ventre da Santíssima Virgem Maria e vem habitar entre nós. A ternura do Céu que brota na terra será acomodada sem luxo algum na manjedoura de um presépio: um Menino inerme como todo recém-nascido, que reclama cuidados, atenção e carinho. É o Menino Deus que aguardamos em cumprimento de todas as promessas do Antigo Testamento.
A tradição de preparar presépios em cada casa e em lugares públicos – tão estimada pelo Papa e pela piedade cristã – surgida na Itália nos tempos e pelas mãos de São Francisco de Assis, ensejou um belíssimo costume em Roma. No terceiro domingo do Advento, as crianças romanas – especialmente as que se preparam para a primeira Eucaristia – vão acompanhadas pelos pais à Praça de São Pedro levando imagens do Menino Jesus para que o Papa as abençoe. Assim abençoadas, logo após a solene Vigília de Natal, antes da ceia em família, as imagens do Menino são postas no Presépio com cantos bem conhecidos de todos, alguns compostos por Santo Afonso Maria Liguori. Um gesto simples, amoroso, belo, que liga a devoção familiar à adoração que a Igreja rende ao seu Senhor. Como seria bonito se adotássemos este costume também na nossa Igreja de Itumbiara. Tenho certeza de que, assim como o Bispo, também os Párocos acolheriam com alegria esta iniciativa catequética e de forte sentido espiritual.
Tudo vem sob a insígnia da alegria: “Gaudete in Domino semper: iterum dico, gaudete. Alegrai-vos sempre no Senhor. Repito, alegrai-vos” (Fil. 4,4-5). Esperado por Israel, ardentemente aguardado pela formosíssima Filha de Sião, o Messias prometido está para chegar. O tempo do Advento nos coloca agora em doce e suave comunhão com o coração da Virgem Maria, gravida daquele que é a Esperança da humanidade. Ela, e nós com Ela, celebramos o memorial da espera da “Sabedoria do Altíssimo” que vem armar sua tenda entre nós. Faltam poucos dias para o Natal. Imaginemo-nos perto da Virgem Maria nos últimos dias da gravidez, a caminho de Belém ou lá chegando com São José sem encontrar hospedagem. E nós acompanhamos tudo com o coração pronto para albergar a Virgem Maria, São José e nosso Senhor Menino.
Sim, este é chamado domingo Gaudete. A antífona do introito inspira o tema da alegre expectativa que perpassa toda a nossa celebração.
Mas esta alegria é para todos? Sim o Messias, o Cristo vem na humildade da carne “por nós homens e para a nossa salvação” (Símbolo Niceno-Constantinopolitano). Mas nem todos o acolhem.
A Igreja assim reza ao iniciar a Santa Missa: “O Deus, que vedes o vosso povo esperando fervoroso o Natal do Senhor, concedei-nos chegar às alegrias da salvação e celebrá-las sempre com intenso júbilo na solene liturgia” (Missal Romano, Oração Coleta),
Estamos à espera preparando-nos com fervor. Pequenas renúncias, aceitação de contrariedades, cultivo de pequenas virtudes domésticas (como a paciência amorosa com a fragilidade das pessoas que estão à nossa volta, a temperança, a fidelidade aos compromissos de oração em família e pessoal), a meditação sobre os temas propostos pela nossa Igreja, especialmente na Liturgia. É tão rico de graças o tempo que estamos vivendo. Os nossos afetos se unem com a profundidade do ato de fé na presença amorosa de Deus em nossa vida.
A este compromisso de fervorosa espera e ardente preparação nos convidam também a figura e a pregação de João Batista, como ouvimos no Evangelho há pouco proclamado. “João retirou-se no deserto para levar uma vida muito austera e para convidar, inclusive com a sua vida, as pessoas à conversão; ele confere um batismo de água, um rito de penitência singular, que o distingue dos múltiplos ritos de purificação exterior das seitas dessa época”.
Mas quem é este homem, quem é João Batista? Ao lhe perguntarem quem ele é, João confessa convicto que não é o Messias. Perguntam então se é Elias, o profeta que voltaria antes da vinda do Messias. João novamente se apressa a não ocupar ao lugar nem mesmo do profeta. Diz ele: “Eu sou a voz que grita no deserto: Aplainai o caminho do Senhor, conforme o profeta Isaias”. Ele não é o ungido prometido por Isaias. Aquela unção apontada na primeira leitura caberá a Jesus, cujos caminhos João prepara.
No entanto, mais tarde Jesus dirá que Elias já veio: é João. A força profética do anúncio de penitência interior, não meramente ritual, o Senhor a confiou a João que mais tarde batizará o próprio Jesus.
Caríssimos amigos, este domingo da alegria nos dispõe na esperança a dar graças a Deus em todas as circunstâncias. Aproveitemos estes dias da novena do Natal seguindo as palavras de Paulo: “Não desprezeis as profecias, mas examinai tudo e guardai o que for bom. Afastai-vos de toda espécie de maldade! Que o próprio Deus da paz vos santifique totalmente, e que tudo aquilo que sois – espírito, alma e corpo – seja conservado sem mancha alguma para a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo!” (1 Tes 5,20-23). Aproximemo-nos dos sentimentos do coração da Virgem Maria, meditemos nas palavras do Magnificat. Nós sabemos que Aquele vem, Aquele que nos chamou a percorrer os caminhos de Maria e José até Belém, “ele mesmo realizará isso” (cf 1 Tes 5,24).
Alegrai-vos sempre no Senhor. Alegrai-vos”! Louvado seja nosso Senhor Jesus Cristo.