As comissões de Direitos Humanos e Minorias, Educação, Defesa dos Direitos da Pessoa Idosa e de Legislação Participativa da Câmara dos Deputados realizaram, nesta segunda-feira, 8 de novembro, um seminário sobre fraternidade e amizade social, temas da carta encíclica Fratelli Tutti publicada pelo Papa Francisco em 3 outubro de 2020.
O deputado federal Helder Salomão, um dos coordenadores do seminário, destacou que o debate é fundamental para repensar a política e como ela pode ser ponte para repensar a dignidade das pessoas. Segundo ele, o objetivo do seminário foi discutir os ensinamentos da carta papal e “sua contribuição para uma forma mais fraterna de guiarmos a ação estatal, especialmente da atividade parlamentar que tem na representação da população a obrigação de ter um olhar fraterno para a formulação de legislações e políticas públicas”.
Destacando pontos do documento, o secretário-executivo da Comissão Brasileira Justiça e Paz da CNBB, Daniel Seidel reforçou que a encíclica busca recolocar a melhor política acima da economia e aponta os horizontes e princípios da busca do bem comum, papel da melhor política segundo apresenta o Santo Padre na carta.
Perdão como caminho para o diálogo
O arcebispo de Manaus (AM), dom Leonardo Steiner enviou um vídeo com reflexões sobre a encíclica. O texto, segundo dom Leonardo, ajuda a entender a política e a missão das pessoas frente à política. Dom Leonardo destacou o número 241, que fala das lutas legítimas e do perdão. Se não houver o perdão, destacou o arcebispo de Manaus, não haverá o diálogo, princípio básico da política.
“Creio que os deputados que estão mais lidando com a política poderiam ler o texto e perceber como a política deve estabelecer diálogos de profundidade que fazem emergir o que é próprio da dignidade, da justiça, da fraternidade e da liberdade”, disse.
O arcebispo de Manaus reforçou ainda o convite aos parlamentares à leitura da Encíclica afirmando que o documento poderá abrir perspectivas importantes para a ação política dos parlamentares brasileiros.
A representante do grupo de trabalho da Economia de Clara e Francisco da PUC Minas, Maria Oliveira, uma entre os 280 jovens brasileiros que foram delegados ao encontro promovido pelo Papa para produzir um novo pacto em torno da uma nova economia, situou a encíclica dentro do magistério do Papa Francisco.
“A Fratelli Tutti é uma das encíclicas do Papa Francisco para pensar o caminho da melhor política”, disse. De acordo com ela, o Santo Padre, por meio de suas encíclicas e dos processos que está desencadeando na Igreja, vem buscando fazer uma conversão eclesial, ecológica, econômica e política.
“O Papa propõe na Fratelli Tutti um caminho de conversão política para abrir os olhos, tirar as cortinas e enxergar a importância da nossa atuação a partir da boa política. Uma política comprometida com a fraternidade e com a amizade social”, disse.
Antídotos contra o modelo predatório
O arcebispo de Belo Horizonte (MG) e presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, dom Walmor Oliveira de Azevedo, por meio de um vídeo, destacou o alerta que o Papa faz sobre a necessidade de restauração da harmonia entre o ser humano e a casa comum, o que depende de uma mudança de paradigma e de hábitos. “Sob inspiração de São Francisco de Assis, o Santo Padre faz um convite a adotar a solidariedade fraterna como princípio para orientar as relações políticas e humanas”, disse.
“A fraternidade e a amizade social são antídotos contra o atual modelo predatório que rege a civilização contemporânea, no qual o ser humano só é reconhecido na condição de consumidor, reduzido à uma peça na engrenagem de um modelo econômico que idolatra o dinheiro e o lucro sem limites”, disse.
O presidente da CNBB destacou o capítulo V da encíclica, no qual o Papa conceitua a “melhor politica”, como a que se coloca a serviço do bem comum, tornando-se indispensável para organizar a vida coletiva. “Que cada parlamentar assuma seu protagonismo nesta construção”, exortou o arcebispo pedindo ainda que a Fratelli Tutti seja inspiração para projetos de reformulação do poder e das instituições do país, especialmente neste momento que o Brasil atravessa.
Participaram ainda do seminário de forma on-line, como convidados, o vigário da Pastoral do Povo da Rua da Arquidiocese de São Paulo, Padre Júlio Lancelotti; a representante do Conselho Nacional das Igrejas Cristãs do Brasil (Conic), Romi Benke; e a presidente do Conselho Nacional de Leigos do Brasil, Sônia Oliveira, o bispo da prelazia do Alto Xingu-Tucumã no Estado do Pará, dom José Maria Lopez Mauleón.
Foto do plenário da Comissão de Direitos Humanos e Minorias. Print do seminário.
Fonte: CNBB