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A Mesa da Palavra – Sagrada Família

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A MESA DA PALAVRA
DOMINGO SAGRADA FAMILIA – ANO C
Solene Abertura do Ano Jubilar
Itumbiara, 29 de dezembro de 2024

“Não se perturbe o vosso coração” (Jo 14,1-7)

Caros amigos, irmãos peregrinos na esperança,
I. “Salve, cruz de Cristo, única esperança” (Dos textos litúrgicos do Jubileu).
Hoje a nossa celebração eucarística se iniciou de modo peculiar, com a simbólica statio, iniciada na Igreja São Pedro e São Paulo. Depois de termos ouvido o Evangelho e as palavras do Santo Padre, nós nos dirigimos em peregrinação à Igreja Catedral para celebrar o Dia do Senhor na Festa da Sagrada Família e, assim, “abrir o Ano Jubilar, acolhido como um dom de Deus”. Viemos até aqui seguindo a Cruz gloriosa do Filho de Deus. Fizemos memória do nosso Batismo com a aspersão penitencial da água lustral, Tudo isto para nos aproximarmos de Deus com o coração puro e liberto de todos os perigos da alma e do corpo.

Demos seguimento implorando ao Senhor a cura das feridas dos corações dilacerados. Pedimos a ruptura dos grilhões que nos mantêm escravos do pecado e prisioneiros do ódio. Rogamos também que nesta peregrinação e no curso de todo o Ano Jubilar os fiéis da nossa diocese recebam a inefável alegria do Espírito. Suplicamos ainda que estes dons nos ajudem a chegar à meta por nós desejada: Jesus Cristo, Filho de Deus e nosso Senhor.

Certamente, nesses gestos e palavras iniciais, encontramos a síntese dos tesouros da indulgência que o Jubileu da Encarnação nos proporcionará. Ao longo do Ano Jubilar experimentaremos, em diversos momentos, nas pequenas peregrinações às igrejas jubilares ou nas romarias espirituais, as graças que nos aproximam do Verbo Encarnado e dos tesouros por Ele deixados à Igreja.

O Santo Padre quis abrir o Ano Jubilar na Noite Santa do Natal, na Noite em que a Igreja celebra o nascimento do Filho de Deus revestido da nossa fragilidade. Na ocasião, o Papa Francisco afirmava que: “O Jubileu abre-se para que a todos seja dada a esperança, a esperança do Evangelho, a esperança do amor, a esperança do perdão”. A esperança do Evangelho nunca decepciona, porque é esperança de amor, é esperança de perdão.

Não se perturbe o vosso coração, diz o Senhor. Tendes fé em Deus, tende fé em mim também” (Jo 14, 1). Cultivemos a esperança com a força da misericórdia do Senhor, que saborearemos em cada oração, em cada Eucaristia celebrada e recebida, em cada confissão nossa. “Mas não esqueçais, irmãs e irmãos, que Deus perdoa tudo, Deus perdoa sempre. Não esqueçais isto, que é uma maneira de compreender a esperança no Senhor” (Papa Francisco, Homilia da Noite de Natal, 2024).

II. “Os pastores foram às pressas e encontraram Maria e José e o recém-nascido deitado na manjedoura” (Lc 2,16)
Este ano jubilar é sem dúvida uma maravilhosa ocasião de acorrermos pressurosos ao Senhor, na pobreza do Presépio como os pastores, na proximidade com os pobres, com os que sofrem toda sorte de opressão e injustiça. Jesus nasceu no seio de uma família pobre e humilde. Assumindo por amor a nossa humanidade desprovida de qualquer adereço, ele criou conosco laços de amor, de acolhimento, de respeito e proximidade.

Na contemplação da Família de Nazaré aprendemos que Deus honra o pai nos filhos e confirma sobre eles a autoridade da mãe. Em Jesus o Pai honrou a Virgem Maria e seu esposo São José. Quem respeita a mãe, diz a primeira leitura, é como alguém que acumula tesouros. Alargando um pouco a compreensão do texto sagrado, mas sem lhe ser infiel, podemos dizer que o Pai honrou a Virgem Maria ao enviar o Filho por meio dela e Jesus acumula tesouros de graça e misericórdia. A Igreja recorre a estes tesouros acumulados pelos santos para socorrer a miséria dos peregrinos na história e oferecer sufrágios pelas almas que padecem no purgatório.

O Ano Jubilar é um tempo de graça, um tempo de encontro com o Senhor. É um encontro pessoal, de nossas famílias, de nossa comunidade eclesial com aquele Jesus que “me amou e se entregou por mim”.

Hoje a Palavra se dirige às nossas famílias e expressa um modo concreto de observar com amor o sagrado preceito de honrar pai e mãe. Este preceito da Santa Lei de Deus não foi nem mitigado nem suprimido pela economia da graça. Nós podemos ver em várias passagens do Evangelho o amor do Filho de Deus por sua família terrena, a ponto de reconhecer a autoridade parental de José e Maria, a quem foi obediente. Era tal a sua sujeição à família terrena, que era conhecido como o filho do carpinteiro. Também vemos como os pais terrenos veneraram o Menino e puseram em risco a própria vida para que Ele crescesse a salvo das sanhas assassinas de pessoas investidas de autoridade não raro exercida abusivamente.

Neste ano de graça temos a ocasião de revisitar as nossas relações familiares e examinar as nossas atitudes. Como não pensar no cuidado de Jesus que, ao morrer, confiou sua Mãe ao discípulo amado João?

III. “Por isso, revesti-vos de sincera misericórdia e bondade…” (Cl 3,12)
A segunda leitura e o salmo responsorial apresentam o tema das relações familiares em consonância com a primeira, mas referindo-se especialmente ao modo de viver como família do Senhor: como comunidade eclesial.

Na Exortação Apostólica pós-sinodal Amoris Laetitia, o Papa Francisco nos convida a entrar, guiados pelo Salmista, numa casa construída sobre a rocha, através dum canto que ainda hoje se proclama nas liturgias nupciais quer judaica quer cristã: o Salmo 127/128. Esse lar é construído na rocha do temor do Senhor e da peregrinação pelos caminhos do Bom Deus. Este é o caminho que traz a felicidade à família e, por conseguinte, à comunidade dos filhos de Deus. Trabalho árduo, temor de Deus, peregrinação pelas vias do Senhor, estas são graças que nutrem a nossa esperança com a alegria de ver a bênção do Senhor. Contudo, no curso de nossa vida, também encontramos uma insatisfação permanente: queremos mais, temos sede de transcendência também para nossa vida familiar. « A esperança cristã é precisamente o “algo mais” que nos pede para avançarmos “apressadamente”. Realmente, nós, discípulos do Senhor, somos convidados a encontrar n’Ele a nossa maior esperança e a levá-la sem demora, como peregrinos de luz nas trevas do mundo » (Papa Francisco, Homilia da Noite de Natal, 2024).

O caminho a percorrer é o da certeza de sermos amados por Deus. Diz o Apóstolo aos cristãos de Colossos: “Vós sois amados por Deus, sois os seus santos eleitos” (Cl 3,12). Esta certeza nos enche de uma convicção de que nossa vida deve honrar o amor do Senhor por nós. “Por isso, revesti-vos de sincera misericórdia, bondade, humildade, mansidão e paciência, suportando-vos uns aos outros e perdoando-vos mutuamente, se um tiver queixa contra o outro” (3,13). Mas o Apóstolo nos convida a ir além: “Como o Senhor vos perdoou, assim perdoai vós também. Mas, sobretudo, amai-vos uns aos outros, pois o amor é o vínculo da perfeição” (3,14).

A esperança jubilar, fundada na misericórdia, é a de que reine a paz entre nós na comunhão dos santos: “Que a paz de Cristo reine em vossos corações, à qual fostes chamados como membros de um só corpo” (3,15). E ainda conclui com uma virtude muito apreciada por nosso Senhor: “E sede agradecidos”.

O texto merece ser todo ele objeto de uma detida meditação, pois fala da Igreja comunidade de fé e depois retorna à igreja doméstica para falar da alegria que deve reinar nos lares cristãos. A fonte de tal alegria se encontra na solicitude que marido e mulher, pais e filhos devem manifestar no seio da vida familiar, pois lá também “o amor é vínculo da perfeição”.

IV. “Três dias depois, o encontraram no Templo” (Lc 2,46)
Voltemos nosso olhar ao presépio, observemos a ternura de Deus manifestada no rosto do Menino Jesus, perguntemo-nos: “Há no nosso coração esta expetativa? Há no nosso coração esta esperança? […] Ao contemplar a bondade de Deus que vence a nossa desconfiança e os nossos medos, contemplemos também a grandeza da esperança que nos aguarda. […] Que esta visão da esperança ilumine o nosso caminho quotidiano” (C. M. Martini, Homilia de Natal, 1980).

É quase impossível afastar os nossos olhares da cena do presépio, da simplicidade e do carinho com que Maria e José acolhem a Jesus. Naquele local a grande pobreza não priva Jesus da dignidade ainda maior, de ser honrado pelas criaturas irracionais, pelos anjos cantores do primeiro Glória.

Maria e José reencontraram o Menino Jesus. Eles já perceberam que o filho está investido de uma missão toda sua. Já percebem que só há uma coisa que conta na vida de Jesus: o pleno cumprimento da vontade do Pai. Eles se apercebem disso ao ver que Jesus se separou do grupo e permaneceu no Templo. No entanto não compreenderam plenamente o alcance das palavras de Jesus: “não sabíeis que devo cuidar das coisas de meu Pai?”. Ele, por sua vez, não fez disso motivo de rebelião. Voltando do Templo, Ele se prepara para o desígnio divino com a submissão a Maria e a José e com o crescimento “em sabedoria, idade e graça, diante de Deus e dos homens” (Lc 2,52).

Olhar para o Presépio e contemplar o olhar de confiança do Menino, a segurança no amor de Maria e José, nos faz pensar na Igreja como nosso lar espiritual, muitas vezes semelhante a um presépio que devemos ornar com a nossa vida cristã acolhendo bem a Jesus. Pensar na Igreja como casa de Nazaré, onde Jesus se submete pacientemente às nossas fragilidades, incompreensões e nos sustenta com misericórdia.

As Igrejas jubilares da nossa Diocese, queridos irmãos e irmãs são o lugar de nossas peregrinações. É para nós que Jesus se abre nelas como a “porta santa” do amantíssimo coração de Deus. Jesus, Deus-conosco, caminha comigo e contigo. Ele vai também aos presídios e lugares de detenção para que a peregrinação dos homens e mulheres privados de liberdade possam encontrar consolação, conversão de vida e alegria no Senhor. E nós sabemos que com Ele a alegria floresce, com Ele a vida muda, com Ele a esperança não desilude.

Por isso, irmãos, não se perturbe o nosso coração, caminhemos na esperança.

Diocese de Itumbiara
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A Diocese de Itumbiara foi criada no dia 11 de outubro de 1966, pelo Papa Paulo VI, desmembrada da Arquidiocese de Goiânia; seu território é de 21.208,9 km², população de 286.148 habitantes (IBGE 2010). A diocese conta 26 paróquias, com sede episcopal na cidade de Itumbiara-GO.

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