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A Igreja, discipulado e missão

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Quando falamos de Discipulado e Missão, lembramos sempre, além do decreto do Concílio Vaticano II sobre a atividade missionário da Igreja Ad gentes, a perspectiva apresentada pelo Documento de Aparecida (2007), fruto da V Conferência Geral do Episcopado Latino-americano e caribenho, realizada em 2007, com a abertura do Papa Bento XVI.

A missão da Igreja é acolher a ação do Espírito Santo no mundo, tornando a vida de Jesus Cristo evento vivo e dinâmico na história e na Igreja como comunidade de homens e mulheres. A ação do Espírito Santo nos coloca em comunhão com o Pai e na graça da filiação divina, proporcionando a vivência da fraternidade e da amizade entre as pessoas, entre as instituições e as nações. Tudo isso é um grande desafio, especialmente hoje, o que requer coragem e ousadia. Mas, tão necessário e urgente se faz para a vida da Igreja.

A Igreja missionária é uma das tantas definições de Igreja que hoje usamos. A Igreja é definida como “Povo de Deus”, “Corpo místico de Cristo”, “Sacramento de salvação”, “Una, santa, católica e apostólica”, “Católica Apostólica Romana”. Mas, todas essas definições estão englobadas naquela que a define como “missionária”. De fato, desde a criação ou antes da fundação do mundo, como diz São Paulo, na Carta aos Efésios, Deus nos escolheu em Cristo. Essa escolha ou predestinação nos coloca diante de um desejo ou projeto ou desígnio de Deus: o de reunir todos os homens e todas as mulheres, suas criaturas, no seu coração amoroso de Pai. Para essa reunião Ele envia Jesus Cristo, seu único Filho: “quando chegou a plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher…” (Gl 4,4). O envio de Jesus Cristo, que a teologia chama de “missão do Filho”, foi precedido da ação de Deus junto ao povo de Israel. O povo de Israel foi prefiguração da Igreja conforme nos diz a Constituição dogmática sobre a Igreja Lumen gentium, do Concilio Vaticano II: “E, aos que creem em Cristo, [O Pai] decidiu chamá-los à santa Igreja, a qual, prefigurada já desde o princípio do mundo e admiravelmente preparada na história do povo de Israel e na Antiga Aliança” (LG 2). A história do povo de Israel, testificada no Antigo Testamento, é toda ela envolvida em uma missão: os patriarcas, os juízes, os reis, os profetas, os sábios, todos eles tinham uma missão dada pelo Deus de Abraão, de Isaac e de Jacó. Até João Batista a missão era de preparar os caminhos do Senhor, preparação que celebramos de modo especial no “advento”.

Com a vinda de Jesus começa a sua missão. A missão de Jesus envolve pessoas, que são destinatárias também dos benefícios dessa missão. Antes de Jesus nascer, a sua missão envolve Zacarias, Isabel, João Batista, Maria, José, Simeão, Ana. A missão deles é de colaborar na missão de Jesus. A Virgem Maria tem uma colaboração particular: ela foi escolhida para ser a mãe de Jesus. Em Maria vemos algo de profundo e de valiosa importância para o significado de missão: Maria não é escolhida para uma função, para uma aventura, para um trabalho remunerado e depois é despedida, demitida ou que Deus a dispensa após ter realizado o que queria. Missão significa algo permanente. Deus chama para uma vida com Ele. Essa é a missão. Vida e missão estão juntas.

Discípulos e missionários, esse é o novo nome dos católicos. Diz o Documento de Aparecida: Esta V Conferência se propõe “a grande tarefa de proteger e alimentar a fé do povo de Deus e recordar também aos fiéis deste Continente que, em virtude de seu batismo, são chamados a ser discípulos e missionários de Jesus Cristo”. Essa é a vocação de toda Igreja: ser missionária. Mas, lembremos: “Discipulado e missão são como as duas faces da mesma moeda: quando o discípulo está apaixonado por Cristo, não pode deixar de anunciar ao mundo que só Ele nos salva” (DA 146).

Dom Jaime Vieira Rocha
Arcebispo de Natal (RN)

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