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Cristo nasceu para nós: vinde adoremos! – A Mesa da Palavra – Natal do Senhor – Missa da Noite Ano B

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A MESA DA PALAVRA
Dom José Aparecido Gonçalves de Almeida
Natal do Senhor – Missa da Noite Ano B
24 de dezembro de 2023

CRISTO NASCEU PARA NÓS: VINDE ADOREMOS!

Caros amigos,

I. “Exultemos de alegria no Senhor, porque nasceu na terra o nosso Salvador. Hoje desceu do Céu sobre nós a verdadeira paz” (Intróito).

Hoje o Senhor Deus faz resplandecer esta noite santíssima com a claridade da verdadeira luz. É a noite que conhece o mistério do nascimento do Senhor.

Hoje, esta celebração começou com o canto das Kalendas, logo após o ato penitencial que preparou em nosso coração contrito e humilhado os caminhos do Senhor. Pudemos assim repassar a memoria dos acontecimentos que precederam a vinda do Senhor na humildade da nossa carne humana.

Hoje voltamos a cantar o Glória a Deus nas alturas, o glória cantado pelos anjos diante do Menino Deus. Glória in excelsis Deo, canto bíblico enriquecido pela Igreja num belíssimo hino, primeiro do Natal, depois estendido para todas as festas litúrgicas. Uma letra antiquíssima que inspirou muitos compositores com músicas que comovem o coração.

Hoje, se cumpre a profecia de Isaías, proclamada na primeira leitura: “O povo que andava nas trevas viu uma grande luz; para aqueles que habitavam nas sombras da morte uma luz começou a brilhar” (Is 9,2). Este belíssimo trecho, tirado do chamado “Livro do Emanuel” – capítulos 7 a 12 de Isaías – abre os horizontes da esperança para o futuro de Israel. Ante as sombrias ameaças de guerra e de tribulação, o profeta diz a Deus: “Hoje multiplicastes a sua alegria, aumentastes o seu contentamento”. O povo envolto na turbulência, na iminência de várias guerras e sem esperança, rejubila na presença de Deus. A comparação é bem ao gosto do homem simples do campo: “como os que se alegram no tempo da colheita”. Mas também suscita coragem ao gosto dos combatentes militares premiados com a vitória: “como exultam os que repartem despojos”.

Hoje o profeta ensina que não são as alianças humanas que garantem a paz e a justiça tão desejadas por todos. Somente a suspirada vinda do Messias garante a esperança de novos tempos, de alegria e de paz duradouras.

Nesta Noite Santa nasce para nós um Menino! Este Menino é o Conselheiro admirável, Deus forte, Pai dos tempos futuros, é Ele o Príncipe da Paz. Séculos depois o Anjo do Senhor anuncia aos pastores que estavam entre as ovelhas nos campos não longe de onde estavam Maria, José e o Menino: “Não temais, porque vos anuncio uma grande alegria para todo o povo: nasceu-vos hoje, na cidade de Davi, um Salvador, que é Cristo Senhor” (Lc 2,10-11).

Esta Noite Santa que O vê nascer nos aponta para aquela outra Noite Santa que O verá ressuscitar de entre os mortos. No nascimento Jesus sai misteriosamente do ventre virginal de Maria; na Páscoa, ele sairá do ventre da terra, do sepulcro virginal que lhe dariam. Só Ela vive tal mistério. Todos nós beneficiamos dele e recebemos graça sobre graça.

II. O admirabile commercium! Creator generis humani, animatum corpus sumens, largitus est nobis suam Deitatem: Ó admirável intercâmbio! O Criador do gênero humano nos apresenta sua divindade ao tomar um corpo.

Hoje Ele toma um corpo semelhante ao nosso, para nos revelar porque nos fez à sua imagem e semelhança, e com o objetivo de caminhar conosco, de experimentar a condição humana (cf. Fl 2,6s), para que fosse possível que experimentássemos a condição divina ou que compreendêssemos que este é o nosso fim, o sentido de nossa existência.
Precisamente porque a natureza humana que Cristo assumiu manteve sua identidade de criatura, a própria natureza humana foi erguida a uma condição mais elevada.

Hoje todos regozijamos na presença do Deus feito homem. «Ele é o homem perfeito, que restitui aos filhos de Adão a semelhança divina, deformada desde o primeiro pecado. Já que n’Ele a natureza humana foi assumida, sem ter sido destruída, por isso mesmo também em nosso benefício ela foi elevada a uma dignidade sublime» (GS 22).

Hoje, em Jesus, se abate o jugo que oprimia o povo: a alegria reina soberana e luminosa sobre as trevas da noite, sobre o pecado e toda forma de opressão social e existencial.

Hoje exultamos de alegria porque o Senhor Jesus vem como semente de uma nova humanidade. «Na realidade, só no mistério do Verbo Encarnado se esclarece verdadeira-mente o mistério do homem. Adão, de fato, o primeiro homem, era figura do futuro (Rom 5, 14), isto é, de Cristo Senhor. Cristo, que é o novo Adão, na própria revelação do mistério do Pai e do seu Amor, revela também plenamente o homem ao mesmo homem e descobre-lhe a sua vocação sublime» (GS 22).

Sim, caros amigos, nestes dias, vamos muitas vezes orar diante do Presépio. Lá encontramos o “Menino recém-nascido – o Filho de Deus humanado –, envolto em panos e deitado numa manjedoura” (Lc 2,12). Sim é a nossa humanidade que o Verbo de Deus assume e resgata para Deus. A fé da Igreja nutre em nós a convicção de que o Deus invisível, desconhecido, criador de tudo, amou tanto a humanidade que se tornou um homem como nós. Ao encarnar-se em Jesus, no ventre virginal de Maria Santíssima, ele quis partilhar a própria vida com a de cada homem. E isso sem que a nossa natureza frágil e contraditória fosse submersa ou aniquilada, mas plenamente realizada.

III. “A graça de Deus se manifestou trazendo a salvação para todos nós” (Tt 2,11)
Caros amigos, este Jesus que nos revela a nossa própria dignidade, nós O depomos no Presépio com os mesmos sentimentos de São José e da Virgem Maria. Ele Se fez nosso irmão, sem deixar de ser nosso Deus.

Ao depor a imagem do Menino no presépio, a Igreja exultante convoca seus filhos para ir a Belém adorá-lO.  “Adeste fideles / Laeti triumphantes / Venite, venite in Bethlehem. / Natum videte / Regem angelorum” (Comparecei, ó fiéis felizes e triunfantes. Vinde, vinde para Belém. Vede nascido o Rei dos Anjos) e segue o refrão “Venite adoremus, venite adoremos / Venite adoremus Dominum” (Ó vinde adoremos, ó vinde adoremos, ó vinde adoremos ao Senhor).

E vamos adorá-lO ao lado dos pastores, que após o anúncio do Anjo do Senhor acorreram para o presépio. “En, grege relicto, fideles / humiles ad cunas fideles / Vocati pastores fideles / adproperant fideles / Et nos ovanti gradu festinemus” (Eis que, tendo deixado o rebanho, os humildes pastores, convocados se aproximam. Também nós caminhando com alegria nos apressemos em vir). Apressemo-nos a chegar antes dos pastores, bem antes dos Magos do Oriente. Acomodemo-nos com as criaturas que lá estavam quando chegaram José e Maria. É precisamente o encontro com a humildade de Deus que se transforma em júbilo: a sua bondade gera a verdadeira festa.

“Hoje, quem entra na igreja da Natividade de Jesus em Belém dá-se conta de que o portal de outrora com cinco metros e meio de altura, por onde entravam no edifício os imperadores e os califas, foi em grande parte tapado, tendo ficado apenas uma entrada com um metro e meio de altura. Provavelmente isso foi feito com a intenção de proteger melhor a igreja contra eventuais assaltos, mas sobretudo para evitar que se entrasse a cavalo na casa de Deus. Quem deseja entrar no lugar do nascimento de Jesus deve inclinar-se. Parece-me que nisto se encerra uma verdade mais profunda, pela qual nos queremos deixar tocar nesta noite santa: se quisermos encontrar Deus manifestado como Menino, então devemos descer do cavalo da nossa razão «iluminada». Devemos depor as nossas falsas certezas, a nossa soberba intelectual, que nos impede de perceber a proximidade de Deus. Devemos seguir o caminho interior de São Francisco: o caminho rumo àquela extrema simplicidade exterior e interior que torna o coração capaz de ver. Devemos inclinar-nos, caminhar espiritualmente por assim dizer a pé, para podermos entrar pelo portal da fé e encontrar o Deus que é diferente dos nossos preconceitos e das nossas opiniões: o Deus que Se esconde na humildade dum menino acabado de nascer” (Bento XVI, Homilia, Noite de Natal de 2011).

Nesta noite, despertos para a festa de grande alegria, veremos o Esplendor eterno do Eterno Pai velado sob a forma humana. Hoje, olhando para o presépio, somos convidados à humilde imitação do Senhor.

Contemplando este mistério de alegria reconheçamos a nossa dignidade e decidamos a caminhar em novidade de vida. Abandonemos a impiedade e as paixões mundanas, aprendamos “a viver neste mundo com equilíbrio, justiça e piedade, aguardando a feliz esperança e a manifestação da glória do nosso grande Deus e Salvador, Jesus Cristo (Tt 2,12-13).

Caros amigos, reunidos aqui nesta Santa Igreja Catedral, celebremos com solene simplicidade a liturgia desta Noite santa. Renunciemos a fixarmo-nos no que é material, mensurável e palpável. Deixemo-nos fazer simples por aquele Deus que Se manifesta ao coração que se tornou simples. E nesta hora rezemos também e sobretudo por todos aqueles que são obrigados a viver o Natal na pobreza, no sofrimento, na condição de refugiados, de guerra, pedindo que se lhes manifeste a bondade de Deus no seu esplendor, que nos toque a todos, a eles e a nós, aquela bondade que Deus quis, com o nascimento de seu Filho no estábulo, trazer ao mundo. Amém.

 

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A Diocese de Itumbiara foi criada no dia 11 de outubro de 1966, pelo Papa Paulo VI, desmembrada da Arquidiocese de Goiânia; seu território é de 21.208,9 km², população de 286.148 habitantes (IBGE 2010). A diocese conta 26 paróquias, com sede episcopal na cidade de Itumbiara-GO.

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