A Palavra de Deus, do penúltimo domingo do Ano Litúrgico, (Provérbios 31, Salmo 127, 1 Tessalonicenses 5,1-6 e Mateus 25,14-30) convida à vigilância e à responsabilidade enquanto esperamos a volta do Senhor. O tema da vigilância, da volta do Senhor, do juízo divino está presente nos últimos domingos do ano litúrgico. Através da parábola dos talentos Jesus conduz o ensinamento aos seus discípulos. O “talento” era uma antiga moeda e também um peso romano de grande valor.
Um provérbio popular diz: “quem não arrisca não petisca”. Quem não é ousado, não age e não corre riscos perde a oportunidade de alcançar o que deseja. Correr riscos é da natureza humana, pois estimula a curiosidade, propõe à aventura, alimenta o gosto por descobertas. Arriscar-se é a atitude positiva que se opõe à acomodação e ao imobilismo. A parábola dos talentos revela que o primeiro que se arrisca é Deus. Cria o homem com liberdade, com iniciativa e deseja fazer aliança com ele. Confia ao homem grandes valores na esperança de vê-los multiplicados.
A parábola começa contando a história de um “homem” que viaja para o estrangeiro. A característica deste homem é ter confiança nas pessoas e por isso lhes confia a administração dos bens. Arrisca acreditando que os administradores seriam capazes de multiplicarem o que receberam. A distribuição dos bens é diferenciada e o motivo é que “cada um recebeu de acordo com a sua capacidade”. Isto revela que ele conhece bem seus empregados e é respeitoso com as suas capacidades. Há um respeito com a pessoa. Nem todos podem suportar a mesma carga, nem todos têm a mesma força para administrar situações complexas e adversas. Quando se sobrecarrega alguém com algo que não suporta, pode cair em depressão, ficar desorientado e cansar sob a responsabilidade que foi lhe confiada. Deus conhece as condições de cada um e por isso confia e espera de acordo com as possibilidades individuais. Na parábola a pessoa está no centro do interesse e não o talento que lhe é confiado. Ela têm condições de exprimir-se ao máximo e da melhor forma. Quando os empregados vem prestar contas fica evidente que são tratados conforme o que lhes foi confiado.
A parábola continua contando que “depois de muito tempo” o homem, agora denominado patrão, volta e pede contas. Os dois primeiros se empenharam na administração dos talentos recebidos e se apresentam com o resultado. Ambos são elogiados da mesma forma: “Muito bem, servo bom e fiel”. Não são elogiados pela capacidade de empreendedorismo, mas pela bondade e fidelidade. Isto aumenta a confiança do patrão neles que lhes confia mais e faz um convite: “Vem participar da minha alegria”. O terceiro preferiu “cavar um buraco na terra, e escondeu o dinheiro”. No diálogo começa atacando. “Senhor, sei que és um homem severo, pois colhes onde não plantaste e ceifas onde não semeaste”. Acusação não corresponde com a verdade. Ele havia recebido o talento, tinha tempo para usá-lo. Mas o sentimento de medo o fez paralisar e bloquear as possíveis iniciativas. A resposta do patrão também é negativa e dura: “servo mau e preguiçoso!”
Quais são os talentos que Deus confiou aos discípulos e hoje a nós? A título de exemplo: a Palavra de Deus, o Batismo, a Eucaristia, a oração do Pai-Nosso, o seu perdão, o convite para uma vida fraterna. Em síntese, foi-nos confiado o Reino de Deus, que é Ele mesmo, presente e vivo no meio de nós. Este conjunto de bens espirituais que Deus confia aos homens revela a confiança nas suas criaturas, na esperança de torná-los “bons e fiéis”.
Dom Rodolfo Luís Weber
Arcebispo de Passo Fundo (RS)