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A Mesa da Palavra – Homilia na Missa de abertura do  Encontro Nacional de Formação – 2024

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A MESA DA PALAVRA
Dom José Aparecido Gonçalves de Almeida
RENOVAÇÃO CARISMÁTICA CATÓLICA
Homilia na Missa de abertura do
Encontro Nacional de Formação – 2024

Memória de São Francisco de Sales
Bispo e Doutor da Igreja

 

Caros irmãos Carismáticos,

Como é bom estarmos aqui! Como é bom estarmos neste Santuário Nacional de Aparecida, com sede de louvor e adoração do nosso Deus, junto da imagem da Imaculada que foi prodigiosamente resgatada nos meandros do Rio Paraíba, bem pertinho daqui. Assim como socorreu com peixes e a sua imagem os três pescadores, Ela agora nos socorre com a sua poderosa intercessão nas intempéries que o tempo presente nos reserva. Estamos em tempos de guerra. E a nossa batalha é um combate espiritual. Queremos ser santos, queremos ser apóstolos, com todas as forças da nossa alma.

A história da Igreja nos mostra que a santidade é acessível a todos, embora o caminho seja árduo, como o é o de um amor exigente. Hoje, a liturgia nos dá o exemplo de São Francisco de Sales, que viveu em tempos difíceis e foi luzeiro de santidade para uma multidão. Inspirou São João Bosco, entre outros. E como não lembrar o querido Padre Jonas, de saudosa memória, que conheceu bem a espiritualidade de São Francisco de Sales.

São Francisco de Sales  teve a árdua missão de ser Bispo Católico num ambiente difícil e repleto de conflitos religiosos. Revelou-se um grande pastor e doutor da Igreja. Soube ser testemunha atraente do amor de Deus. “Ó Deus – rezei após o ato penitencial – quisestes que na caridade apostólica o bispo São Francisco de Sales se fizesse tudo para todos”.

Nessa oração a Igreja invoca o Deus de amor que concedeu a São Francisco de Sales a unção de uma grande caridade apostólica. Na sua pregação apresenta uma vida de santidade acessível a todas as condições sociais, fundada inteiramente no amor a Deus, síntese de toda a perfeição cristã.

E a oração litúrgica continua rogando ao Senhor Deus: “concedei-nos benigno que, a seu exemplo, manifestemos sempre a mansidão do vosso amor no serviço dos irmãos” . Com sabedoria pastoral e doçura espiritual, fruto da correspondência à graça de Deus, soube colocar-se com amor ao serviço também dos irmãos que se haviam separado da Igreja na reforma calvinista. Irmãos, tomemos posse desta graça suplicada. Deus no-la concede generosamente.

São Francisco de Sales intercede por nós hoje, ao começarmos este ENF. A sua intercessão amorosa nos ajuda a perceber o que ele mesmo ensinou em vida: que todos podemos ser santos, pois foi o próprio Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo que “nos escolheu antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis diante dele no amor” (Ef. 1,4). E para alcançarmos tal santidade o próprio Deus “nos abençoou com toda sorte de bênçãos espirituais, nos Céus, em Cristo” (Ef 1,3).

Como o fez no passado, hoje também o Espirito quer escrever em nossas vidas o Evangelho vivo. A santidade é a Palavra encarnada em nossas vidas, em nossos corações, em nossos corpos.

Acorremos a este Santuário, acorremos a este Encontro Nacional de Formação para sermos servos melhores, mais encantados com as maravilhas que Deus fez, faz e há de fazer, se lho permitimos. Se Ele nos criou sem nós, não nos salva nem nos santifica sem que lho consintamos . Deus é gentil, pede licença para entrar, bate à porta…

Irmãos, vindos de todas as regiões do nosso imenso Brasil declaramos aqui aos pés de nossa Mãe Aparecida, que desde já queremos acolher tudo o que o Senhor Jesus sugerir nesses dias a cada um de nós, aos nossos Grupos de Oração espalhados pelo Brasil.
Sob o olhar amoroso da nossa Igreja, acolheremos tudo em espírito de comunhão. A minha presença aqui, enviado pela nossa Conferência Episcopal, é o sinal do afeto dos Sucessores dos Apóstolos que pastoreiam as dioceses do Brasil e um selo de garantia do desejo inato da RCC de estar em plena comunhão na obediência, na unidade da fé que professamos e no amor que nos move a todos. Como é bom estar aqui como irmão e sinal do pastoreio da Igreja, nossa Mãe!

A RCC está espalhada pelos vários estados, presente nas várias dioceses como luz de esperança e testemunho de confiança no imenso poder santificador do Espirito de Amor que o Ressuscitado nos envia. Este poder transformador alcança homens e mulheres de todas as extrações sociais, de todas as etnias, com os variados e deliciosos sotaques que dão beleza à “última flor do Lácio, inculta e bela”. Nesta língua tão bela celebramos nossa liturgia com a nova tradução do Missal Romano recentemente aprovada para o Brasil. Nesta língua tão versátil prorrompemos em exuberantes manifestações de louvor, de ação de graças, de súplicas e de intercessão. Graças e louvores sejam dadas ao Senhor que nos trouxe até aqui, para fazer esta experiência de comunhão com o Senhor e entre nós! E é na oração em línguas que nesses dias o ardente louvor irá até onde o nosso falar ordinário não consegue chegar. Aqui se revigorará a experiência do primeiro amor, aqui se renovarão os propósitos apostólicos e de santidade. Aqui nesses dias, testemunharemos as maravilhas do Espírito Santo continuará a realizar em nós.

Nestes últimos dias o Conselho Nacional do Movimento da Renovação Carismática Católica do Brasil esteve reunido para perscrutar o que o Espírito diz à Igreja, em particular a esta porção nem tão pequena da Grei de Cristo. Foram dias de intenso trabalho para melhor glorificar o Senhor. Aqui o Conselho orou muito pedindo a Deus que atendesse às suas súplicas dando-lhe luz para ver o que deve ser feito e coragem para realizar o que viu em oração . O bom Deus não deixou de dar luzes para ver o que espera de nós nesses próximos anos. E confiamos que nos será dada a graça necessária para correspondermos à Sua vontade com todo o amor. O caminho pode ser árduo, mas o Senhor não nos priva da sua amorosa presença, nem da sua misericórdia. Ele assumiu a nossa humanidade, Ele conhece a nossa fragilidade. Eis porque suscitou esta Corrente de Graça para nos suster no caminho da santidade e do apostolado vincado pela experiência do Batismo do Espirito Santo.

Na primeira leitura vemos o Profeta Natã, que havia confirmado o desejo de Davi de construir um templo para o Senhor, agora exortando-o a não construir. Davi sentia o peso de morar numa cidade e de ter a Arca da Aliança, sinal da presença misteriosa de Deus, numa pobre tenda fora da cidade. Mas o Deus de Israel que acompanha nas batalhas o seu povo, esse Deus é peregrino, é um Deus nômade, sem morada fixa em casas de pedra. “Estive contigo em toda parte por onde andaste, e exterminei diante de ti todos os teus inimigos, fazendo o teu nome tão célebre como o dos homens famosos da terra” (2 Sm 7,9).

Efetivamente Deus gosta de morar em templos construídos de pedras vivas, na Igreja viva. Ele mora onde nós, pedras vivas levamos nossa vida, nossos trabalhos, nossas relações sociais e humanas. Ele sempre quer permear nos nossos passos. Não pode ser encerrado num templo de pedras. Antes é o Senhor quem fará uma casa para a linhagem de Davi: “E o Senhor anuncia – diz Natã a Davi – que te fará uma casa” (2Sm 7,11). A casa que Deus constrói para Davi é a linhagem real da qual nascerá Jesus. Mais tarde Deus aceitará Salomão lhe dedique um Templo esplendoroso, como promete a Davi: “suscitarei, depois de ti, um filho teu, e confirmarei a sua realeza. Será ele que construirá uma casa para o meu nome e eu firmarei para sempre o seu trono real” (2Sm 712-13). Só Ele é Rei. Só Ele é Senhor. Só Deus é o Pastor de Israel.

A RCC tem uma sede em curso de construção. Esta sede será o lugar precioso onde muitos virão e encontrarão um lugar de renovação, de refrigério, de aprofundamento espiritual.
Um lugar que Deus abençoa desde já. Nessa bem perto daqui os Carismáticos do Brasil inteiro, aliás não somente o povo da RCC, reconhecerão sua casa espiritual. São as pedras vivas da RCC que edificam o lugar onde Deus quer derramar muita graça e unção espiritual.

Retomemos o Santo Evangelho aqui proclamado. Jesus começa a contar a parábola do semeador dizendo: “Saiu o semeador a semear” (Mc 4,3).

Depois de muito refletir sobre o verbo “levantar-se” durante o ano passado, a RCC, neste ano de 2024, quer dedicar-se ao verbo “Ir”. Ide, sim, Ide.

No antigo uso da Liturgia Romana, o Evangelho de hoje era lido no Domingo da Sexagésima, três domingos antes da quaresma. Padre Antônio Vieira, no Sermão da Sexagésima, assim comenta o versículo com o verbo sair:

«Diz Cristo que “saiu o pregador evangélico a semear” a palavra divina. Bem parece este texto dos livros de Deus. Não só faz menção do semear, mas também faz caso do sair: Exiit, porque no dia da messe hão-nos de medir a semeadura e hão-nos de contar os passos. O Mundo, aos que lavrais com ele, nem vos satisfaz o que dispendeis, nem vos paga o que andais. Deus não é assim. Para quem lavra com Deus até o sair é semear, porque também das passadas colhe fruto. Entre os semeadores do Evangelho há uns que saem a semear, há outros que semeiam sem sair. Os que saem a semear são os que vão pregar à Índia, à China, ao Japão; os que semeiam sem sair, são os que se contentam com pregar na Pátria. Todos terão sua razão, mas tudo tem sua conta. Aos que têm a seara em casa, pagar-lhes-ão a semeadura; aos que vão buscar a seara tão longe, hão-lhes de medir a semeadura e hão-lhes de contar os passos. Ah Dia do Juízo! Ah pregadores! Os de cá, achar-vos-eis com mais paço; os de lá, com mais passos: Exiit seminare» .

Padre Vieira fala aos pregadores do Evangelho e os exorta a ir. O seu irmão de hábito mais próximo de nós, o Papa Francisco, também nos exorta a ser Igreja em saída.

Acompanhemos esta forte exortação a “Ir” para anunciar o Evangelho com a palavra norteadora da RCC para este ano: “A paz esteja convosco! Como o Pai me enviou, assim também eu vos envio a vós” (Jo 20,21). Trata-se de um envio de amor. Jesus, amado pelo Pai, sopra o Espírito Santo sobre os discípulos e os envia com o poder de perdoar os pecados, isto é, de abrir as portas do céu. É o Ressuscitado quem envia. Ele comunica a Paz. Ele comunica-Se a nós: “Cristo é a nossa paz, ele que de dois povos fez um só, destruindo o muro que os separava” (Ef 2,14).

Para os cristãos da primeira hora, esta saudação não era apenas uma retomada da saudação hebraica Shalom, que já era forte em seu conteúdo, relacionado com a segurança e a justiça entre os povos, mas também com o desejo de bem estar para todos e um convite a uma relação reconciliada com Deus. A saudação cristã eirene (grego) ou pax (latim) comunica ao irmão o desejo de que esteja em amizade com Cristo ressuscitado e com o Seu Corpo, a Igreja. Ele é a nossa Paz! Saudavam sempre assim, sem nenhuma outra saudação grega ou romana, nem um bom dia. Era sempre “Paz”: estar em Cristo de sorte que a última palavra que cada cristão ouvia de um irmão era uma bênção: “a Paz”, o refrigério do descanso eterno em Deus.

O Senhor fala de uma semeadura. Fala em parábolas, para que a compreendam os discípulos pois a eles foi dado conhecer os mistérios do Reino. A eles foi dado conhecer Aquele que tem em si toda a Realeza. “Tu o dizes: eu sou rei. Para isso nasci e para isto vim ao mundo: para dar testemunho da verdade. Quem é da verdade escuta a minha voz” (Jo 18,37).

Irmãos, hoje e nos dias a seguir, estamos recebendo Cristo, nossa Paz, na mesa da Palavra e na mesa da Eucaristia. Viemos aqui para ser um com Ele, para recebermos a semente da Palavra e sair para semeá-la. Ouçamos todo o Evangelho e os dois verbos usados por Jesus. O Semeador saiu para semear. No fim do Evangelho, no segredo com os discípulos Jesus fala de mais um verbo que sustenta o ir e o semear: o ouvir.

Acolhamos a graça destes dias. Se precisarmos de cura para que os nossos ouvidos ouçam, lembremo-nos do efata do nosso batismo e estaremos aptos a ouvir. Se depois de termos ouvido, estivermos coxos, deixemos que o Senhor nos cure as pernas para O seguirmos no caminho. Se nos preocupa a quantidade dos frutos a alcançar, reconciliemo-nos com a qualidade do nosso amor a Cristo. Nosso mandato é IR para semear. O incremento é Deus quem o dá.

Vem, luz verdadeira,
Vem, vida eterna,
Vem, mistério escondido,
Vem, tesouro inefável,
Vem, felicidade sem fim,
Vem, esperança dos que serão salvos,
Vem, Ressurreição dos mortos,
Vem, força divina que tudo completas, mudas e transformas,
Vem, tu, que a todo instante nos inspiras,
Vem, tu que a todo instante nos visitas,
Vem, tu que a todo instante nos tornas tua morada,
Vem, Senhor, sopro do Pai e do Filho,
vem aos nossos corações,
transforma-os e torna-os corações de filhos
na expectativa da palavra de Cristo que Tu nos trazes,
porque dela Tu és companheiro inseparável,
Vem, Espírito Santo, acolhe as nossas preces,
une-Te às nossas preces, realiza a nossa prece.
(São Simeão, o Novo Teólogo, 949-1022)

 

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A Diocese de Itumbiara foi criada no dia 11 de outubro de 1966, pelo Papa Paulo VI, desmembrada da Arquidiocese de Goiânia; seu território é de 21.208,9 km², população de 286.148 habitantes (IBGE 2010). A diocese conta 26 paróquias, com sede episcopal na cidade de Itumbiara-GO.

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