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Solenidade da Páscoa da Ressurreição do Senhor

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A MESA DA PALAVRA
Solenidade da Páscoa da Ressurreição do Senhor
Vigília Pascal na Noite Santa
Itumbiara, 19 de abril de 2025
“O Senhor Ressuscitou verdadeiramente! Aleluia!”
Queridos irmãos,
I. Χρήστος ανέστη. Αληθώς ανέστη.
É costume das igrejas orientais católicas e ortodoxas, durante os cinquenta dias do Tempo Pascal saudarem-se dizendo assim: “Kristos anesti!” E recebem a resposta: “Alithos anesti!”. Nos encontros quotidianos e na vida litúrgica não se diz mais bom dia, boa tarde, boa noite. O melhor cumprimento é “Cristo ressuscitou” com a resposta “Ressuscitou de verdade!”.
Qualquer outra saudação não deixa ver o motivo central da alegria do Cristão – alegria é fruto do Espírito Santo – que é a Ressurreição do Senhor. Tão forte que nas liturgias já não se canta Salve Rainha, mas a belíssima antífona mariana “Regina Coeli, laetare alleluia!”. Esta antífona substitui durante todo o tempo pascal a oração do Angelus. Até parece que a Igreja não se contenta enquanto não conseguir comunicar a Nossa Senhora que o sofrimento da paixão de Seu Filho, da espada de dores que trespassa o seu coração, já passou. Agora resta apenas um perigo: o perigo de morrer de amor, de morrer de alegria pascal.
Esta liturgia, que é a mãe de todas as vigílias, traz a luz do Ressuscitado às trevas da morte, morte que ainda nos paralisa até recebermos o anúncio das testemunhas da Ressurreição.  A bênção do fogo novo que abre a solene Vigília tem início fora da igreja. A igreja estava com as luzes apagadas. Eis senão quando, traçado o sinal da cruz inicial, logo se ouve a belíssima oração: “Ó Deus, que pelo vosso Filho trouxestes o clarão da vossa luz àqueles que creem, santificai este fogo novo”. O clarão da luz de Deus vem brilhar na Igreja através do sinal do fogo novo abençoado. Quantas vezes não cantamos: “Sim, eu quero que a luz de Deus que um dia em mim brilhou jamais se esconda e não se apague em mim o seu fulgor”. Mas após o louvor de Deus pela luz de sua claridade, a Igreja pede mais, pede o céu: “Concedei que a festa da Páscoa acenda em nós tal desejo do céu, que possamos chegar purificados à festa da luz eterna”. Experimentada a força da ressurreição do Senhor, a Igreja não se cansará mais de buscar o céu para os seus filhos, E recebe os meios necessários para mostrar o caminho e entregar a graça para chegar à meta.
A bênção do Círio nos mostra que os sinais da Cruz não foram apagados. O Senhor Ressuscitado os levará ao céu. A Cruz do Ressuscitado inscrita no Círio mostra agora a potência renovadora da Páscoa. Ao abençoar Círio a Igreja já dentro do templo semi-iluminado, canta o Precônio pascal. São muitos os convidados a exultar: “Exulte o céu”, sim o céu louva o ressuscitado. E os anjos triunfantes, mensageiros de Deus, são convocados a descer cantando até o coração desta liturgia. Cantando e tocando trombetas fulgurantes. Como não lembrar os anjos musicantes do Beato Frá Angélico?
Junto com a Corte Celeste a Igreja convoca também a terra amiga a se alegrar. Como não pensar que toda a terra, toda a criação – evocada na Campanha da Fraternidade deste ano –, é chamada a prorromper de alegria, pois que as trevas que conheceu do pecado agora são afugentadas pelo Sol do Eterno Rei que resplandece?
Convida-se a Mãe Igreja a se alegrar erguendo o fogo novo, celebrando a solene liturgia, uma liturgia cósmica, à qual as vozes do povo ressoam enquanto se levantam as velas do fogo novo.
Mas o convite não é genérico. “E vós que estais aqui, irmãos queridos, em torno desta chama reluzente, erguei os corações e assim, unidos, invoquemos a Deus onipotente”. Elevemos os corações sim irmãos. A luz de Cristo resplandecente na fragilidade bruxuleante do pavio do Círio e de nossas velas, não quer se esconder. Ela rompe a escuridão.
Com a luz de Cristo iluminando a Igreja e sinalizando as multidões do céu presentes junto conosco, podemos ouvir a narração da história da salvação, muitas páscoas de libertação ao longo dos séculos, que apontarão para a graça da libertação do poder do pecado e da morte na nova e eterna aliança, sancionada pelo sangue do Cordeiro.
II. “Gaudium magnum nuntio vobis, quod est aleluia”.
Chegamos a um momento significativo da Vigília Pascal: o anúncio do Aleluia pascal. O Diácono, na Liturgia papal, dirige-se ao Pontífice e diz: “Beatissime Pater, annuntio vobis gaudium magnum, quod est Alleluia”. Santo Padre, eis que anuncio uma grande alegria, que é o Aleluia. E a Igreja unida a Pedro, depois dos quarenta dias de jejum de aleluias, volta a entoar os seus aleluias. Louvores ao Filho de Deus redivivo, louvores ao Deus e Pai de nosso Senhor.
A longa proclamação dos mistérios do Senhor que culmina com a Epístola aos Romanos explicando as maravilhas que se operam no batismo e no Evangelho em aparecem algumas mulheres indo ao túmulo de Jesus, ansiosas porque não encontraram o corpo do Senhor. Aparecem então dois homens de roupas brilhantes, param perto delas e dizem às mulheres cheias de temor: “Por que estais procurando entre os mortos aquele que está vivo?”. Irmãos, quantas vezes isso não acontece? Quem sabe se nossas orações não são ouvidas porque nos dirigimos a uma personagem do passado, quando o nosso Deus e Senhor não está morto: o túmulo está vazio. Nossa religião, às vezes, pode parecer a busca de um Deus morto. Ressuscitou! Ele vive! E é precisamente esta vida nova que vamos conferir aos catecúmenos que daqui a pouco serão batizados, crismados e alimentados com o Pão da Vida.
Na Vigília Pascal de 2010, o Papa Bento XVI contou aos presentes uma antiga lenda judaica, tirada do livro apócrifo “A vida de Adão e Eva”. Segundo esta lenda Adão, durante a sua última enfermidade, teria mandado o filho Set juntamente com Eva à na região do Paraíso buscar o óleo da misericórdia, para ser ungido com este e assim ficar curado. Aos dois, depois de muito rezar e chorar à procura da árvore da vida, aparece o Arcanjo Miguel para dizer que não conseguiriam obter o óleo da árvore da misericórdia e que Adão deveria morrer. Mais tarde, os leitores cristãos adicionaram a esta comunicação do arcanjo, uma palavra de consolação. O Arcanjo teria dito que, depois de 5.500 anos, viria o benévolo Rei Cristo, o Filho de Deus, e ungiria com o óleo da sua misericórdia todos aqueles que acreditassem nele.
O Batismo é o bálsamo de imortalidade dado pela Igreja aos que professam a fé no Ressuscitado. Por ele recuperamos a força da vida sobrenatural e nos tornamos outros Cristos, ungidos no meio do mundo para levar o mesmo bálsamo aos homens de toda raça e nação.
III. O Rito do Batismo.
Acompanhemos a douta explicação da liturgia batismal oferecida com tanta beleza pelo saudoso Papa Bento XVI.
No rito do Batismo, há dois elementos nos quais este evento se expressa e torna visível, também como exigência para o resto da nossa vida.
“Em primeiro lugar, temos o rito das renúncias e das promessas. Na Igreja Antiga, o batizando virava-se para ocidente, símbolo das trevas, do pôr do sol, da morte e, portanto, do domínio do pecado. O batizando virava-se para aquela direção e pronunciava um tríplice “não”: ao diabo, às suas pompas e ao pecado. Com a estranha palavra “pompas”, ou seja, o fausto do diabo, indicava-se o esplendor do antigo culto dos deuses e do antigo teatro, onde a diversão era ver pessoas vivas sendo dilaceradas pelas feras. Portanto, este “não” era o repúdio de um tipo de cultura que acorrentava o homem à adoração do poder, ao mundo da cobiça, à mentira, à crueldade. Era um ato de libertação da imposição de uma forma de vida que se apresentava como prazer e, contudo, levava à destruição daquilo que no homem são as suas qualidades melhores.
“Esta renúncia – com um comportamento menos dramático – constitui ainda hoje uma parte essencial do Batismo. Assim removemos as “vestes velhas”, com as quais não se pode estar diante de Deus. Melhor dito: começamos a depô-las. Com efeito, esta renúncia é uma promessa na qual damos a mão a Cristo, para que Ele nos guie e revista. Quais sejam as “vestes” que depomos e qual seja a promessa que pronunciamos fica claro quando lemos, no quinto capítulo da Carta aos Gálatas, aquilo que Paulo denomina “obras da carne” – termo que significa precisamente as vestes velhas que devem ser depostas. Paulo as designa assim: “fornicação, libertinagem, devassidão, idolatria, feitiçaria, inimizades, contendas, ciúmes, iras, intrigas, discórdias, facções, invejas, bebedeiras, orgias e coisas semelhantes a essas” (Gal 5, 19ss). São estas as vestes que depomos; são vestes da morte.
“Em seguida, o batizando na Igreja Antiga se voltava para oriente – símbolo da luz, símbolo do novo sol da história, novo sol que se levanta, símbolo de Cristo. O batizando determina a nova direção da sua vida: [professa] a fé no Deus trinitário, a quem ele se oferece. Assim, o próprio Deus nos veste com o traje de luz, com a veste da vida. Paulo chama a estas novas “vestes” “fruto do Espírito” e as descreve com as seguintes palavras: “caridade, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, lealdade, mansidão, continência” (Gal 5, 22)”. [Estas são, queridos catecúmenos, as vestes com que deverão de agora em diante ornar a sua alma].
“Na Igreja Antiga, depois o batizando era verdadeiramente despojado das suas vestes. Descia à fonte batismal e era imerso por três vezes – símbolo da morte que significa toda a radicalidade deste despojamento e desta mudança de veste. Esta vida, que em todo o caso já está voltada à morte, o batizando a entrega à morte, junto com Cristo, e por Ele se deixa arrastar e elevar para a vida nova, que o transforma para a eternidade. Depois subindo das águas batismais, os neófitos eram revestidos com a veste branca, a veste luminosa de Deus, e recebiam a vela acesa como sinal da vida nova na luz que Deus mesmo acendera neles. Eles sabiam que tinham obtido o remédio da imortalidade, que agora, no momento de receber a sagrada Comunhão, tomava a sua forma plena. Na Comunhão, recebemos o Corpo do Senhor ressuscitado e nós mesmos somos atraídos para este Corpo, de tal modo que ficamos já guardados por Aquele que venceu a morte e nos conduz através da morte”.
No decorrer dos séculos, os símbolos tornaram-se mais escassos, mas o acontecimento essencial do Batismo continue sendo o mesmo. Este não é apenas um lavacro, e menos ainda uma recepção um pouco complicada numa nova associação. O Batismo é morte e ressurreição, renascimento para a nova vida.
Sim, a erva medicinal contra o veneno da morte existe. Cristo é a árvore da vida, que se fez novamente acessível. Se aderimos a ele, então estamos na vida. Por isso, nesta noite da ressurreição, cantaremos com todo o coração o aleluia, o canto da alegria que não tem necessidade de palavras. Por isso Paulo pode dizer aos Filipenses: “alegrai-vos sempre no Senhor; eu repito, alegrai-vos!” (Fl 4, 4). Não se pode comandar a alegria. Somente pode ser dada. O Senhor ressuscitado nos dá a alegria: a verdadeira vida, [a vida segundo o Espírito].
Aos que batizarei agora, peço que se entreguem de coração às maravilhas da graça de Deus com que serão tocados e ungidos. Abram com fé o coração ao Senhor que os resgatou a caro preço. Aos irmãos já batizados, revigorem as renúncias feitas outrora às pompas da antiga serpente e renovem com fervor a profissão da fé nAquele que os amou até o fim.
Já estamos protegidos para sempre guardados no amor dAquele a quem foi dado todo o poder no céu e na terra (cf. Mt 28,18). Assim, seguros de ser escutados, façamos nosso o pedido que a Igreja eleva nesta noite, na oração sobre as oferendas:
“Acolhei, ó Deus, com estas oferendas as preces do vosso povo, para que a nova vida, que brota do mistério pascal, seja por vossa graça penhor da eternidade. Amém”.
Diocese de Itumbiara
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A Diocese de Itumbiara foi criada no dia 11 de outubro de 1966, pelo Papa Paulo VI, desmembrada da Arquidiocese de Goiânia; seu território é de 21.208,9 km², população de 286.148 habitantes (IBGE 2010). A diocese conta 26 paróquias, com sede episcopal na cidade de Itumbiara-GO.

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