A MESA DA PALAVRA
Cátedra de São Pedro Apóstolo
Itumbiara, 22 de fevereiro de 2025
Ordenação Diaconal de MATEUS HENRIQUE
“Em tudo dai graças!” (1Ts 5,18)
Venerados irmãos no Sagrado Ministério,
Reverendíssimo e estimado Pe. Erick, Pároco, nosso amável anfitrião,
Reverendíssimo Pe. Jaivalton, Formador do Seminário Interdiocesano de Goiânia
Prezadas irmãs e irmãos da vida consagrada
Queridos familiares do nosso ordinando
Estimados irmãos no Batismo,
Caríssimo filho Mateus Henrique,
I. “Tu es Petrus et super hanc petram aedificabo Ecclesiam meam…”.
“Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja e as portas do inferno nunca prevalecerão contra ela. Eu te darei as chaves do Reino dos e o que ligares na terra será ligado nos céus; e o que desligares na terra será desligado nos céus”. Esta frase está inscrita na cúpula em cima do relicário com a relíquia da Cátedra de Pedro. Ambos são símbolos que ressaltam o ministério do Sucessor do Príncipe dos Apóstolos e seus sucessores na Sé Romana. Já no-lo atestam Santo Inácio de Antioquia (Aos Romanos, Pref. Funk, I, 252) e Santo Ireneu de Lião (Contra as heresias III, 3, 2-3).
Examinemos mais atentamente a cena evangélica. Nosso Senhor estava a caminho de Cesareia de Filipe quando perguntou a seus discípulos sobre a Sua própria identidade. Então Ele se designou a si mesmo como “Filho do homem”. Esta expressão deixa entrever uma origem divina unida a um rosto humano (cf. Dt 7, 10-14), mas ao mesmo tempo, evoca o Servo sofredor (cf. Mt 20,28). Jesus leva os Seus discípulos a descobrirem quem Ele é, perguntando o que dizem as pessoas e depois, o que eles pensam. Pedro responde: “Tu és o Messias, o Filho do Deus vivo”. O libro de Samuel anunciava um descendente de Davi a quem Deus trataria como filho (cf. 2 Sam 7,14). Davi prometia construir um templo para Deus. Jesus anuncia outro templo, a Igreja: “Feliz és tu, Simão, filho de Jonas, porque não foi a carne nem o sangue que te revelaram isso, mas o meu Pai que está no céu. Por isso eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela”. O Senhor havia dito ao pescador da Galileia que se chamaria Cefas, “Pedra” (Jo 1,42). Jesus faz outra promessa a Pedro: “Eu te darei as chaves do Reino dos Céus: tudo o que tu ligares na terra será ligado nos céus; tudo o que tu desligares na terra será desligado nos céus”. Jesus abre as portas do Céu; como novo Davi, tem “a chave de Davi” (Ap 3,7).
Na basílica de São Pedro em Roma, o então papa Bento XVI disse que “a grande cátedra de bronze contém dentro dela uma cadeira em madeira, do século IX, que foi considerada durante muito tempo a cátedra do apóstolo Pedro (…) e exprime a presença permanente do Apóstolo no magistério dos seus sucessores” (Homilia, 19-02-2012). Podemos dizer que a Cátedra de São Pedro é o trono da verdade, cuja origem está no mandato de Cristo depois da confissão em Cesareia de Filipe. O bispo de Roma, como sucessor de São Pedro, é o perpétuo e visível princípio e fundamento da unidade (LG 23) da Igreja. É assistido pelo Espírito Santo com o especial carisma da infalibilidade quanto à fé e aos costumes, que exerce com paterna autoridade (cf LG 25). Na comunhão com essa Cátedra encontramos a garantia da autenticidade da nossa pregação fiel ao depósito da fé.
Mas voltemos os olhos às origens do diaconado, nos Atos dos Apóstolos
II. “Ambos desceram à água, Filipe e o eunuco, e Filipe batizou-o” (At. 8,38).
Na segunda leitura, extraída dos Atos dos Apóstolos, vemos as origens do ministério diaconal desde cedo vinculado ao serviço da caridade.
Após a decisão tomada pelos Apóstolos de orar e impor as mãos sobre “sete homens de boa reputação, cheios do Espírito e de sabedoria” (At. 6,3) para o serviço à mesa dos pobres enquanto os Doze continuariam a entregar-se “assiduamente à oração e ao serviço da Palavra” (At 6,5). Estevão, porém, sofreu o martírio pela pregação da Palavra e Filipe saiu para a Samaria para anunciar a Boa-Nova. O serviço à mesa dos pobres não se opunha, nem se opõe hoje, à pregação franca e corajosa da Palavra de Salvação, vocação de todos os fiéis, mas de modo especial, dos ministros ordenados.
Ele, de fato, nos escolheu e separou a cada um de nós para nos colocar hoje ao serviço da mesa da Palavra e do Altar do Santo Sacrifício mediante uma nova efusão do Espírito Santo. Este dom da nossa vocação é bênção para toda a Santa Igreja, a Esposa de Cristo, nossa Mãe em cujo seio fomos gerados para uma vida nova pelo Batismo.
Os dons do Espírito Santo são hoje derramados sobre este nosso irmão Mateus Henrique para “exercer com fidelidade o seu ministério” em favor da Santa Igreja de Deus. A humildade própria de quem veio “para servir e não para ser servido” não deve obnubilar a amorosa audácia do pregoeiro do Evangelho, nem esconder o ardor da fé e da caridade que cada ação e cada oração do nosso eleito significarão para o Povo de Deus. O mesmo Espírito de Deus que inspirou os profetas, continua a dizer hoje ao coração de Mateus Henrique: “a todos a quem eu te enviar, irás” (Jer 1,7).
A oração consecratória dos diáconos invoca o bom Deus, que na primeira aliança separou para Si a tribo de Levi. Ela foi escolhida para honrá-lo devidamente em Sua Santa Habitação, para louvá-lo de modo digno da Sua Shekinah. Dos levitas o Espírito Santo disse: “entregarás os levitas a Aarão e a seus filhos, como dádiva dentre os filhos de Israel” (Num. 3, 9). Ao Seu eleito, hoje como outrora, o Senhor concede a alegria de viver nos átrios de Sua casa.
Aos diáconos Deus lhes concede a graça invocá-lo com a mesma intimidade com que o Verbo Encarnado nos ensinou a clamar Abbá-Pai. A fidelidade brotará no coração deste diácono como confiança filial nas tribulações, como certeza do amor de Deus na hora do sofrimento, como fonte permanente de esperança.
Também na Nova Aliança, no coração da Igreja nascente, aprouve a Deus oferecer ao povo resgatado pelo Sangue do Redentor o dom do diaconado, como sinal sacramental da diakonia de Cristo. Àqueles sete homens de boa reputação, como dizíamos pouco antes, confiou-lhes “a distribuição dos alimentos, pela oração e imposição das mãos, a fim de que eles próprios pudessem dedicar-se mais à oração e à pregação da palavra” (Da Prex ordinationis). Foram assim consagrados à urgência da caridade no serviço da mesa dos pobres. Se a pobreza material impele, a caridade de Cristo urge mais ainda ao anúncio da Boa-Nova.
Dentre os Sete nasceu para o céu o Protomártir Estêvão, não apenas por ter dado pão aos pobres, mas sobretudo por ter servido em abundância e com audácia aos que perseguiam a Igreja o Pão da Palavra, o anúncio do mistério Pascal. Em seguida, movido pelo Espírito, Filipe explicou as Escrituras ao eunuco etíope que Deus pôs em seu caminho sequioso da Palavra. Filipe prega, anuncia a Boa-Nova, batiza o eunuco invocando sobre ele o nome de Deus. Batizado, inundado da alegria pascal, o eunuco já não era mais estéril: ele pode levar para a sua Etiópia a fecundidade e a alegria do Evangelho.
Mateus recebe hoje o diaconado em vista do ministério sacerdotal. Contudo, uma vez feito presbítero, a graça própria da ordem diaconal nunca o deixará. A vocação ao serviço da palavra e da caridade o disporá sempre a gerar frutos que permaneçam para a vida eterna. Esta sublime vocação de humilde servo será abraçada, mas não suprimida pelo seguinte grau da ordem. Um presbítero que não é diácono, deixa de ser sinal eficaz da presença de Cristo que, sendo bom Pastor, veio para servir e dar a vida por muitos.
III. “Irmãos, não desanimamos no exercício deste ministério que recebemos da misericórdia divina” (2Cor 4,1)
Irmãos caríssimos, hoje a misericórdia divina toma este nosso irmão Mateus Henrique para Si, e o dá aos Sucessores dos Apóstolos e aos seus cooperadores como preciosa dádiva dentre os filhos do novo Israel. Nessa consagração a Deus mediante a ordem diaconal, ele continuará a morrer para os muitos projetos que poderia legitimamente realizar na sociedade humana. Mas aqui ele se entrega de corpo e alma, com coração à caridade de Cristo que o impele a servir os pobres, a anunciar o Evangelho, a prestar um culto de agradável odor a Deus no altar e nos serviços a eles confiados pela Igreja. Prossegue a beber das águas límpidas do Espírito Santo para servir a Igreja como a Igreja quer ser servida.
Anunciará, ademais, a Palavra, servirá a Mesa eucarística com os presbíteros e o bispo. Enriquecido pela multiforme graça de Deus, o novo diácono servirá como administrador fiel a todos os irmãos, com o mesmo amor e ardor apostólico, sem fazer acepção de pessoas ou de carismas, daqueles carismas que rejuvenescem a Igreja. Em sua vida realizará as palavras do Apóstolo: “Rejeitamos todo procedimento dissimulado e indigno, feito de astúcias, e não falsificaremos a Palavra de Deus. (…) não pregamos a nós mesmos, pregamos a Jesus Cristo, o Senhor” (2Cor 4,2.5). Será servo da Palavra, sem nunca instrumentalizá-la em favor de nenhum interesse venal ou ideológico.
Por ele nós não deixaremos de rezar cada dia, para que seja fiel ao santo serviço para o qual hoje é consagrado com a especial efusão do Espírito Santo.
IV. “Se alguém quer me servir, siga-me; e onde eu estou estará também o meu servo” (Jo 12,26).
Caríssimo Mateus, hoje a Igreja se alegra e ora por você, invocando a comunhão dos Santos, unindo-se à liturgia celeste, e suplicando os dons do Espírito Santo. E o que te pede hoje a Igreja? Pede que vivas um amor indefectível ao altíssimo e bom Senhor Deus. Nossa Mãe Igreja pede-te uma completa entrega à vida casta para viver com coração indiviso a fraternidade a que nos chama o Evangelho. A Esposa de Cristo o chama a seguir Jesus, Servo de Iahweh, que se fez obediente até à morte e morte de cruz e cujo único alimento é cumprir a vontade do Pai, para saborear aquela gloriosa liberdade de filhos de Deus. Numa palavra, o que se espera de ti é que ames a Santa Igreja com coração puro e corpo casto, que sirvas o povo de Deus com ardente elã missionário; que leves ao altar o cheiro das ovelhas e que leves às ovelhas o bonus odor Christi, o suave perfume de Cristo.
Se é por graça que somos escolhidos, e a graça nos dá tudo, a Santa Igreja te pede que te abras à ação do Espírito Santo para que resplandeçam em ti as virtudes evangélicas. Em nome da Igreja, suplicarei que em ti brilhe o rosto de Cristo servidor, “o amor sincero, a solicitude para com os enfermos e os pobres, a autoridade discreta, a simplicidade de coração e uma vida segundo o Espírito” (da Prex ordinationis). Na tua conduta se refletirá a beleza dos mandamentos, que despertará no povo de Deus o desejo de viver para Ele. Sobre ti virá o Espírito de discernimento de modo que, guiando-te por uma consciência reta, permaneças firme e estável no Cristo.
Para bem cumprires a missão que te é confiada, eu te exorto a dedicares todos os dias um tempo côngruo a aprofundar nas questões que concernem à fé e à moral. Ao lado das Escrituras Santas terás como ótimas fontes de leitura o Catecismo da Igreja Católica e o Compêndio da Doutrina Social da |Igreja, como nos recomendou o Santo Padre. Reza fielmente a Liturgia das Horas, dando voz à oração que a Igreja eleva ao Céu em nome de toda a humanidade. Sê um adorador em espírito e verdade, acorre frequentemente ao Santíssimo Sacramento, sê um homem verdadeiramente eucarístico. Pede a graça de tratar sempre com amor e reverência as coisas santas, mesmo as mais materiais, como os cálices, as âmbulas, as alfaias etc., pela sua relação com o Corpo e o Sangue do Senhor.
* * *
Caríssimo Mateus, esta manhã, antes de sair de casa, fui ao Senhor sacramentado pedir por ti, lembrado das palavras que “o Senhor disse a Simão Pedro: Roguei por ti, para que a tua fé não desfaleça. E tu, por tua vez, confirma os teus irmãos” (Lc 22,32). Rezei e vou sempre rezar por ti. Reza também por mim e pelo clero da nossa diocese. Entra tu também na escola do amor à Sé de Pedro. Reza hoje e sempre pelo Santo Padre.
Em outras passagens do Evangelho vemos a barca de Pedro agitada pelas tempestades, mas sempre vencedora das tribulações que não a abalam. Com Jesus na Barca de Pedro estamos firmes na esperança. Omnes cum Petro ad Iesum per Mariam.
Por isso, roga assim ao Senhor: “Concedei, ó Deus onipotente, que não sejam abalados por nenhuma perturbação aqueles que edificastes sobre a pedra da apostólica confissão de fé”. Pede que nada abale aqueles que Ele mesmo edificou ou solidificou sobre a maravilhosa confissão de fé do Príncipe dos Apóstolos. Reza com fervor todos os dias por aqueles que ouvirão a Palavra de Deus dos teus lábios ou a verão a luz de Cristo que resplandece em ti. Que nada te perturbe…
Nada te turbe, / Nada te espante,
Todo se pasa, / Dios no se muda.
La paciencia / Todo lo alcanza;
Quien a Dios tiene / Nada le falta:
Solo Dios basta. Nada te perturbe, / Nada te espante,
Tudo passa, / Deus não muda,
A paciência / tudo alcança;
Quem a Deus tem, / Nada lhe falta:
Só Deus basta.
E nunca te esqueças: em tudo dá graças!