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A Mesa da Palavra – Solenidade de Nossa Senhora Aparecida

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A MESA DA PALAVRA
Dom José Aparecido Gonçalves de Almeida
Solenidade de Nossa Senhora Aparecida
115º Aniversário de Itumbiara
Itumbiara, 12 de outubro de 2024

Apareceu no céu um grande sinal: uma mulher vestida de sol” (Ap 12,1)

Caros irmãos e irmãs,

Nesta solenidade da nossa querida Padroeira, Nossa Senhora Aparecida, a liturgia nos oferece uma belíssima oportunidade para meditar sobre a missão intercessora de Maria, especialmente à luz das leituras de hoje. Vamos saborear juntos cada leitura, lidas de acordo com a Tradição e o Magistério da Igreja.

Mas antes de nos debruçarmos sobre a mesa da Palavra, recordemos com o coração agradecido alguns acenos à história de nossa Cidade, que hoje celebra o 115º aniversário de sua instalação como Município.

Recordar é sempre ocasião de dizer ao Senhor: “Gratias tibi, Deus”. Muito obrigado, Senhor, pelas graças com que nos acompanhais desde os tempos do Porto de Santa Rita, sempre sob a intercessão da Santa dos Impossíveis e da Virgem Maria.

I. “Virgem Mãe Aparecida, velai por esta Cidade de Santa Rita

Hoje comemoramos os 115 anos da instalação da Villa e Município de Santa Rita do Paranahyba, atualmente Itumbiara.

A história de nossa amada cidade, estrela fulgurante do sul de Goiás, teve início em 1824, quando o Marechal Cunha Matos instalou um porto no Rio Paranaíba, para facilitar a travessia do mesmo rio Paranaíba em atenção à estrada que ligava a antiga capital de Goiás (Cidade de Goiás) a Uberaba. O local passou a ser chamado Porto de Santa Rita.

Com o tempo, a localidade atraiu migrantes de todo o Brasil, mas principalmente de Minas Gerais e São Paulo. Os novos moradores, movidos por uma profunda e viva religiosidade, quiseram marcar a nova morada com o selo da fé que traziam, edificando uma Capela dedicada a Santa Rita de Cássia, que logo se tornou a padroeira da localidade e mais tarde, da Cidade e da nossa Diocese.

Aos 2 de agosto de agosto de 1842, foi criado o distrito de Freguesia de Santa Rita do Paranaíba, pertencente ao município de Morrinhos. A emancipação política de Itumbiara ocorreu em 12 de outubro de 1909, com a instalação oficial da Villa e Município de Santa Rita do Paranahyba. Somente em 1943 a cidade teve o seu nome alterado para Itumbiara ou Caminho da Cachoeira.

A Santa dos Impossíveis, nossa Padroeira, contudo, continuou a ser a protetora desta cidade e da nossa diocese. Ano passado, pouco após o início do meu ministério episcopal nestas terras, tive a alegria de homenagear juntamente com o Prefeito Dione Araújo a Padroeira dos itumbiarenses, abençoando e descerrando a belíssima estátua que vela pela cidade e alonga seu olhar para além da fronteira do sul goiano, do outro lado do Paranaíba.

O povo itumbiarense carrega na sua culinária tão saborosa, no modo de falar tão doce, na sua cultura tão acolhedora, no gosto musical e na religiosidade forte e profunda os traços das suas origens. Ao mesmo tempo sertanejo e cosmopolita, o povo de Itumbiara é rico de humanidade, acolhedor dos que aqui chegam, mas também inovador no pujante progresso da sua economia. Nosso povo olha com certa nostálgica simpatia para o Triangulo Mineiro que não nega ter sido goiano.

Santa Rita de Cássia permanece nossa intercessora. Cuida das causas impossíveis e, com o auxílio da graça de Deus, dá feição familiar aos nossos lares e à nossa vida social.

II. “Se ganhei as tuas boas graças, ó rei, e se for do teu agrado, concede-me a vida – eis o meu pedido! – e a vida do meu povo – eis o meu desejo” (Est 5,3).

Hoje também celebramos Nossa Senhora da Conceição Aparecida, Rainha e Padroeira do Brasil, cujo manto protetor, desde o interior paulista se estende sobre todo o Brasil. A pequena imagem de terracota da Imaculada Mãe de Deus, encontrada nas águas do Rio Paraíba, na região de Guaratinguetá, tornou-se um permanente sinal de que Maria Santíssima nos quis encontrar, para ser sinal materno da proteção do Divino Pai Eterno.

Maria intercede por nós, assim como Ester intercedeu corajosamente junto ao rei Assuero em favor do seu povo. Em Ester vemos uma imagem prefigurativa de Maria, nossa intercessora. Ela intercede pelo seu povo, pelos filhos que seu Filho lhe confiou, roga sem cessar por nós diante de Deus, revelando seu coração materno e sua disposição em nos socorrer nas necessidades.

O Papa Bento XVI, em sua encíclica Deus Caritas Est, nos mostra Maria como reflexo fiel do amor misericordioso de Deus: “Maria, a Mãe do Senhor, é o espelho mais puro da bondade divina” (n. 41). Um entre muitos Padres da Igreja, São Gregório Nazianzeno não economiza palavras para exaltar a intercessão de Maria: “Ela é a ‘advogada’ dos pecadores, sempre disposta a interceder junto a seu Filho por aqueles que dela necessitam.

Por esta razão a Igreja sempre viu na mulher exaltada pelo cântico de Judite a uma doce e antecipada referência ao mistério da Virgem Imaculada, pela sua participação no plano salvífico de Deus. As palavras “Tu és a glória de Jerusalém, tu és a alegria de Israel, tu és a honra do nosso povo” (Jdt 13,18) podem ser perfeitamente aplicadas àquela que é verdadeiramente “Bendita entre as mulheres” (Lc 1,42). Cantor da beleza da Virgem Maria, também Santo Efrém, o Sírio, a exalta como “aquela que destruiu o poder da serpente e trouxe salvação para a humanidade” (Hino à Virgem).

Como não lembrar as iluminadas palavras de Bento XVI por ocasião da Assunção de Nossa Senhora em 2005: “Maria é a mulher forte que, com o seu ‘sim’, abriu as portas do nosso mundo a Deus; é a mulher silenciosa e atenta, que enfrenta a dor e a escuridão da fé com a firmeza da esperança e o ardor da caridade”. Ela é, efetivamente, mestra daqueles que sofrem, é consoladora dos aflitos e causa da nossa alegria.

III.… tendo a lua debaixo dos pés e sobre a cabeça uma coroa de doze estrelas” (Ap 12,1).

A grandiosa visão da mulher vestida de sol no Apocalipse, com a lua sob os pés e a coroa de doze estrelas, simboliza o povo de Deus, tanto o antigo Israel, do qual nasceu Jesus segundo a carne; quanto depois o novo Israel, a Igreja, Corpo de Cristo. Um e outro são vítimas das perseguições do dragão, isto é, de satanás, aqui descrito com os símbolos do domínio.

Mas a imagem que o Apocalipse nos põe diante dos olhos a imagem daquela que avança como aurora, da mulher vestida de sol, que dá à luz um filho destinado a reger as nações. Seguindo Santo Agostinho e São Bernardo, a Igreja sempre viu nela o símbolo da Virgem Maria, a Mãe de Jesus. Todos os textos escriturísticos que se referem ao mistério da Igreja, podem ser aplicados à Virgem Maria. Com efeito, a Igreja, como mãe, gera e protege os filhos de Deus mediante o mistério do Batismo e dos demais sacramentos.

No Angelus de 15 de agosto de 2007, o Papa Bento XVI assim fala dessa mulher gloriosa: “A ‘mulher revestida de sol’ constitui o grande sinal da vitória do amor, da vitória do bem, da vitória de Deus. Um grande sinal de consolação”. Contudo o mesmo Pontífice de feliz memória, continua a ler a conosco a imagem da Mulher vestida de glória. Esta imagem também fala de nós e do nosso tempo: “Mas depois esta mulher que sofre, que deve fugir, que dá à luz com um brado de dor, é também a Igreja, a Igreja peregrina de todos os tempos. Em todas as gerações, ela deve dar de novo à luz Cristo, levá-lo ao mundo com grande dor deste modo doloroso. Perseguida em todos os tempos, ela vive quase no deserto, vítima do dragão”.

Os padres a Igreja, como por exemplo, Ireneu de Lião, não deixam de ver na mulher vestida de glória Maria Santíssima e a Igreja. Maria, mas também a Igreja, é o sinal da nova criação, mulher que, revestida de glória, padece sofrimento, mas triunfa do mal e dá em todos os tempos a luz o Salvador.

IV. “Fazei o que ele vos disser” (Jo 2,5)

Caná da Galileia, hoje Kef Kenna, fica a sete quilômetros a noroeste de Nazaré. Entre os convidados se menciona em primeiro lugar a Virgem Santíssima. O Evangelho de hoje nos narra o “sinal” (o milagre) realizado nas bodas de Caná, com o qual começa a manifestação da glória de Jesus e se inauguram os tempos messiânicos. A Virgem Maria intervém em favor dos noivos, dizendo a Jesus que na festa já não há vinho. Nesse diálogo, embora a resposta de Jesus pareça dar pouca importância ao pedido da Mãe, aparecem dois aspectos do mistério da salvação em que o papel de Maria fica evidenciado. Quando Maria vai ao encontro das necessidades daquelas pessoas, aparentemente pequenas, ela se introduz no raio da missão messiânica e do poder salvífico de Jesus. Ela se põe entre os homens e seu Filho, faz-se medianeira, não como uma estranha, mas precisamente no exercício de seu papel de Mãe. Efetivamente, o quarto Evangelho a chama “mãe de Jesus” duas vezes: aqui e na cena do Calvário, quando Jesus diz a João: Eis a tua mãe.

Ela está sempre atenta às necessidades humanas. Ester se apresenta a um rei simplesmente humano e estrangeiro para pedir um favor, a vida para o seu povo. A mãe de Jesus se apresenta ao filho para pedir ao Filho que olhe para a carência de vinho. Após apresentar a necessidade dos noivos ao Filho, vai ordenar aos servos da festa que façam o que Jesus disser. Ela parece certa de que o Filho não negará aos convivas o vinho da alegria para a festa da aliança. São João Paulo II sublinha que Maria, consciente de seu papel de mãe tem o direito de apresentar as necessidades dos homens ao Filho, ela intercede pelos homens, age como verdadeira gebirah, a mãe do rei, que exerce sobre ele uma “autoridade de intercessora”.

A resposta de Jesus – “que há entre mim e ti, mulher?” – parece indicar que, embora inicialmente não pertencesse ao desígnio divino que Jesus interviesse com poder para resolver as dificuldades surgidas naquelas bodas, a petição de sua mãe Maria o move a atender à necessidade. Por isso a piedade cristã, com precisão teológica, tem chamado Nossa Senhora a “onipotência suplicante”.

A Igreja católica confere particular importância à presença atuante de Maria nas bodas de Caná e acolhe como dirigidas a si mesma aquelas palavras com que ela indica como deve ser a nossa cooperação na realização do milagre das talhas de água: “Fazei tudo o que ele vos disser!”.

Se, como diz Santo Afonso Maria de’ Liguori, a boa Senhora interveio de modo tão eficaz e pronto junto de seu Filho sem que ninguém lho pedisse, o que não faria se lhe rogarmos confiadamente? Não nos cansemos de invocá-la, de pedir-lhe que nos ajude no caminho desta vida até o dia em que o senhor nos chamar.

Queridos irmãos e irmãs, a figura de Nossa Senhora Aparecida nos revela o amor de Deus por seu povo, por nós aqui reunidos para confessar que Ela é nossa Estrela da Manhã, estrela que ilumina nosso caminho e nos conduz sempre ao seu Filho.

Roguemos que a Senhora da Imaculada Conceição Aparecida interceda por esta querida cidade de Itumbiara. Parabéns, povo de Santa Rita, povo de Itumbiara.

Diocese de Itumbiara
Diocese de Itumbiarahttps://diocesedeitumbiara.com.br/
A Diocese de Itumbiara foi criada no dia 11 de outubro de 1966, pelo Papa Paulo VI, desmembrada da Arquidiocese de Goiânia; seu território é de 21.208,9 km², população de 286.148 habitantes (IBGE 2010). A diocese conta 26 paróquias, com sede episcopal na cidade de Itumbiara-GO.

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