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A Mesa da Palavra – 10º Domingo do Tempo Comum “No Senhor toda graça e redenção” – Ano B

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“No Senhor toda graça e redenção” Caríssimos amigos, I. A Igreja está em oração nesta nossa catedral dedicada a Deus em honra de Santa Rita de Cássia. Com a intercessão da Santa das causas impossíveis suplicamos ao bom Deus que nos ouça. Sem Deus á impossível reencontrar a harmonia existencial perdida quando do pecado dos primeiros pais. “Ó Deus, fonte de todo o bem, atendei ao nosso apelo e fazei-nos, por vossa inspiração, pensar o que é certo e a realizá-lo com a vossa ajuda” (Oração Coleta X Domingo).

A súplica desta coleta é rezada na liturgia católica desde os primeiros séculos, fixada já no século V no Sacramentário do Papa Gelásio (sec V ou VI), retomado na editio princeps “Missalis romani” Mediolani a.D. 1474), permanecendo no V domingo da Páscoa do Missal Romano até 1962 (Missal com as rubricas de João XXIII). Agora o mesmo texto, traduzido literalmente do latim, orienta a oração da Igreja no X Domingo do tempo comum. Ela pede graças que nos ajudem a vencer as fragilidades que acompanham a nossa natureza humana decaída desde o pecado das origens.

Com o pecado original originante, ocorrido em priscas eras, os primeiros pais ficaram privados da amizade com o Criador e dos dons que acompanhavam a justiça original. Assim, deixaram como herança às gerações vindouras o pecado original originado, isto é, a privação dos dons preternaturais e da graça santificante, que deixamos de receber porque os perdemos em Adão e Eva. Mas como isto se dá? A Igreja nos ensina que “o gênero humano é, em Adão, «sicut unum corpus unius hominis – como um só corpo dum único homem». Em virtude desta «unidade do gênero humano», todos os homens estão implicados no pecado de Adão, do mesmo modo que todos estão implicados na justificação de Cristo” (Catecismo 404). No contexto do plano originário de Deus, da sua peculiar relação com a criatura humana, é que se compreende em profundidade a malícia do pecado. Por isso, somente quem conhece a graça em Cristo é que pode conhecer o pecado em Adão.

II. “… porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e a dela!” (Gn 3,15).

Dentre os efeitos do pecado original, conta também o embotamento do intelecto humano, que somente mediante esforços árduos consegue chegar ao conhecimento do verdadeiro bem.

Na coleta, cuja origem se perde nas brumas do tempo, nas fontes da tradição litúrgica católica, a Igreja orante suplica a Deus, fonte de todo bem, que nos faça cogitar as coisas retas, nos permita conhecer com a inspiração do Espírito Santo o que é bom e nos ajude com sua graça a percorrer o caminho da realização do bem conhecido como tal. O Catecismo da Igreja Católica nos ensina que, depois do pecado das origens, “a harmonia na qual estavam [os primeiros pais], estabelecida graças à justiça original, está destruída; o domínio das faculdades espirituais da alma sobre o corpo é rompido; a união entre o homem e a mulher é submetida a tensões; suas relações serão marcadas pela cupidez e pela dominação”. Não somente a harmonia interior e a harmonia com os irmãos ficou ferida. Entre Adão e Eva nota-se a confusão e a oposição trazidas pelo pecado. O espírito de contenda manifestou-se não apenas entre eles, mas também em relação ao próprio Deus. O fratricídio cometido por Caim, já é consequência do pecado. Também a harmonia com a criação está rompida: “a criação visível tornou-se para o homem estranha e hostil”. São Paulo, escrevendo à comunidade de Roma, dizia que por causa do homem, a criação está submetida “à servidão da corrupção” (cf. Rm 8,20).

Por converso, é bonito constatar que na narração sagrada, Deus manifesta seu amor e sua pedagogia. Ele se comporta como se de nada soubesse, mal esconde o seu intuito de provocar a confissão da culpa que precede o perdão. Contudo, ao não obtê-la, Deus declara o castigo, a consequência da ruptura com Deus decidida pelo homem e a mulher, que cedem à sedução da serpente antiga.

Diante desse panorama desolador, a liturgia católica nos dá na sua oração mais solene uma vibrante certeza de consolação e esperança. Precisamente ao celebrar o mistério da redenção, na liturgia eucarística, no texto da Anáfora IV a Igreja assim reza: “Nós proclamamos a vossa grandeza, Pai santo, a sabedoria e o amor com que fizestes todas as coisas. Criastes o ser humano à vossa imagem e lhe confiastes todo o universo para que, servindo somente a vós, seu Criador, cuidasse de toda a criatura”. Até aqui a vocação humana a viver na perfeita harmonia da graça benfazeja. Mas, prossegue a Igreja constatando a desolação do pecado: “E quanto pela desobediência perdeu a vossa amizade, não o abandonastes ao poder da morte”. Deus não nos abandona nunca, mesmo quando somos nós a abandoná-lo. E seguimos rezando assim: “A todos, porém, socorrestes com misericórdia, para que, ao procurar-vos, vos encontrassem”. Como fármaco de imortalidade, na plenitude dos tempos nos enviou Jesus para ser o nosso salvador.

Assim na economia da graça, com a copiosa redenção oferecida por Jesus, plenamente conhecida na força do Espírito Santo, nossas mentes embotadas se tornam claras pela sabedoria comunicada, nossos corações se tornam capazes de amar a ponto de dar a vida pelos irmãos. Com a inspiração de Deus somos capazes de conhecer a verdade que salva e desejá-la como sumo bem. Com o auxílio da graça de Deus nos tornamos capazes de amar como Jesus nos amou, de nos querermos bem e de adorarmos o verdadeiro Deus e Senhor. Tudo isto está sintetizado na oração coleta e na oração pós-comunhão.

Deus não desiste de nós!

III. “Quem faz a vontade de Deus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe” (Mc 3,35)

Marcos conta duas coisas que parecem desconexas. A visão obscurecida dos parentes de Jesus, que desconfiavam da sua sanidade mental, e o juízo entenebrado dos Escribas, que já o tinham condenado antes mesmo de o ouvirem. O embotamento do intelecto dos parentes e dos escribas tinham como objetivo interceptar a pregação de Jesus. Marcos, porém, escreve este Evangelho alguns decênios após a ascensão de Jesus. Ele vai buscar no passado a raiz dos sofrimentos da Igreja na época em que ele escrevia. Os parentes de Jesus, a partir de “Tiago, irmão do Senhor”, dominavam a Igreja de Jerusalém e deram origem a um grupo chamado dos judaizantes que estava persuadido de que os pagãos só se tornariam cristãos se passassem primeiro pelo judaísmo, pela circuncisão. O peso da tradição judaica era muito forte em Jerusalém e para os sequazes de Tiago, os judaizantes. Pedro e Paulo, bem como as comunidades por eles evangelizadas, sofreram assédio dos judaizantes.

As comunidades contemporâneas viam naquela atitude dos parentes para com Jesus a raiz do comportamento dos parentes de Jesus que não acolhiam os discípulos salvos nas águas do batismo, mas sem a circuncisão. Daí o discurso sobre quem é irmão, irmã ou mãe de Jesus. Os vínculos de sangue não são garantia da fidelidade ao evangelho. O nepotismo, mesmo dos parentes de Jesus, nunca foi garantia de que se fazia na Igreja a vontade de Deus. É verdadeiramente irmão ou irmã ou mãe quem acolhe a Palavra, quem faz a vontade de Deus. A Virgem Maria já tinha antecipado a sua fidelidade: “Eis a serva do Senhor. Faça-se em mim segundo a tua Palavra”.

Mas os escribas dão claro sinal do embotamento da consciência e da perversão da vontade. Não conseguiam viam a obra de Deus na ação de Jesus e estavam armados de ódio pelo influxo da Boa Nova sobre o povo. A Igreja perseguida no tempo em que Marcos escreveu, sofre a exclusão da sinagoga, torna-se religio non licita, passa a ser perseguida de diversos modos pelos judeus e pelos romanos.

Aqui aparece a blasfêmia contra o Espírito Santo, pecado que impede a força da graça salvífica de atuar nas pessoas e nas comunidades: “Todo pecado, toda blasfêmia será perdoada aos homens, mas a blasfêmia contra o Espírito não será perdoada” (Mt 12,31). Acusar Jesus de expulsar os demônios em virtude de Beelzebu é atribuir ao demônio uma obra que é claramente de Deus. A lógica da unidade também vale para o mal. Se a unidade na busca do bem é comunhão, a unidade na busca do mal é cumplicidade ou formação de quadrilha… Todo reino dividido contra si mesmo fica desolado. Jesus repreende duramente os escribas e deixa nos deixa uma exortação a manter a unidade acolhendo a sua Palavra.

Contudo, assim nos lembra o Catecismo da Igreja Católica: “A misericórdia de Deus não tem limites, mas quem se recusa deliberadamente a acolher a misericórdia de Deus pelo arrependimento rejeita o perdão de seus pecados e a salvação oferecida pelo Espírito Santo. Semelhante endurecimento pode levar à impenitência final e à perdição eterna” (Catecismo, 1864). Empedernimento, desespero, abuso da misericórdia… tantas formas de rejeição da ação salvífica de Deus.

Somente abraçando a vida na graça é que podemos começar um caminho de superação dos efeitos nefastos do pecado em nós. Procurando viver na graça, ganhamos uma inteligência casta (livre de preconceitos) iluminada pelo dom da sabedoria; um coração puro, capaz de amar como o Senhor ama, e de abraçar os ensinamentos de Jesus, mesmo os mais árduos.

IV. “Por isso não desanimamos!” (2Cor 4,16).

A segunda leitura deste X domingo do tempo comum nos estimula e exorta a ficar firmes na esperança. O demônio, o pecado e a morte estão vencidos pela Cruz do Senhor. “Mesmo se o nosso homem exterior se vai arruinando, o nosso homem interior, pelo contrário, vai-se renovando, dia a dia” (2Cor 4,16). O nosso combate é um combate permanente, que requer uma iluminação do intelecto para aprender o que devemos saber e o bem que devemos querer, para encontrar a salvação e chegar ao conhecimento da Verdade. As feridas deixadas pelo pecado das origens não destrói a bondade da natureza humana, embora a torne frágil e incapaz de se salvar sem a ajuda da graça. A Mãe Igreja nos dá todos os dias na mesa da Palavra alimento sólido para o intelecto; nutre-nos todos os dias na mesa Eucarística da força da graça, cura-nos na reconciliação, conforta-nos na unidade da qual ela mesma, a Igreja é sacramento universal.

Embora tenhamos consciência da nossa caducidade, sabemos que, “se a tenda em que moramos neste mundo for destruída, Deus nos dá uma outra morada no céu que não é obra de mãos humanas, mas que é eterna” (2Cor 5,1).

Que a Virgem Mãe da Esperança nos envolva com a sua poderosa intercessão e a nossa Padroeira seja sinal de indefectível esperança enquanto perseverarmos na busca da vontade do Senhor.

Diocese de Itumbiara
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A Diocese de Itumbiara foi criada no dia 11 de outubro de 1966, pelo Papa Paulo VI, desmembrada da Arquidiocese de Goiânia; seu território é de 21.208,9 km², população de 286.148 habitantes (IBGE 2010). A diocese conta 26 paróquias, com sede episcopal na cidade de Itumbiara-GO.

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