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A Mesa da Palavra – V Domingo do Tempo Comum – Ano B

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A MESA DA PALAVRA
Dom José Aparecido Gonçalves de Almeida
V Domingo do Tempo Comum – Ano B
4 de fevereiro de 2024

Caros amigos,

I. “Ele conforta os corações despedaçados, ele enfaixa suas feridas, … e chama cada um pelo nome”. (Sl 146,3-4)

Deus consente a ferida e a dor, enfaixa as feridas e manifesta o seu amor chamando-nos pelo nome. Se a dura realidade do sofrimento é consentida por Deus, a consolação, a cura e o amor estão diante de nós, quando a nossa fidelidade ao Senhor espanta o risco da cegueira espiritual.

O povo eleito viveu sempre entre pagãos, povos imersos na superstição e na idolatria, que apelavam para a magia na tentativa de resolver os problemas humanos. E esse tipo de culto religioso foi uma constante tentação para Israel. A experiência da doença e do sofrimento, da opressão, das injustas agressões dos povos vizinhos, as muitas formas de conflitos internos, inclusive no seio das próprias tribos e famílias, sempre afligiram Israel e fizeram refletir sobre o sofrimento. A relação fácil entre pecado e castigo não era suficiente para explicar o drama do inocente que sofre. “Na doença, o homem experimenta a sua impotência, os seus limites e a sua caducidade” (Catecismo, nº 1500). Há situações dolorosas que podem conduzir à angústia, por vezes até ao desespero e à revolta contra Deus. E o sofrimento nesta vida terrena, que nos coloca diante da morte, desgastava qualquer esperança, pois ainda não havia despontado na fé de Israel a confiança na ressurreição da carne.

No trecho lido hoje, aparece bem clara a dor de uma vida em que a esperança se esvai: “Se me deito, penso: Quando poderei levantar-me? E, ao amanhecer, espero novamente a tarde e me encho de sofrimentos até ao anoitecer. (…) Lembra-te de que minha vida é apenas um sopro e meus olhos não voltarão a ver a felicidade!” (Jó 7,4.6).

No quadro da “história” de Jó, o Demônio pede licença a Deus para tentar Jó. Ele alega que Jó só é fiel porque não lhe falta nada: nenhuma benção, nenhum bem, nem o afeto de uma família exemplar. Deus, apostando em Jó, permite que o demônio o prive de tudo, desde que não lhe tire a vida. O drama de Jó piora quando os amigos, vendo o seu sofrimento radical, o incitam a blasfemar contra Deus, que não o protegeu. E Jó permanece fiel. Mas os amigos de Jó, conhecedores da “teologia da retribuição”, diziam que todo sofrimento é consequência do próprio pecado, ou da injustiça de Deus que pune o inocente.

Sim, Jó experimenta a atrocidade do sofrimento, chega à máxima angústia (cf. cap. 7). Mas ao responder ao insidioso discurso de Baldad, que atribuía o sofrimento à maldade do sofredor, Jó vislumbra um motivo de esperança e responde vigorosamente: “Pois eu sei que o meu redentor está vivo e que, no fim, se levantará sobre o pó; e depois que tiverem arrancado esta minha pele, desde minha carne, verei a Deus. Eu mesmo o verei, meus olhos o contemplarão, e não a um estranho” (Jó 19,25-26). Para dar a conhecer a esperança, o Espírito Santo suscita o hagiógrafo de Jó, quatrocentos anos antes do advento do Verbo de Deus na carne humana. O livro de Jó é uma das pérolas da literatura da Primeira Aliança. Esta é a primeira expressão, ainda in nuce, da esperança da ressurreição da carne, até então desconhecida em Israel. A Bênção era sempre apresentada como vida longa e repleta de bens espirituais e materiais, repleta de paz (shalom). Deus, como diz o salmista “conforta os corações despedaçados, ele enfaixa suas feridas, … e chama cada um pelo nome”.

II. “Jesus quer buscar para Si as pessoas, não as coisas das pessoas” (São Pedro Crisólogo)

A dor e o sofrimento estão sempre à nossa espreita. Jó personifica na literatura veterotestamentária o sofrimento do inocente. Esse é o sofrimento que Jesus vai tomar sobre Si. Ele assumiu nossas dores, esse sofrimento se abaterá Jesus: não é possível acolher Jesus e rejeitar a Cruz. Na Cruz, o Sangue do Senhor derramará a Sua copiosa redenção. Por isso, Ele cura as enfermidades e expulsa os espíritos impuros.

E do Evangelho de São Marcos sabemos que só conhece Jesus e a sua missão messiânica aquele que não rejeita o mistério da Cruz. Nos dias do nosso sofrimento e enfermidade, o Senhor está sempre presente. «O Senhor não se esconde. Às vezes, a nossa visão espiritual fica obscurecida pelas trevas do nosso pecado ou por graça do bom Deus, para que O invoquemos com perseverança. Mas encontramos a Santa Cruz onde quer que haja um sofrimento, uma dor, uma urgência, de caráter pessoal ou social. Lembremo-nos das palavras duras de Jesus a Pedro, quando o Apóstolo quis afastar Jesus da Cruz: “Afasta-te de mim, satanás, (…) porque não pensas como Deus, mas como os homens” (Mt 16,23). É passando pela Cruz que encontramos o Ressuscitado e podemos tocar as suas chagas que nos curam das mais profundas feridas. A bondade do Senhor nos propicia encontros de salvação sempre que lhe suplicamos» (JAGdA, Homilia da Missa de Posse).

A narração da cura da sogra de Pedro nos mostra como Jesus costuma agir. “O Senhor do céu, restaurador do universo, entrou nas pobres moradas terrenas dos seus servos… aproximou-se de todos com afabilidade, Ele que com tanta bondade viera para socorrer a todos” (S. Pedro Crisólogo, Discurso 18). Caros amigos, leiamos com atenção o Evangelho.

O que podia ter atraído Jesus para a pobre morada de Pedro? Certamente, saindo da Sinagoga em dia de Sábado, não era o desejo de repousar. O que o atraiu àquela casa foi a enfermidade da sogra de Pedro, “não a necessidade de comer, mas a oportunidade de salvar; o desejo de pôr o seu poder divino a serviço, não o de se fazer servir suntuosamente pelos homens” (ibid.). De fato, Cristo entra não para se banquetear, mas para dar de novo o dom da vida. É bonito ver como Deus, o Verbo de Deus encarnado, Jesus, vem para nos buscar a nós homens, não as nossas coisas humanas. Ele vem para nos dar a vida, não para pedir os nossos bens.

E vejam, amigos, como Jesus é discreto. Entrando na casa de Simão e André, logo lhe contaram que “a sogra de Simão estava de cama, com febre (…) E ele se aproximou, segurou sua mão e ajudou-a a levantar-se. Então, a febre desapareceu; e ela começou a servi-los” (Mc 1,30-31). Além de discreto, Jesus é gentil, ele não faz gestos mirabolantes nem usa palanfrórios tonitruantes, como costumam fazer os embusteiros e intrujões que nada mais querem senão chamar a atenção para si próprios. Jesus – lembrava Pedro Crisólogo – quer buscar para Si as pessoas, não as coisas das pessoas.

III. “Então a febre desapareceu e ela começou a servi-los” (Mc 1,31).
Na casa de Pedro, na Igreja, aqueles que são levantados da enfermidade, tirados da escravidão do príncipe das trevas, passam a servir. Como a sogra de Pedro, todos os batizados recebem a vocação ao serviço, que se manifesta nas obras de misericórdia corporais e espirituais: o amor de Cristo impele a dar pão, água, vestes, presença amorosa; o anúncio da Palavra aos que a ignoram, conforto dos enfermos etc.

Curada a febre com que se dedicava à perseguição, Saulo passa a ser Paulo. E confidencia aos cristãos de Corinto que o salário da sua missão evangelizadora é a própria alegria do Evangelho. “Pregar o Evangelho não é para mim motivo de glória. É antes uma necessidade para mim, uma imposição” (1Cor 9,16). Ai de mim se eu não pregar o Evangelho. No anúncio da salvação, fruto do sangue de Cristo derramado na Cruz, o Apóstolo se faz tudo para todos, a fim de certamente salvar a alguns. E completa: “Por causa do Evangelho, eu faço tudo para ter parte nele” (1Cor 9,23).

O segredo messiânico, tão típico do Evangelho de São Marcos, que indica a necessária ligação entre a missão de Jesus e a Cruz, se desfaz quando o Centurião, ao ver Jesus morrer na Cruz, diz: “Verdadeiramente este homem era Filho de Deus” (Mc 15,39). Depois de dizer aos discípulos que é o Messias (confissão de Pedro, Mc 8), já na Cruz desvela tudo aos olhos dos gentios (profissão de fé do Centurião, Mc 15,39) e, após a Ressurreição, envia os discípulos com o mandato de evangelizar: “Ide pelo mundo inteiro e proclamai o Evangelho a toda criatura! Quem crer e for batizado será salvo, mas quem não crer será condenado” (Mc 16,15). A nossa alegria evangélica está vinculada ao anúncio da salvação.

Somente em Jesus, nosso Messias Salvador, Aquele que vela com incansável amor sobre a Sua família é que pomos a nossa esperança. Nele encontramos a nossa Paz. Por isso, hoje, lhe pedimos confiantes que nos defenda sempre de todos os males com a Sua proteção (cf. Missal Romano, Coleta). A intercessão da Virgem Mãe das Dores alcance para nós um tempo de graça e consolação.

Diocese de Itumbiara
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A Diocese de Itumbiara foi criada no dia 11 de outubro de 1966, pelo Papa Paulo VI, desmembrada da Arquidiocese de Goiânia; seu território é de 21.208,9 km², população de 286.148 habitantes (IBGE 2010). A diocese conta 26 paróquias, com sede episcopal na cidade de Itumbiara-GO.

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