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Saber envelhecer com sabedoria

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Dom Leomar Antônio Brustolin
Arcebispo de Santa Maria (RS)

 

É preciso se educar para envelhecer. Tem muita gente ao redor dos idosos que precisa de acolhida e atenção. Isso implica olhar menos para o passado e ser capaz de pensar ainda no futuro que está aberto. É claro que recordar é viver, mas esquecer do presente e do futuro pode tornar a pessoa saudosista e incapaz de conviver com crianças e jovens. 

É preciso cultivar uma nova perspectiva: derrotar a solidão com uma nova centralidade espiritual, dispondo-se a conversar com amigos e aceitar participar de encontros com outras pessoas, evitando o isolamento que mata a alegria de estar com os outros. Ler poesias, belas histórias e livros, ouvir música e aproveitar cada momento que a vida oferece podem ser atitudes determinantes para qualificar a vida.  

Frequentar uma comunidade de fé é muito importante. A religião se apresenta como integradora social, proporcionando, em vários casos, uma aproximação do idoso com grupos sociais nos quais se fortaleçam laços de amizade. Encontram-se suportes nas dificuldades e se provoca a interação.  Para muitos idosos, as comunidades religiosas representam uma autêntica nova família, onde são acolhidos, valorizados e cuidados. Há tantos outros que também já se encontraram participando de projetos da cidade, da universidade e de muitas organizações civis que reúnem idosos para qualificar seu cotidiano.  

Descomplique a vida. Entenda mais os netos. Aprenda com as crianças. Admire as buscas dos jovens.  Aceite que as pessoas têm seus projetos e que, nem sempre, você está neles. Ame-os mesmo assim. Não é ser velho que machuca, mas ser inerte e superficial, confundir serenidade com inatividade, abandono espiritual com indiferença à vida.  

No decorrer da vida, muitas pessoas nos magoam e ferimos muitas outras. É difícil conviver carregando esse peso de que tudo poderia ser diferente. Mas é importante colocar toda a vida nas mãos de Deus. Enfim, perdoe e seja capaz de perdoar a si mesmo. Deixe para trás o que passou; o que conta é a vida em paz, e essa é fruto da justiça. Se for católico, aproxime-se do Sacramento da Reconciliação, pois o perdão dos pecados tem grande função terapêutica. Cura as feridas que os pecados deixam em nós.  

Concluo partilhando um e-mail que recebi de uma sábia amiga, que me escreveu após visitar seu pai numa Casa de Repouso: Tenho observado as pessoas da Casa de Repouso, a maioria fechadas em si mesmas, algumas amargas. Há, contudo, um senhor que teve um AVC, está em cadeira de rodas e não fala, mas sempre com o semblante sorridente, procurando ajudar os demais. Concluo que o envelhecer carrega a síntese de uma vida: quem viveu solidário, é capaz de descobrir razões para viver e perceber novos horizontes, mesmo quando parece sem razão nenhuma de felicidade. A pessoa que tem fé, sobretudo, é capaz de tornar forte o significado do humano combalido: essa força é construída ao longo da vida. 

 

 

Fonte: CNBB

Diocese de Itumbiara
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