“CRISTO É A NOSSA PAZ: DO QUE ERA DIVIDIDO FEZ UMA UNIDADE” (EF 2, 14)
O 2º Domingo da Páscoa, o Domingo da Misericórdia, recorda-nos o dom do Espírito para o perdão (cf. Jo 20, 22-23). A reconciliação é dom do Cristo Ressuscitado. Em um mundo dilacerado por discórdias, a nova presença do Senhor nos oferece oportunidade de superação do que nos separa de Deus e uns dos outros.
Muito se tem falado a respeito da polarização da sociedade. Temos sentido seus efeitos negativos e desagregadores. Como Igreja, esse fenômeno muito nos questiona. Durante a última reunião do Conselho Episcopal do Regional Leste 1, realizada no Mosteiro de São Bento do Rio de Janeiro, nos dias 15 e 16 de março de 2023, tratamos desse tema e em nossa oração tivemos presente suas consequências.
Somos conscientes que é parte fundamental de nossa missão como Bispos promover a unidade, a comunhão e a reconciliação em nossas comunidades e colaborar para que haja também comunhão em nossa sociedade. Decidimos, então, que o Domingo da Misericórdia (2º Domingo da Páscoa) deste ano de 2023 seja também um dia de oração em favor da superação da polarização e de promoção da reconciliação. O Concílio Vaticano II reafirmou que “a Igreja, em Cristo, é como que o sacramento, ou sinal, e o instrumento da íntima união com Deus e da unidade de todo o gênero humano” (Constituição dogmática Lumen Gentium sobre a Igreja, n. 1).
A interação positiva entre pensamentos diferentes promove o bem social. Para a sociedade, como também para a Igreja, as legítimas diferenças são um bem comum. A comunhão e a valorização recíproca entre carismas, ministérios e teologias diferentes são muito importantes para o bem da Igreja e para o cumprimento de sua missão evangelizadora. Formamos em Cristo um só corpo porque fomos batizados em um único batismo, recebemos o mesmo Espírito (1Cor 12,13) e comemos do mesmo Pão (1Cor 10,17).
A polarização nega o valor da diversidade de opiniões, fragmenta a sociedade e fere também a comunhão eclesial. Ela chega a romper vínculos tão fundamentais como a união familiar e a amizade pessoal e social. “A Igreja compreende a sua missão de empenhar-se, seguindo as pegadas do Senhor, pela conversão dos corações e pela reconciliação dos homens com Deus e entre si, duas realidades que estão intimamente conexas” (S. João Paulo II, Exortação Apostólica Reconciliação e Penitência, n. 6).
Nosso encontro com Jesus Cristo e nossa experiência do grande bem que é a comunhão, nos torna conscientes de que é parte de nossa missão contribuir para superar a polarização e para promover os valores que previnem contra a desagregação social e edificam uma sociedade melhor. Evangelizar, em uma sociedade polarizada, significa sermos promotores de encontro, de união, de correspondência e de reconciliação. O Papa Francisco recorda que a Igreja “é chamada a viver a misericórdia como traço característico de todo o seu ser e agir. Aquilo que dizemos e o modo como o dizemos, cada palavra e cada gesto deveria poder expressar a compaixão, a ternura e o perdão de Deus para todos” (Mensagem para o 50º Dia Mundial das Comunicações Sociais [2016]).
Nas situações conflitivas ou tensas, temos de ter presente o bem e os valores morais e sociais que estão em questão. Não podemos comprometer ou ferir esses bens, nem a comunhão da Igreja, das famílias e da sociedade por motivos ideológicos ou políticos. O bem da comunhão está acima desses motivos e deve ser guardado e promovido em qualquer situação. Quando esse bem é ferido o remédio que o cura é a reconciliação.
Por isso, neste Domingo da Misericórdia, pedimos ao Bom Deus que nos ilumine para bem discernir as raízes mais profundas da polarização e para identificarmos suas consequências, como também nos fortaleça para bem agir superando a polarização e promovendo a comunhão.
Com esta intenção, rezemos: “Senhor, fazei de mim um instrumento de vossa Paz. Onde houver Ódio, que eu leve o Amor; onde houver ofensa, que eu leve o perdão; onde houver discórdia, que eu leve a união; onde houver dúvida, que eu leve a fé; onde houver erro, que eu leve a verdade; onde houver desespero, que eu leve a esperança; onde houver tristeza, que eu leve a alegria; onde houver trevas, que eu leve a luz! Ó Mestre, fazei que eu procure mais: consolar, que ser consolado; compreender, que ser compreendido; amar, que ser amado, pois é dando, que se recebe; é perdoando, que se é perdoado e é morrendo, que se vive para a vida eterna! Amém”.
Fonte: CNBB