A MESA DA PALAVRA
Dom José Aparecido Gonçalves de Almeida
Natal do Senhor – Missa do Dia – Ano B
25 de dezembro de 2023
ET VERBUM CARO FACTUM EST!
Is. 52,7-10
Sl 97 (98)
Hb 1,1-6
Jo 1,1-6
Caros amigos,
Ver o Menino posto nos nossos presépios depois da longa preparação espiritual propiciada pela liturgia do Advento, nos dá uma grande alegria. Agora sabemos que Aquele que cumpriu as promessas feitas ao povo da Antiga Aliança, cumprirá a promessa de um dia vir como juiz cercado de majestade e glória. Agora aquele pedido dos antigos – Mostrai-me, ó Senhor, a vossa face – encontra resposta na encarnação do Verbo. Assumindo a natureza humana, Ele nos torna capazes de ver nas Suas feições o rosto de Deus. Já não com o medo de morrer, mas com a alegria de contemplar, na humanidade assumida por Ele, a divindade de cuja intimidade nos é consentido agora participar.
I. “Dai-nos participar da divindade do vosso Filho, que se dignou assumir a nossa humanidade”.
Do ventre de Maria, Virgem ilibada, vem a nós o Filho de Deus. É um prodígio que somente o poder de Deus sabe operar, uma graça que somente o Espírito Santo pode proporcionar.
Hoje compreendemos que, maior do que a criação é o dom imenso da redenção. Não sem razão a Igreja reza hoje: “O’ Deus que admiravelmente criastes o homem e mais admiravelmente restabelecestes a sua dignidade, dai-nos participar da divindade do vosso Filho, que se dignou assumir a nossa humanidade”
Noutro texto litúrgico a Igreja aclama este mistério com as seguintes palavras: “O admirabile commercium” (Ó admirável intercâmbio)! Por este admirável intercâmbio, hoje compreendemos que a redenção não é apenas limpeza dos pecados. Ela nos torna participantes da vida divina: “de modo admirável nos criastes, de modo ainda mais admirável nos renovastes e redimistes”. Esta maravilhosa união da divindade com a humanidade é lembrada em cada missa celebrada. Na apresentação das oferendas, o sacerdote assim reza: “Pelo mistério desta água e deste vinho possamos participar da divindade do vosso Filho que se dignou assumir a nossa humanidade”. Sim, ao participarmos da Eucaristia, o que é possível graças à encarnação do Verbo, Deus no concede participar da divindade do seu Filho que se dignou assumir a nossa humanidade. Nunca é demais repetir esta verdade de nossa fé.
No Natal nos encontramos renascidos como verdadeiros filhos de Deus. Por isso mesmo vemos nascer o nosso desejo e a nossa busca pressurosa das “coisas invisíveis”, que são as mais autênticas e verdadeiras.
II. “Como são belos sobre os montes os pés do Mensageiro que anuncia a paz, do Mensageiro de boas notícias que anuncia a salvação, que diz a Sião: ‘Reina o teu Deus’” (Is 52,7).
O ledo anúncio do Evangelho, a notícia alvissareira é precisamente o cumprimento dos desejos mais profundos da humanidade, das promessas mais reiteradas pelos profetas: Deus está em nosso meio. É Emanuel! Ele é o nosso Redentor! As razões de nossa tristeza já desvaneceram e não existem mais! As sentinelas alçam a voz e exultam de alegria: “Eis que retorna o Senhor a Sião!”.
Cantai ao Senhor um cântico novo, cantai ao Senhor.
Porque Ele fez, Ele faz maravilhas, Cantai ao Senhor.
É Ele o Verbo Eterno do Pai que se faz carne e arma a sua tenda entre nós. É o Deus peregrino na nossa história, na minha vida. Ele só aceita morar num templo feito com pedras vivas.
É Ele “a luz que ilumina todo homem”. O Deus que ninguém jamais viu agora se revela no Filho Unigênito. Aquele que vem do seio do Pai pelo seio de Maria revela num rosto humano a face do Pai. “Filipe, quem me vê vê o Pai”.
“O Verbo se fez carne” é o conteúdo do Natal. O Evangelista João quer dizer que o Filho de Deus, que existe desde antes da criação do mundo, deste toda a eternidade, que é Deus Criador, que é verdadeiramente a fonte da Vida e da Luz, esse Filho de Deus é homem verdadeiro e não somente na aparência. Ele se fez homem igual a nós em tudo menos no pecado.
Quem o acolhe como Ele é – Verdadeiro Deus e verdadeiro homem – se tornam verdadeiramente Filhos de Deus, são regenerados nEle por Deus. O Natal é a festa do início da nossa regeneração, do início da família cristã.
III. “O presépio é como um Evangelho vivo” (Papa Francisco)
O Santo Padre nos convida a contemplar as cenas do presépio como um itinerário de vida cristã, recordando as palavras de São Francisco de Assis em Greccio: Papa Francisco citou as palavras de São Francisco de Assis: “Quero lembrar o Menino que nasceu em Belém, os apertos que passou, como foi posto num presépio, e contemplar com os próprios olhos como ficou em cima da palha, entre o boi e o burro”.
O que o Presépio nos ensina é a ver em cada homem um verdadeiro irmão, seja ele pastor, rei, sábio ou um simples passante como somos eu e você. O Filho de Deus nascido em Belém (que significa Casa do Pão e nos remete à Eucaristia) é o Verbo, a Palavra definitiva. Deus não tem mais nada a nos revelar senão a visão da Sua glória quando formos chamados à sua presença. Tudo encontra em Jesus, o Verbo de Deus humanado, o seu fundamento. Ele recapitulará tudo em Si.
Ora, realizada a purificação dos pecados do mundo, Ele se encontra glorioso à Destra do Pai. Em Cristo, Deus manifestou tudo de Si: todas as palavras do A. T. se resumem em Jesus, o Messias para o qual tendia toda a esperança de Israel.
Somos o povo que recebeu o cumprimento das promessas. O Espírito Santo, em Pentecostes dará a clareza que teve Paulo ao se curar da cegueira em que caíra ao ser chamado pelo Ressuscitado.
Adeste, fideles, laeti triumphantes…
Caros amigos, com a Virgem Maria aprendemos a grandeza da humildade do presépio. Gastemos tempo nesses próximos dias a contemplar o Presépio, a ficar a sós com Jesus, Maria e José. Não faltarão confidências que desejaremos fazer com São José, com Nossa Senhora, com o Menino Jesus.
Assim seja.