InícioArtigosA Mesa da Palavra - 17º Domingo do Tempo Comum

A Mesa da Palavra – 17º Domingo do Tempo Comum

Autor

Data

Categoria

A MESA DA PALAVRA
Dom José Aparecido Gonçalves de Almeida
XVII DOMINGO DO TEMPO COMUM
Itumbiara, 28 de julho de 2024

“Recolheram e preencheram doze cestos… ” (Jo 6,13)

Diletos irmãos no Senhor,
I. “… que usemos de tal modo os bens temporais que possamos aderir desde já aos bens
eternos” (Coleta).

É uma graça imensa poder participar do sacrifício eucarístico. E, de fato, a Eucaristia
é memorial perpétuo da paixão do Filho de Deus, em virtude do Espírito, que transforma as
nossas ofertas no Corpo de Jesus, nos dá a possibilidade de compartilhar o pão vivo descido do Céu, na Mesa do Senhor, nosso irmão e Salvador. O mesmo Espírito nos sugere a oração filial ao Pai.

Diante desses dons os bens terrenos se encontram justamente colocados: devem ser
usados sabiamente, mas sem que atrapalhem a continua busca dos bens eternos. Antes não nos devem faltar a prontidão para toda renúncia em vista de ganhar o Reino de Deus, que é o tesouro escondido e a pérola preciosa.

A coleta de hoje nos ajuda a compreender o poder de Deus que toma os nossos pobres
bens temporais, os multiplica e preanuncia a profusão dos bens celestes. “Ó Deus, amparo
dos que em vós esperam, sem vós nada tem valor, nada é santo. Multiplicai em nós a vossa
misericórdia para que, conduzidos por vós usemos agora de tal modo os bens temporais que possamos aderir desde já aos bens eternos” (Coleta). [Esta oração é uma perola da tradição litúrgica romana. Provém da combinação de textos extraídos de sacramentários da metade do primeiro milênio (Gregoriano paduense e Leoniano) com o Missal de 1494. Seguindo a tradição bíblica (cf Sal 17,31), em que o salmista declara que Deus “protector est omnium sperantium in se”, a Igreja invoca Deus como “amparo dos que em vós esperam” (“protector in te sperantium”); Ele é a nossa força e a nossa esperança.

Caros irmãos, é exigente a nossa oração e forte a palavra que o Senhor dirige hoje aos
nossos corações. Antes de nos saciarmos do Pão do Céu, saboreemos melhor o que nos foi
oferecido na Mesa da Palavra. Saborear, ruminar a Palavra de Deus é já delícia para os nossos corações.

II. “Dá ao povo para que coma; pois assim diz o Senhor: ‘Comerão e ainda sobrará’” (2Rs
4,43)

Ao nos confrontarmos com a primeira leitura, do segundo livro dos Reis, nos
perguntamos se a nossa esperança está no Senhor como estava a confiança do profeta Eliseu.

Ante a fome das cem pessoas que estavam ao seu redor, Eliseu não faz caso da exiguidade
dos pães de cevada e trigo novo, primícias oferecidas por Baal-Salisà. Não se preocupa com a escassa quantidade de pães. Confiado no poder de Deus, ele simplesmente diz: “Dá ao povo para que coma”.

O servo reage ante a ordem aparentemente irrazoável: “Como vou distribuir tão pouco
para cem pessoas?”. Eliseu, quase que irritado responde com firmeza: “Dá ao povo para que coma; pois assim diz o Senhor: ‘Comerão e ainda sobrará”.

O autor sagrado deixa registrada a seguinte observação: “O homem distribuiu e ainda
sobrou, conforme a palavra do Senhor”. Não aparecem gestos mágicos ou mirabolantes,
orações imperiosas sobre a vontade de Deus. Simplesmente a confiança do profeta na
prontidão amorosa do Deus a quem serve.

O salmista nos ensina a contemplar a criação e a dizer: “Que as vossas obras vos
glorifiquem, ó Senhor”.

III. «Tomou os pães e deu graças. Em seguida, distribuiu-os a quantos estavam sentados»
(Jo 6, 11)

Neste domingo do ano B, a liturgia prevê como página evangélica o início do capítulo
6 de João, que contém primeiro o milagre dos pães — quando Jesus deu de comer a milhares de pessoas com apenas cinco pães e dois peixes—; depois, o outro prodígio do Senhor que caminha sobre as águas do lago em tempestade; e enfim o discurso em que Ele se revela como “o pão da vida”.

A multiplicação, a partilha dos pães narrada por João é ainda mais maravilhosa do que
a realizada no tempo do profeta Eliseu porque o próprio Jesus a realiza apontando para o
banquete do Reino. Este ato de partilha não é apenas um milagre material, mas uma
antecipação da Eucaristia. Dando aos apóstolos a graça de pregustar o dom da Eucaristia e,
com ela, de participar já aqui na terra das delícias do banquete celeste. Santo Agostinho
comenta: “Quem pode ser o pão do céu, senão Cristo? Mas para que o homem pudesse comer o pão dos anjos, o Senhor dos anjos fez-se homem. Se isto não se tivesse realizado, não teríamos o seu corpo; sem termos o corpo que lhe é próprio, não comeríamos o pão do altar” (Sermão 130, 27).

Bento XVI, no ângelus de 26 de julho de 2009, assim comenta este sinal de amor. Dado
pelo nosso divino redentor: “Narrando o “sinal” dos pães, o Evangelista sublinha que Cristo,
antes de os distribuir, abençoou-os com uma prece de ação de graças (cf. v. 11). O verbo
grego é eucharistein e remete diretamente para a narração da Última Ceia em que, com efeito, João não menciona a instituição da Eucaristia, mas sim o lava-pés. Aqui, a Eucaristia é como que antecipada no grande sinal do pão da vida. Nós, sacerdotes, podemos refletir-nos neste texto joanino, identificando-nos nos Apóstolos, quando dizem: onde poderemos encontrar o pão para toda esta multidão? E ao lermos sobre aquele jovem anónimo que dispõe de cinco pães de centeio e dois peixes, também nós dizemos espontaneamente: mas o que é isto para tamanha multidão? Com outras palavras: o que sou eu? Como posso, com os meus limites, ajudar Jesus na sua missão?”. Na sequência do comentário, Bento XVI diz que é o Senhor que nos mostra que, ao colocarmos nas suas mãos “santas e veneráveis” o pouco que temos, Ele é capaz de multiplicar e fazer com que sejamos instrumentos de salvação para muitos7. E o dizia especialmente em relação aos sacerdotes, que se tornam assim instrumentos de salvação para muitos, para todos! A Eucaristia é para o cristão o lugar do grande encontro com Deus, até que Cristo venha.

O milagre de Eliseu fica obnubilado. Um milagre fruto da fé de um profeta da antiga
Aliança, alimenta cem pessoas com vinte pães. Jesus, na sequência dos sinais messiânicos,
multiplica cinco pães e dois peixes para uma multidão de cinco mil homens. Sacia-os e manda recolher o que sobrou: doze cestos de pães. A exclamação dos presentes – “este homem é verdadeiramente o Profeta”. Mostra a grandeza do sinal e da fé que suscitou.
Fica bem evidente que Jesus não queria ostentar poder, mas foi movido por amor. De
fato, nota o evangelista, após realizar o sinal, “Jesus, percebendo que pretendiam levá-lo para fazê-lo rei, retirou-se outra vez, sozinho para o monte” (Jo 6,15). Efetivamente, Jesus não é um rei terreno que exerce o domínio, mas um rei que serve, que se debruça sobre o homem para saciar não apenas a fome material, mas sobretudo a fome mais profunda, a fome de orientação, de sentido e de verdade, a fome de Deus.

Dois pormenores nos ajudam a entender bem o texto evangélico. O primeiro é o fato
de que Jesus se serve de seus apóstolos para distribuir o pão a grupos sentados na relva. Trata-se de uma manifestação da sua vontade de distribuir os seus dons através dos ministros a quem ele confiará o poder de dividir o pão do céu e os tesouros da Palavra.

O segundo pormenor é o fato de que Jesus se preocupa não apenas em ensinar. Ele olha
para a pobreza do seu povo e se comove, se compadece. Por esta razão a missão da Igreja
também se realiza através da promoção humana integral. A Igreja, espelhando-se no seu
Senhor, atua também para que jamais falte a ninguém o pão necessário para uma vida digna e sejam abatidas as desigualdades não com as armas da violência, mas com a partilha e o amor.

Nesse sentido, a nossa correspondência ao chamado de Deus para o serviço da mesa
do Senhor tem também um reflexo em nosso compromisso com a justiça social e o bem
comum. A Doutrina Social da Igreja nos ensina que a busca pelo Reino de Deus passa pela
promoção de uma sociedade mais justa e fraterna, onde a dignidade de cada pessoa é
respeitada e os bens da criação são partilhados com equidade. E isso será levado em conta
quando o Senhor vier em Sua glória para julgar os vivos e os mortos (cf. Mt 25,3-46).
IV. “Eu, prisioneiro no Senhor, vos exorto a caminhardes de acordo com a vocação que
recebestes” (Ef 4,1).

A exortação a nos comportarmos de maneira digna da nossa vocação que recebemos,
com toda humildade, doçura e magnanimidade, suportando-nos uns aos outros no amor exige que busquemos nossa força na graça do Senhor. A razão profunda apresentada por Paulo para este amor paciente é a íntima unidade que nos constitui e que se expressa na Eucaristia celebrada, adorada e comungada. É um imperativo do coração do discípulo de Cristo “conservar a unidade do Espírito por meio do vínculo da paz.

Toda divisão entre nós comprometeria a unidade da Igreja e desmentiria todo o
mistério de amor que os constitui. A divisão é sempre ofensa ao Pai, ao Filho e ao Espírito
Santo, é ofensa à Igreja, corpo de Cristo.

Nesse sentido o sacerdócio ministerial dos bispos e presbíteros é um ministério de
unidade, que se materializa na comunhão de fé, de sacramentos e de governo da Igreja na
caridade. A Eucaristia é a razão de ser do ministério sacerdotal, é fonte e cume de toda a vida da Igreja. Por isso a leitura da carta aos efésios nos impele a insistir pela oração pelas
vocações. Para que o Senhor no-las conceda como dom, as preserve com sua graça, santifique os chamados ao sacerdócio e, por meio deles, santifique os que chama a ser santos e apóstolos.

Agora, com o coração voltado para o próximo sábado, quando o nosso querido irmão,
o Diácono Vinícius, será ordenado padre pela imposição das minhas mãos para continuar aqui nesta igreja peregrina no sul goiano o ministério confiado por Jesus aos apóstolos.
Ele se colocará no serviço de amor que é apascentar o rebanho de Cristo na mesa da
Palavra e na Mesa do Pão. É chamado a viver os mandamentos que ensinará aos demais.
Somente com a confiança em um só Deus e Pai, nosso amparo e proteção, é que
podemos nos entregar a Deus para exercer o serviço da Palavra e do Altar.

Peço que elevem ações de Graças ao Senhor pela vocação de Vinícius e rezem pela
sua fidelidade ao dom que vai receber em favor da nossa igreja diocesana.
Concluo esta reflexão com uma oração tirada do Missal italiano, do XVII domingo do
tempo comum, que expressa o sentimento dessa comunidade diocesana ao celebrar a Páscoa dominical.

“Ó Pai, que na Pascoa dominical nos chamais a compartilhar o pão vivo descido do
céu, ajudai-nos a repartir na caridade de Cristo também o nosso pão terreno, para que seja
saciada toda forme do corpo e do espírito”.

Diocese de Itumbiara
Diocese de Itumbiarahttps://diocesedeitumbiara.com.br/
A Diocese de Itumbiara foi criada no dia 11 de outubro de 1966, pelo Papa Paulo VI, desmembrada da Arquidiocese de Goiânia; seu território é de 21.208,9 km², população de 286.148 habitantes (IBGE 2010). A diocese conta 26 paróquias, com sede episcopal na cidade de Itumbiara-GO.

Últimas notícias