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“O Dia Nacional do Povo Cigano trata-se de uma conquista que serve para rememorar as lutas”, afirma dom José Edson

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Nesta terça-feira, 24 de maio, a Igreja celebra o Dia Nacional do Povo Cigano. Trata-se, segundo o bispo referencial da Pastoral dos Nômades do Brasil, dom José Edson Santana de Oliveira, de uma conquista que serve para rememorar as lutas, os desafios realizados pelo povo cigano ao longo dessa caminhada.

“O povo cigano é protagonista de sua própria história, apresentando ao mundo suas tradições, a sua cidadania, a aquisição dos direitos sociais, políticos, a conquista de sua presença no espaço democrático”.

Já a Cristina Garcia, diretora executiva da Pastoral dos Nômades, afirmou que o dia de hoje é importante por ser um povo rico na sua cultura, porém muito discriminado.

“É um povo que caminha na Graça de Deus”, salientou.

Em carta divulgada pela Pastoral dos Nômades e assinada pelo coordenador da Pastoral na diocese de Cajazeiras, Cícero Pereira, diz-se que o dia foi instituído para “recordarmos a contribuição cultural, religiosa e empreendedora que este povo tem com a história de nosso país”.

Confira a carta na íntegra (AQUI).

Conheça a Pastoral dos Nômades no Brasil: https://pastoraldosnomades.org.br/

Entrevista com agente da Pastoral dos Nômades

O portal da CNBB publicou, em 2018, uma entrevista com o cigano Jucelho Dantas da Cruz. Agente da Pastoral dos Nômades e membro do Conselho Fiscal da Pastoral, Jucelho é professor na Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), na Bahia.

Na entrevista falou sobre as conquistas da etnia cigana, a interação entre os diversos grupos ciganos e a atuação da Pastoral dos Nômades no Brasil. Confira:

Quais as conquistas que a etnia cigana obteve nesta década?

Jucelho – A luta pela Igualdade racial no mundo é muito recente ainda (pós-guerra). Se para a sociedade de um modo geral essa luta foi e é muito difícil, imaginem para um povo que além de carregar o estigma de serem pessoas ruins, ainda viviam em constantes mudanças. Mal tinham tempo de se defender das acusações de roubo, assassinato, entre outras coisas. No Brasil e no mundo, a situação ainda é a de que basta ser cigano para ser culpado ou suspeito.

Jucélio (de blusa listrada), sua esposa e seus dois filhos. Crédito: Arquivo Pessoal/Jucelho Dantas

Os ciganos já sofreram perseguições históricas. Na Holanda, durante o século XVI foram publicados editais que permitiam punir os ciganos pelo simples fato de serem ciganos, mesmo sem terem cometido crime algum. Era comum os açoites em praças públicas, marcação com ferro quente, corte de partes do nariz ou das orelhas, tudo isto sempre seguido pelo banimento perpétuo da cidade ou província. Em outros países, a perseguição aos ciganos foram similares. Na Suíça podiam ser caçados legalmente pelo menos desde 1580 e um decreto da cidade de Berna, de 1646, autorizava qualquer pessoa a matar ciganos. Metade da população cigana do mundo foi dizimada pelo regime nazista. Foram escravizados por mais de 400 anos na região onde hoje corresponde a Romênia e seus vizinhos. Na Eslováquia, as ciganas mesmo jovens estão sendo esterilizadas sem a devida autorização.

Presentes no Brasil desde o inicio do século XVI, os ciganos já chegaram ao Brasil Colônia como forma de punição pelo modo de vida que fugia ao padrão estabelecido pela sociedade européia da época. Aqui sofreram perseguições constantes e eram obrigados a estarem sempre em movimento, seja pelas expulsões ou para explorar um outro setor comercial quando aquele já estava esgotado. A partir do final da década de 80, com a promulgação da Constituição Federal, que coincide com o período de intensificação do processo de sedentarização dos ciganos no Brasil, as primeiras conquistas foram amenizando o processo de exclusão social, uma vez que eles passaram a ocupar espaços antes vazios como escolas, representações em conselhos, congressos, audiências públicas, etc. Já no século XXI, com a inclusão dos ciganos entre os Povos e Comunidades Tradicionais (PCT) e a criação do Dia Nacional do Cigano, os ciganos foram colocados em um patamar de igualdade com uma significativa parcela da sociedade brasileira.

A interação entre os diversos grupos ciganos existe ou há uma primazia de alguns grupos?

Jucelho – Inicialmente é necessário esclarecer que os ciganos não formam um grupo homogêneo, muito embora a sociedade os considere como sendo um só. Eles estão divididos em três grupos: Rom, Sinte e Calon. Os primeiros estão mais concentrados na região Sul e Sudeste do país, falam o romaní e estão subdivididos em várias etnias como os Kalderash, Matchuara, Lovara e Tchurara. Os Sinte é um grupo pequeno que fala o Sintó, são mais reservados e têm pouca interação com os demais ciganos e se concentram nas regiões Sul e Sudeste, e por fim, o grupo Calon que são os mais numerosos, falam a Chibe, estão mais concentrados no Nordeste e foram os pioneiros na ocupação do Brasil (1574) enquanto os outros dois grupos vieram à partir do século XIX.

Comunidade cigana. Crédito: Arquivo Pessoal/Jucelho Dantas

A interação entre os principais grupos de ciganos sempre foi um pouco conturbada pois a exemplo do que ocorre de forma velada entre a população brasileira – quando uns discriminam os outros pela sua origem e região ou pelos bens que possui -, entre os ciganos isto também ocorre inclusive com uns acusando os outros de não serem ciganos verdadeiros. O fato é que existia pouca aproximação entre estes grupos mas, nas últimas décadas, estas diferenças estão sendo deixadas de lado pelo bem comum, principalmente quando envolve as políticas públicas. Este estreitamento entre as relações tem contribuído para que arestas sejam quebradas e a solidariedade prevaleça.

Os ciganos sempre sofreram com preconceitos. Eles também têm preconceito em relação à mulher, sexualidade ou religião? Como você avalia?

Jucelho – Este é um defeito da humanidade como um todo. Em quase toda a sociedade há um preconceito explícito ou não em relação uns aos outros. O machismo, a intolerância religiosa entre muitas outras formas de preconceitos. Os ciganos não são nenhum santo. Uns são bons outros não, uns são preconceituosos outros não.

Muitas vezes a forma de se proteger dos ciganos pode ser interpretada como preconceito contra os não ciganos (jurons). Mas temos que entender que estivemos e estamos sendo julgados, perseguidos por crimes que não cometemos. Repito, não somos santos, mas quando você é tratado com indiferença termina criando uma espécie de escudo que muitas vezes é confundido como preconceito. O modelo de família predominante entre os ciganos é patriarcal e ao homem é dada a condição de provedor do lar enquanto as mulheres são responsáveis pela criação dos filhos, administração doméstica e zelar pela unidade familiar. Eu particularmente não gosto muito desta divisão mas respeito como sendo algo tradicional dentro da família cigana. 

Comunidade Cigana. Crédito: Arquivo Pessoal/Jucelho Dantas

Como você vê a atuação da Pastoral dos Nômades do Brasil nos grupos ciganos?

Conheci a Pastoral há aproximadamente 10 anos e, desde então, tenho tido demonstração de amor e respeito a causa cigana. São padres, bispos e religiosos que têm dedicado uma parcela significativa de suas vidas na luta pelo Povo Cigano. Não citarei nomes para não cometer injustiças mas são pessoas que para além da religião buscam cidadania e inclusão social para os nômades. Em todas as famílias ciganas estes voluntários são recebidos como verdadeiros amigos. A eles todo nosso amor, respeito e gratidão.

Os ciganos, na sua maioria, fazem parte do mundo dos excluídos. Como você avalia a atuação da Igreja em geral, em relação aos ciganos? 

Na verdade a Igreja ainda não desenvolve tudo o que seria possível fazer em prol dos ciganos. Historicamente ela nunca teve um olhar carinhoso com os ciganos. Reforçou os estereótipos à cerca destes e muitas vezes atuou como forte perseguidora pois não aceitava a forma como vivíamos. Atualmente, em pleno século XXI, ainda enfrentamos preconceito e discriminação por parte da Igreja pois nem mesmo quando o presidente da Pastoral recomenda este olhar carinhoso conosco encontra uma boa recepção de algumas paróquias. 

Crianças ciganas. Crédito: Arquivo Pessoal/Jucelho Dantas

Os ciganos são carentes de atenção por parte das autoridades e principalmente do carinho daqueles que, aqui entre nós, representam a maior proximidade com Deus. Não é por acaso que muitas Igrejas Evangélicas estão conquistando a adesão em massa dos ciganos brasileiros. Os Pastores estão se aproximando e convertendo os ciganos que, muitas vezes, por carência de atenção ou espiritual tornam-se alvos fáceis desta conquista.

Em relação à Constituição Federal, apesar de não estarmos citados diretamente nas questões dos direitos civis, esta nos abrange em vários de seus artigos muito embora, de um modo geral, ela seja desrespeitada freqüentemente principalmente pelos políticos que a elaboraram.

Na sociedade em geral, há preconceitos em relação aos ciganos. Respeitando as culturas e os direitos, como fazer a interação?

Jucelho – Diz o ditado que “a ignorância gera medo, que gera preconceito e alimenta a discriminação”. Os ciganos viveram durante séculos mudando de lugar em lugar sem ter a chance muitas vezes de se fazer conhecer ou conhecer as pessoas destas localidades. Tomadas pela desconfiança alimentada pelo ouvi dizer que os ciganos são isto ou aquilo, não era dada a chance deles se estabelecerem e poder estreitar estes laços de amizade. O preconceito aumentava mais ainda quando na imprensa em geral as manchetes noticiavam que, não o indivíduo tal com RG tal ou CPF tal cometeu tal delito, mas que o cigano o cometeu. Não era de se esperar que a sociedade viesse a abraçar os ciganos. Tudo isto ainda é valido para a atualidade, mas a sedentarização dos ciganos tem facilitado uma maior interação entre estes e a sociedade, eles ascenderam economicamente e participam ativamente da vida públicas das cidades, são vereadores, professores, advogados, engenheiros ou trabalhadores autônomos que aos poucos estão sendo aceitos pelos “jurons” e vice-versa.

Fonte: CNBB

Diocese de Itumbiara
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A Diocese de Itumbiara foi criada no dia 11 de outubro de 1966, pelo Papa Paulo VI, desmembrada da Arquidiocese de Goiânia; seu território é de 21.208,9 km², população de 286.148 habitantes (IBGE 2010). A diocese conta 26 paróquias, com sede episcopal na cidade de Itumbiara-GO.

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