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A Mesa da Palavra – 14º Domingo do Tempo Comum

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A MESA DA PALAVRA

Dom José Aparecido Gonçalves de Almeida
XIV DOMINGO DO TEMPO COMUM – Ano B
Itumbiara, 7 de julho de 2024
“Nemo propheta in patria” (Mc 6,4)

Caros amigos, I. “Pela humilhação do vosso Filho reerguestes o mundo decaído” (Coleta) Nesta coleta, recebida com poucos retoques do Sacramentário Gelasiano e do Mediolani, a Igreja busca na força da humildade, do abaixamento ou aniquilamento (Κένωση) que reergue o mundo prostrado pelo pecado, a fonte da alegria santa (= sanctam laetitiam; mas no gelasiano e no mediolanense não constava o adjetivo sanctam), pela qual, arrancados da escravidão do pecado os seus membros, aqueles que acolheram o dom da fé, gozem eternamente da perfeita alegria.

A humildade de Jesus fez com que Ele se admirasse da incredulidade dos seus concidadãos, sem sucumbir à tentação de valer-se dos milagres para suscitar nos parentes o ato de fé. O Senhor Jesus, pelo contrário, costuma realizar sinais onde encontra a fé que demanda salvação. Na humildade de Jesus se encontra a eficácia da obra da redenção. Ele não se apegou ciosamente à sua condição divina, mas humilhou-se a Si mesmo e por nós se fez obediente ao plano de amor do Pai, obediente até à morte, e morte de Cruz. Por isso ele foi exaltado pelo Pai…

No texto atual da coleta o orante suplica a Deus que conceda santa alegria àqueles que Ele “arrancou da servidão do pecado” para que “fruíssem plenamente as alegrias eternas”. Nas versões mais antigas se falava daqueles que Deus “arrancou às quedas de morte eterna” referindo-se aos efeitos letais do pecado para a vida espiritual. A antiga fórmula, realçando o efeito letal do pecado evidenciava de modo mais patente a grandeza da redenção. A fórmula atual manifesta a maravilha da libertação. O Deus cujo filho conheceu o abaixamento, a kenosi, livra o homem das tristezas presentes e lhe concede a elevação suprema da participação na bem-aventurança eterna.

Um outro elemento litúrgico interessante é a memória que ainda se tem em muitos lugares da consagração do primeiro domingo de julho à veneração do Preciosíssimo Sangue. O Preciosíssimo Sangue alude sem dúvida ao mistério pascal e à dimensão sacrificial da Eucaristia. A Liturgia referente ao Preciosíssimo Sangue agora está presente somente em calendários particulares ou próprios de famílias religiosas ligadas a esta devoção.

II. “Ficarão sabendo que houve entre eles um profeta” (Ez 2,5). Mas a Mesa da Palavra deste domingo salienta a incredulidade e a rebeldia em relação a Deus, a seus profetas e à Sua Palavra. Incredulidade e rebeldia se deram no tempo dos profetas, mas não sem que Deus reagisse. Para alertar o povo caído na rebeldia e enfraquecido na fé por ter fechado os ouvidos à Palavra, Deus levanta um profeta e unge com o seu Espírito: “Filho do homem, eu te envio entre os israelitas, nação de rebeldes que se afastaram de mim” (Ez 2,3). As palavras que seguem mostram a indignação do Senhor Deus com a dureza das mentes e dos corações dos israelitas. São um espelho para avaliarmos a nossa atitude em relação à Palavra do Senhor, e nos perguntarmos se não seriamos também nós merecedores das mesmas repreensões da parte de Deus.

Mas vejamos o que diz o Senhor pela boca do profeta: “A estes filhos de cabeça dura e coração de pedra, vou-te enviar, e tu lhes dirás: ‘Assim diz o Senhor Deus’. Quer te escutem, quer não – pois são um bando de rebeldes – ficarão sabendo que houve entre eles um profeta”.

Ainda que não demos ouvidos à Palavra proclamada, o bom Deus não deixará de enviar profetas, anunciadores dos seus mandamentos, proclamadores da sua santa Lei. Frente à nossa infidelidade e dureza de corações, Deus permanece fiel. Ele continua a fazer ouvir sua voz, mas a incredulidade e a rebeldia não ficam sem consequências. É a nossa infidelidade de filhos cabeças duras que nos deve fazer temer. E neste caso a proximidade do Evangelho, em vez de ser redentora, torna-se uma condenação.

Perante a palavra do Senhor há sempre dois caminhos: o caminho da benção e o caminho da maldição, o da vida e o da morte. Não é possível ficar indiferentes. Tertius non datur.

III. “Basta-te a minha graça” (2Cor 12,9). O aguilhão da carne que faz o Apóstolo sofrer é uma imagem das recorrentes e graves dificuldades, dos obstáculos que ele encontra no cumprimento de sua missão de anunciar o Evangelho. Desta provação nenhum profeta, nenhum servo do Senhor passou ileso.

Como o Apóstolo não ficou descoroçoado, não perdeu a coragem e o ânimo. Se o discípulo, o mensageiro da Boa Nova reconhece e confessa a sua fragilidade, e se dirige ao Senhor com confiança, ele ouvirá as palavras que Jesus dirigiu a Paulo, como ditas a si mesmo em primeira pessoa: “Basta-te a minha graça. Pois é na fraqueza que a força se manifesta” (2Cor 12,9).

Ao acolher a exortação do Senhor, o Apóstolo sabe que não cessarão as provações e as fragilidades. Então confessa: “de bom grado me gloriarei das minhas fraquezas, para que a força de Cristo habite em mim”.

É comovente ver a confiança do Apóstolo que corajosamente rechaça qualquer lamúria ante os aguilhões e as cruzes de cada dia: “Eis porque me comprazo nas fraquezas, nas injurias, nas perseguições e nas angústias sofridas por amor a Cristo. Pois quando eu me sinto fraco é que sou forte” (2Cor 12,10).

O problema fundamental é sempre o de ligar-se a Deus com absoluta confiança. A graça nos é garantida. Deus sempre consegue. Mas nós?

IV. Não é ele o filho do carpinteiro? As agruras sofridas pelos profetas e, depois, pelos apóstolos, Jesus também as sofreu durante todo o seu ministério. Do Evangelho deste domingo é tirado o célebre dito «Nemo propheta in patria», isto é, nenhum profeta é bem aceito pelo seu povo, que o viu crescer (cf. Mc 6, 4).

De fato, Jesus com cerca de trinta anos deixou Nazaré e já há algum tempo pregava e fazia curas noutras partes. Ao regressar uma vez à sua terra ele pôs-se a ensinar na sinagoga. Os seus concidadãos «ficaram admirados» pela sua sabedoria e, conhecendo-o como o «filho de Maria», o «carpinteiro» que viveu no meio deles, em vez de o receber com fé ficaram escandalizados com Ele (cf. Mc 6,2-3).

Ele, como os profetas, experimentou a incredulidade dos concidadãos e parentes. O próprio Jesus dá como exemplo a experiência dos profetas de Israel, que precisamente na sua pátria tinham sido objeto de desprezo, e identifica-se com eles. Devido a este fechamento espiritual, Jesus não pôde realizar em Nazaré milagre algum: «apenas curou alguns enfermos, impondo-lhes as mãos» (Mc 6, 5). Os milagres de Cristo não são uma exibição de poder, mas sinais de amor de Deus, que se realizam onde encontra a fé do homem na reciprocidade. Escreve Orígenes: «Do mesmo modo que para os corpos existe uma atração natural da parte de uns para com os outros, como o ferro atrai o ímã… também tal fé exerce uma atração sobre o poder divino» (Comentário ao Evangelho de Mateus 10, 19).

O homem Jesus de Nazaré é a transparência de Deus, n’Ele habita plenamente a divindade. E enquanto nós procuramos sempre outros sinais, outros prodígios, não nos apercebemos de que o verdadeiro Sinal é Ele, Deus feito carne, é Ele o maior milagre do universo: todo o amor de Deus contido num coração humano, num rosto de homem.

Apesar das decepções com os concidadãos e alguns parentes, Jesus nunca renegou a sua origem familiar. Ele é designado aqui pelo seu trabalho e por ser «o filho de Maria», que talvez já fosse viúva. São José cuidou daquele Menino como lhe tinha sido ordenado, fez de Jesus um artesão: transmitiu-lhe o ofício. Por isso, os vizinhos de Nazaré falavam de Jesus chamando-lhe indistintamente faber, filius Mariae (Mc 6, 3) ou fabri filius (Mt 13,55): artesão e filho de artesão” (cf S. Josemaría Escrivá, É Cristo que passa, n. 55). Deste modo o Senhor fez-nos saber que enquanto trabalhava com as próprias mãos (τέκτων = artesão), o Verbo de Deus humanado estava realizando a redenção do gênero humano, ao longo de seis lustros e estava a atrair a Si todas as coisas (cf Jo 12,32). Este é um aspecto não secundário do mistério da encarnação, assumido também na redenção.

Chegados a este ponto, como não lembrar as palavras de São João Paulo II sobre esta cena do Evangelho centradas na figura do trabalhador Jesus? Assim dizia ele no número 26 da inesquecível Encíclica Laborens exercens: “Esta verdade, segundo a qual o homem mediante o trabalho participa na obra do próprio Deus, seu Criador, foi particularmente posta em relevo por Jesus Cristo, aquele Jesus de quem muitos dos seus primeiros ouvintes em Nazaré « ficavam admirados e exclamavam: ” Donde lhe veio tudo isso? E que sabedoria é essa que lhe foi dada? … Porventura não é este o carpinteiro ” …? » (Mc 6,2-3). Com efeito, Jesus não só proclamava, mas sobretudo punha em prática com as obras o « Evangelho » que lhe tinha sido confiado, a Palavra da Sabedoria eterna. Por esta razão, tratava-se verdadeiramente do « evangelho do trabalho », pois Aquele que o proclamava era Ele próprio homem do trabalho, do trabalho artesanal como José de Nazaré (cf Mt 13, 55). E ainda que não encontremos nas suas palavras o preceito especial de trabalhar — até mesmo, uma vez, a proibição de se preocupar de uma maneira excessiva com o trabalho e com os meios para viver (cf Mt 6, 25-34) — contudo, ao mesmo tempo, a eloquência da vida de Cristo é inequívoca: Ele pertence ao « mundo do trabalho » e tem apreço e respeito pelo trabalho humano; pode-se mesmo dizer mais: Ele encara com amor este trabalho, bem como as suas diversas expressões, vendo em cada uma delas uma linha particular da semelhança do homem com Deus, Criador e Pai.” (Litt. Enc. Laborem exercens, n. 26).

Não seria demasiado afirmar que Jesus apresenta o trabalho como meio eficaz de santificação e de apostolado, como caminho da bem aventurada esperança. Na Eucaristia, de fato, o sacerdote acolhe os frutos da terra e do trabalho humano e os consagra para que se tornem Pão da vida e Cálice da bênção. É precisamente nesse banquete sagrado que encontramos a alegria pedida na Coleta: “concedei aos vossos fiéis uma alegria santa para que, livres da servidão do pecado, cheguemos à felicidade eterna”.

Invoquemos a intercessão da Virgem Mãe para nos entregarmos sem reservas ao serviço do Senhor.

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A Diocese de Itumbiara foi criada no dia 11 de outubro de 1966, pelo Papa Paulo VI, desmembrada da Arquidiocese de Goiânia; seu território é de 21.208,9 km², população de 286.148 habitantes (IBGE 2010). A diocese conta 26 paróquias, com sede episcopal na cidade de Itumbiara-GO.

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