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A Mesa da Palavra – Missa da Noite de Natal

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A MESA DA PALAVRA
Dom José Aparecido Gonçalves de Almeida
MISSA DA NOITE DE NATAL
Itumbiara, 24 de dezembro de 2024

Glória a Deus no mais alto dos Céus e paz na terra

Caros amigos,
Na liturgia do Natal celebramos o nascimento e a manifestação de Jesus Cristo, Luz do mundo, que vem para nos libertar das trevas em que o pecado nos imergiu. A Luz é o Filho de Deus! Contudo a Igreja não percebe o nascimento e as manifestações do Senhor como fatos ocorridos num passado distante, remoto. A graça do Natal continua. Continuam também o espanto, a surpreendente alegria trazida pela inenarrável manifestação do amor de Deus que nos salva com a Encarnação do Verbo.

Na Solenidade do Natal, se realiza a vinda do Filho de Deus na humildade da carne humana. Na pobreza da gruta de Belém começa a manifestar-se para nós a novidade de uma vida divina, que o despojamento de adereços supérfluos não esconde.

Meditemos sobre este mistério acontecido na gruta da “casa do pão”, na gruta de Belém.

I. “… fizestes resplandecer esta noite santíssima com a claridade da verdadeira luz” (Coleta).
Há belíssimas obras de pintores realistas, alguns da escola flamenga, que mostram Jesus no centro do quadro, como fonte da luz que ilumina todo o resto da obra. O Mistério do Natal com a sua luminosidade fica incrustrado no coração da realidade contemporânea ao pintor, fugindo à prisão do tempo e trazendo ao hoje a livre expressão da luz eterna.

Sim, a noite é iluminada pelo dia. Sim, o Verbo de Deus, representado pelo Evangeliário, abre-se à representação plástica da encarnação na terna imagem do Menino deposta sobre a humilde manjedoura. Ele, o Verbo de Deus humanado, entrando no tempo, vem se revelar como luz que resplandece no coração da história com a mesma luz a que se refere o autor do Apocalipse: “não haverá mais noite: não se precisará mais da luz da lâmpada, nem da luz do sol, porque o Senhor Deus vai brilhar sobre eles e eles reinarão por toda a eternidade” (Ap 22,5). Ao nascer no tempo Ele se revela luz como aquela que resplandece na Jerusalém celeste.

Aquele que é a Luz vem a nós, consentindo-nos contemplá-lo nos seus mistérios de sorte que possamos participar nos céus da sua Glória inefável. Este pedido o fazemos na Coleta. Sim a coleta reflete o que nos ensina o prólogo do quarto Evangelho sobre Aquele que é a verdadeira Luz.

Se o precônio pascal canta o mistério da Ressurreição que só a Noite conheceu, a solenidade de Natal nos ajuda a contemplar a beleza fulgurante da Noite que, com Maria e José, contemplou a primeira vinda do Verbo revestido da nossa fragilidade, como nos lembrou o Prefácio I do Advento. Ó Noite venturosa, que contemplas a luz essencial!

Por isso a Igreja canta a Deus nosso Pai que “no mistério da encarnação de vosso Filho, nova luz da vossa glória brilhou para nós”. E desde então, “reconhecendo a Jesus como Deus visível aos nossos olhos, aprendemos a amar nele a divindade que não vemos” (Prefácio I do Natal).

II. “Foi-nos dado um filho” (Is 9,5)
A antiga profecia de Isaías é uma pequena suma teológica. Reconhecendo no exílio foi um tempo em que o povo “andava na escuridão”, constata que a perda de liberdade faz dos exilados homens e mulheres que “habitavam nas sombras da morte”. Sim, o exilio a que nos relega o pecado é escuridão, é morada em sombras de morte. Mas o Deus libertador não nos relega às trevas da perdição. Ele nos faz ver uma grande luz que resplandece para quem Deus ama. Assim o profeta começa a falar das bênçãos messiânicas, que hão de brotar do rebento de Jessé, do menino que nasce para nós. Sim é uma promessa que se cumpre em Jesus, filho de Davi.A salvação é apresentada como resplendor de luz, luz que vem do alto, que faz crescer a alegria, cumular de felicidade. A manifestação luminosa do Senhor revela que nosso Deus é o Deus da libertação.

Este Menino tem títulos messiânicos muito expressivos: Conselheiro admirável, Deus forte, Pai dos tempos futuros e, finalmente, “Príncipe da Paz”. Ele tem sabedoria maior que a de Salomão, coragem mais viva que a de Davi, a piedade de Moisés e dos patriarcas. O Príncipe da Paz é o verdadeiro Emanuel: o verdadeiro Deus conosco.

Nem é necessário fazer grande esforço interpretativo para o reconhecimento quase imediato das qualidades do Filho de Deus humanado, de Jesus, nessas profecias.

III. “A graça de Deus se manifestou trazendo salvação para todos os homens” (Tt 2,11)
A carta do Apóstolo dos gentios ao discípulo Tito nos mostra a realização da profecia de Isaías – que Paulo bem conhecia – também em relação ao povo da nova aliança.  A graça de Deus “nos ensina a abandonar a impiedade e as paixões mundanas e a viver neste mundo, com equilíbrio, justiça e piedade” (Tt 2,12). A novidade de vida moral não é fruto de decisão determinada por uma fortaleza pelagiana. Abandonar o pecado e caminhar livre do espírito mundano é fruto da graça de Deus que fortalece as nossas decisões e nos torna capazes de corresponder à vontade do Pai.

Mas atenção. Não se trata apenas de virtudes individuais. São virtudes que dizem respeito à convivência fraterna tanto na comunidade eclesial como na sociedade de que somos cidadãos. Acolhendo a graça e decidindo a viver como pessoas comprometidas com o Senhor, só então estaremos em condições de viver “aguardando a feliz esperança e a manifestação da glória do nosso grande Deus e Salvador, Jesus Cristo” (Tt 2,13).

Com efeito, o Apóstolo tira as consequências práticas do mistério da redenção. Ele nos ensina que Jesus, o filho de Maria, “se entregou por nós para nos resgatar de toda a maldade e purificar para si um povo que lhe pertença e se dedique a praticar o bem” (Tt 2,14). Nosso resgate é fruto da perfeita oblação realizada por Jesus, o que foi possível por ter Ele assumido a nossa natureza mortal no ventre virginal de Maria.

IV. “Hoje nasceu para vós um Salvador, que é o Cristo Senhor” (Lc 2,11)
Irmãos caríssimos, poderíamos enveredar por uma reflexão que pusesse em evidência todas as consequências práticas da escolha feita pelo Senhor de assumir a nossa natureza humana para nos resgatar da nossa miséria mediante o sacrifício da Cruz. Mas esta noite é muito especial. Até os anjos vêm anunciar a alegria, não o peso dos compromissos. Ao longo do ministério público de Jesus, Ele mesmo nos confrontará com as exigências do Evangelho. Esta noite, assim como a da Páscoa, é uma noite festiva.

Depois da preocupação de José por não encontrar hospedagem e ver Maria prestes a dar à luz, depois de terem encontrado uma manjedoura e preparado a pobreza para acolher carinhosamente o Senhor, no meio da noite, nasce o Menino, rebento da raiz de Jesse, da estirpe real de Davi. Nasce na pobreza, acolhido pelas criaturas, acolhido pela nobreza de José e Maria, nasce sem um lugar entre os que se consideram grandes na terra, sem um lugar para hospedar os peregrinos…

Mas o céu não deixa de se manifestar. De fato, os anjos anunciam aos pastores: “Não tenhais medo! Eu vos anuncio uma grande alegria, que o será para todo o povo: Hoje, na cidade de Davi, nasceu para vós um Salvador que é o Cristo Senhor” (Lc 2,10-11).

E à chegada dos pastores junto do presépio “juntou-se ao anjo uma multidão da corte celestecantavam louvores a Deus dizendo: ‘Glória a Deus no mais alto dos céus e paz na terra aos homens por ele amados” (Lc 2,14).

Sim, irmãos. Chegou o Príncipe da Paz. Inerme, pobre, com a única riqueza de estar circundado de arautos da criação, pregoeiros celestes e pastores amorosos, talvez sem entender bem…

Nesta noite colocamos a imagem do Menino no nosso presépio cheio de ternura e beleza. Nesta noite, acorremos ao altar cantando o cântico angelical: Glória in excelsis Deo. Nesta noite fazemos festa. Quem sabe hoje nos lugares em guerra, não aconteça uma trégua para homenagear o Príncipe da Paz.

A trégua de Natal foi um acontecimento singular que ocorreu na Primeira Guerra Mundial, em 25 de dezembro de 1914, nas proximidades de Ypres, na Bélgica. A trégua foi protagonizada por soldados alemães, britânicos e franceses que, apesar de estarem em confronto há meses, decidiram se mostrar descontraídos e festivos.

Quem sabe se hoje, nos conflitos que há entre nós não decidamos por um armistício para cantar juntos um Adeste fideles ou um Stille Nacht, um Noite feliz.

Eu vos anuncio uma grande alegria: nasceu hoje para nós um menino: que é o Cristo Senhor. Traga Ele a paz aos nossos corações e nos livre das aflições.

Meus queridos irmãos, queridos fiéis da Igreja de Itumbiara aqui presentes: desejo a todos, de coração a bênção de um feliz e Santo Natal.

Diocese de Itumbiara
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A Diocese de Itumbiara foi criada no dia 11 de outubro de 1966, pelo Papa Paulo VI, desmembrada da Arquidiocese de Goiânia; seu território é de 21.208,9 km², população de 286.148 habitantes (IBGE 2010). A diocese conta 26 paróquias, com sede episcopal na cidade de Itumbiara-GO.

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