sexta-feira, 22 novembro de 2024 ás 9:49 AM
InícioArtigosA Mesa da Palavra - 3º Domingo da Quaresma - Ano B

A Mesa da Palavra – 3º Domingo da Quaresma – Ano B

Autor

Data

Categoria

A MESA DA PALAVRA
Dom José Aparecido Gonçalves de Almeida
III Domingo da Quaresma – B
3 de março de 2024

O ZELO DE TUA CASA ME DEVORA!

Caros amigos,

I. “Eu sou o Senhor teu Deus que te tirou do Egito, da casa da escravidão. Não terás outros deuses além de mim” (Ex 20,2-3).
Na Liturgia deste Domingo, somos convocados para tomar parte na Santa Assembleia reunida na casa do oração de todos os povos – a Igreja – no Senhor que nos alenta e conforta com a Sua Palavra. Antes de nos aproximarmos da Mesa da Palavra , a Liturgia põe nos lábios do sacerdote uma oração que reza há mais de 1500 anos, já consignada da mesma forma no Sacramentário Gelasiano (n., 249). Por esta oração o sacerdote, e por sua voz, todos nós nos dirigimos ao Autor de todas as misericórdias e de toda bondade. Este Deus cuja bondade e misericórdia louvamos, nos ensina que o grande remédio para a miséria dos nossos pecados são os jejuns, as orações e as esmolas, as obras de misericórdia. A Ele suplicamos que olhe propício para a humilde confissão da nossa miséria espiritual e nos conceda a graça – a força do céu – para que, dobrados pela nossa consciência, sejamos levantados, pela imensidão do seu perdão. A privação de algum bem e a abstenção do pecado, os joelhos dobrados do nosso temor e adoração, o nosso sincero reconhecimento de que Jesus nos espera nos mais pobres, abre para nós as portas da participação da vida divina, da intimidade com o Senhor como adoradores em espirito e verdade.

O Deus autor de todas as misericórdias e de toda bondade invocado nesta primeira oração é o mesmo Deus que libertou Israel da dura escravidão no Egito e o tomou pela mão para leva-lo até a terra prometida a Abraão. Fê-los atravessar o Mar Vermelho a pé enxuto, foi luz na noite e sombra durante o dia na travessia do deserto. Esse Deus que lhes deu água tirada da rocha e o pão caído do céu com o orvalho da madrugada, agora manifesta todo o seu amor, fazendo Aliança no Sinai. Ele não dá os mandamentos para oprimir o povo. Os mandamentos são o manual de instruções para conquistar a liberdade e garantir a felicidade, a serenidade e a paz social entre os remidos.

A Aliança do Sinai é o contexto em que os mandamentos nos são dados como fonte de uma nova vida, tanto à comunidade como às pessoas. São as dez palavras, os dez mandamentos. Somente no contexto da nova Aliança, na chamada economia da graça, encontraremos forças para realizar a nossa plena vocação.

Este código de Aliança é outorgado para que Israel saiba como conduzir seus passos e conviver com o Deus Libertador, tanto no caminho até a terra prometida, como na instalação nas cidades e terras conquistadas pela mão do Senhor. Para os que procuram cumprir os Mandamentos a misericórdia é incomparavelmente maior do que a justiça pela qual é castigado o que rompe a Aliança. Deus é realmente o Pai das misericórdias.

II. “A Lei do Senhor é perfeita, conforto para alma” (Sl 18,8)
Consola-nos muito a leitura do Salmo 18. Este salmo é um grande louvor à perfeição da Lei, à maravilha do amor misericordioso do Deus da Aliança. Os mandamentos da Lei de Deus não são preceitos que visam oprimir a condição humana ao sabor dos caprichos de um Deus cruel, como os deuses das mitologias de vários povos. Não, eles são antes um conforto para a alma. Certamente o amor de Deus é exigente, porque o Deus da Aliança é um Deus ciumento. Mas precisamente por ser exigente, a Lei, os seus preceitos nos impelem a uma alegria sem par. Vivendo segundo ela, somos purificados de todo o prurido de idolatria e superstição, de toda a injustiça. Então o Justo Juiz nos faz apreciar a beleza da Sua justiça e  saborear a magnificência com que a aplica, com que nos leva à salvação. Mais doce do que o mel, diz o salmista, mais doce do que o mel dos favos. Eis porque é especialmente recomendada a contemplação da Palavra de Deus na Quaresma: as palavras do Senhor são mais doces do que o mel, desde que o nosso paladar espiritual não esteja enfermiço a ponto de nos amargar até o que é doce.

É belo pensar que a Palavra é Cristo. O Verbo de Deus se fez carne. Quem não conhece as Escrituras, não conhece Jesus, o Cristo. por isso nos aproximamos da Santa Palavra para conhecer, amar e servir com alegria aquele que já não nos chama servos, mas amigos.

III. “Nós pregamos Cristo Crucificado, escândalo para os judeus e insensatez para os pagãos” (I Cor 1,23).
O amor exigente de Deus não nos deixa ao sabor dos nossos caprichos. Deus nos amou apaixonadamente, como que “perdeu a cabeça por nós”. Desde antes da criação do mundo ele nos amou, nos predestinou a sermos santos e imaculados diante dele no amor. Tamanha a sua loucura de amor que enviou seu Filho Unigênito para assumir a nossa natureza humana, carregar sobre si o peso da nossa miséria e pagar o caro preço da nossa redenção. Eu valho o sangue de Cristo derramando na Cruz. Pelo Seu sangue derramado na Cruz, fui resgatado da morte, e elevado à condição de filho de Deus em Cristo pelas águas do Batismo. Pedra de tropeço para os judeus, insensatez para os gregos, para nós é sabedoria e poder de Deus.

Por isso, pregar um Cristo sem Cruz, é pregar um evangelho tão inútil como um “placebo” para os enfermos. Aliás pior, é como acrescentar remédios venenosos para uma enfermidade terminal. Nós pregamos Cristo, e Cristo crucificado.

IV. “Destruí esse templo e eu o reedificarei em três dias” (Jo 2,19)
Há uma sutileza da língua portuguesa que nos permite perceber o que Jesus disse e a insensatez dos judeus que não a percebem. Jesus disse “este” templo referindo-se ao seu corpo, não disse “esse” templo com intenção de referir-se ao Templo que mais tarde seria destruído pelos romanos.

O templo que Deus quis como “casa de oração de todos os povos”, não apenas para os judeus, expressava a vocação de Israel a um testemunho da universalidade do amor de Deus  tantas vezes sublinhada na primeira Aliança. Este templo tinha um “átrio dos gentios”, um primeiro saguão até onde os incircuncisos podiam entrar e orar. Este átrio era o lugar onde a humanidade toda era esperada para falar com Deus e haurir dos favores do Deus de Israel.

Os vendilhões do Templo eram vendedores de animais a serem oferecidos em sacrifício. Não era desonesto fornecer as vítimas aos oferentes para que fizessem seus atos de culto, sacrifícios pacíficos e holocaustos. Mas eles acabaram por ocupar o lugar dos gentios, impedindo que o templo cumprisse sua finalidade. Só Jesus, oferecendo-se como oblação viva, vai romper o muro que separa os judeus dos gentios. O muro que separa o átrio dos gentios do lugar em que podiam entrar e orar os judeus.

E diz: “Não façais da casa de meu Pai uma casa de comércio” (Jo 2, 16). A palavra grega do Evangelho para indicar a casa de comércio é “empório”. Até o átrio dos gentios devia ser casa de oração, não devia ser convertido em um empório. E por isso Jesus está disposto a se entregar.

O sinal que pedem os judeus para creditar autoridade de expulsar os vendilhões é o sinal de ressurreição: “Destruí este templo e eu o reconstruirei em três dias”. Os próprios discípulos somente após a ressurreição se lembrarão disso e acreditarão.

O Zelo de tua casa me consome. Jesus é Deus e homem verdadeiro. É o mesmo Deus ciumento que se consome pela casa de Deus. Não apenas pelo templo de pedra, que ele sempre reverenciou e ao qual acorria. O templo do qual é ciumento é a nossa casa, a nossa alma. Ele bate à porte e quer entrar e fazer o banquete pascal em nossa vida. O Cordeiro pascal é Ele mesmo que esta chegando a Jerusalém para a Páscoa. Ele será imolado e se tornará para nós o Pão vivo descido do Céu,

A Nova e eterna Aliança é ainda mais doce e suave do que a primeira. Jesus veio por mim e por você. Ele é a nossa vida nova. Nele encontramos a fonte da misericórdia que jorra para a vida eterna. Adoremos o Senhor, renunciemos ao pecado, acolhamos o poder de Cristo sobre a nossa morte e com Ele ressurgiremos.

Diocese de Itumbiara
Diocese de Itumbiarahttps://diocesedeitumbiara.com.br/
A Diocese de Itumbiara foi criada no dia 11 de outubro de 1966, pelo Papa Paulo VI, desmembrada da Arquidiocese de Goiânia; seu território é de 21.208,9 km², população de 286.148 habitantes (IBGE 2010). A diocese conta 26 paróquias, com sede episcopal na cidade de Itumbiara-GO.

Últimas notícias